Revista de Medicina Desportiva Informa Setembro 2019 | Page 16

judo as localizações mais frequentes de lesões graves, isto é, aquelas que obrigam a maior tempo de paragem da prática desportiva e recuperação mais prolongada, ocorrem no joelho (28%), seguindo-se as lesões dos ombros (22%). Revelou também uma incidência importante de lesões da mão e dedos (30%), a maioria como consequência da luta de pegas, classificando-as, no entanto, como lesões ligeiras. 22 Mecanismos de lesão Ser projetado parece ser a causa mais frequente de lesão no judo, contribuindo para quase 70% dos casos reportados de lesão, incluindo as lesões mais graves. 12 Uma técnica de queda menos aprimorada por parte do judoca que é projetado ou o uso impróprio de uma técnica de projeção pelo atacante estão asso- ciados ao aumento da probabilidade de ocorrência de lesão. 12,23,24 1. Joelho As estruturas mais frequente- mente lesadas ao nível do joelho são o ligamento cruzado anterior (LCA) e o ligamento colateral medial (LCM). 25 As lesões isoladas do LCM são características de movimentos em valgo excessivo do joelho, cau- sado frequentemente por uma força lateral no joelho que corresponde ao membro inferior do oponente. 26 As lesões do LCA, isoladas ou associa- das a lesão de outras estruturas do complexo articular do joelho, cor- respondem a 5.6% do total de lesões associadas ao judo. 27 Num estudo, que avalia os mecanismos lesionais responsáveis pelas roturas do LCA em judocas, foram entrevistados 43 atletas que sofreram rotura do LCA em competição ou no treino. Os autores identificaram um nível sig- nificativamente superior de lesões em atletas que apresentavam estilos de pegas diferentes (65%) em com- paração com adversários com estilos de pegas similares (35%). 27 Além disso, concluíram também como fator de risco a suscetibilidade de ser contra-atacado. Verificaram que os 8 casos de roturas do LCA ocorreram por movimentos de contra-ataque e todos apresentavam oponentes com estilos de pega distintos. 27 Ser submetido às técnicas de projeção de osoto-gari, principalmente, e por harai-gochi e kosoto-gari (Figura 2), secundariamente, foram as técnicas mais frequentemente associadas a rotura do LCA. 27 Na fase preparatória da técnica de osoto-gari, o judoca que ataca procura mover o centro de massa do adversário no sentido medial- -lateral, resultando na transferência do peso corporal para apenas um dos membros inferiores. 28 Na fase de projeção, o movimento em valgo excessivo combinado com as forças rotacionais infligidas no joelho do adversário, podem estar na génese da lesão (Figura 2). 28 Nas roturas do LCA dos atletas que atacam, Koshida et al. 27 verificaram que 83% dos casos ocorreram no seguimento da execução da técnica tai-otoshi (Figura 2). Nesta técnica, o atacante procura projetar o oponente colocando o seu membro inferior à frente das pernas do adversário e projetando-o na mesma direcção. 27,28 O mecanismo de lesão mais fre- quente é a combinação de movi- mento em valgo no sentido do tapete, associado a uma força descendente na face lateral do joelho causado pelo judoca projetado no momento do desequilíbrio (Figura 2). 27,28 2. Ombro e cotovelo As luxações da articulação glenou- meral ocorrem frequentemente no judo pela resistência à queda do atleta projetado, na tentativa de não cair de costas e perder automati- camente o combate, ocasionando queda com o ombro em flexão máxima ou próximo desta. 29 Por sua vez, as luxações da articulação acro- mioclavicular, da articulação ester- noclavicular e as fraturas da claví- cula resultam fundamentalmente Harai-goshi Osoto-gari Figura 2 – Algumas técnicas de projeção típicas do judo 28 14 setembro 2019 www.revdesportiva.pt de quedas laterais sobre o ombro. 29,30 As fraturas da clavícula ocorrem mais frequentemente em esqueletos imaturos, sendo mais comuns em crianças e adolescentes, enquanto as luxações ocorrem mais frequen- temente em adultos. 29,30 As luxações do cotovelo e as roturas do ligamento colateral medial do cotovelo têm origem habitualmente em erros na técnica defensiva contra técnicas de chave de braço (Figura 3) no combate no solo. 10,31 3. Região Lombar Okada et al 32 avaliaram 82 prati- cantes masculinos de judo, através de questionário para averiguar a ocorrência de dor lombar em judo- cas, tendo verificado prevalência de dor lombar inespecífica e anomalias radiológicas da mesma região em atletas japoneses em respetiva- mente 35.4% e 81.7% da amostra. Num estudo sobre espondilólise lombar em atletas de judo, Sakai et al. 33 revelaram maior propensão em judocas, em cerca de 20%, para este tipo de lesão. Também o trabalho de Sairyo et al 34 confirmou, através de uma análise biomecânica, a estreita relação entre espondilólise lombar e as cargas elevadas repetidas a nível lombar em movimentos de extensão e rotação do tronco, associados às habituais técnicas de projeção. 4. Cabeça e Pescoço Apesar de raras, as lesões da cabeça e do pescoço associadas à prática de judo podem ser muito graves, podendo resultar em morte ou em sequelas permanentes. 35 Aproximadamente 70% das lesões da cabeça ocorrem em atletas que são projetados principalmente pela técnica de osoto-gari (Figura 2). 35 O impacto violento com a cabeça no tapete é o principal responsável por lesões da cabeça e a condição mais diagnosticada é o hematoma subdu- ral. 35 Relativamente às lesões no pes- coço, ocorrem fundamentalmente em atletas que atacam com a técnica Tai-otoshi Uchi-mata