Revista de Medicina Desportiva Informa Setembro 2019 | Page 13

Discussão A carga mecânica da coluna do ginasta pode alcançar ou aproximar- -se dos limites da tolerância dos tecidos. A lesão ocorrerá quando esses limites forem excedidos, quer por falha traumática, quer por micro-trauma por repetições asso- ciadas à prática. 5 Os mecanismos de lesão mais fre- quentemente descritos são a flexão e a extensão extremas, a receção de saltos com carga imposta associada, as quedas, a lateralidade do ginasta e a carga de treino. Para diminuição de cargas de impacto na receção de saltos têm sido desenvolvidos diversos mecanismos, como colchões de queda, melhoria da superfície de impacto do solo de competição, assim como diversos mecanismos de segurança ao nível do treino para prevenir acidentes. 3 Com estes mecanismos de prevenção, a lesão traumática diminuiu e os estudos demonstram que atletas das seleções nacionais apresentam essencial- mente lesões de overuse comparati- vamente com a ginástica recreativa, a qual apresenta maior incidência de lesões traumáticas. Este facto poderá estar relacionado com o acesso a mais segurança no treino e também maior formação do treinador. 6 No que concerne à etiologia da lombalgia inespecífica, ela é mais frequentemente associada a dese- quilíbrios musculares e a gestos técnicos, seguida da doença dege- nerativa do disco, hérnia discal, contusão óssea, espondilólise e espondilolistese. 3 Assim, a avaliação médica do ginasta deverá incluir a história clínica completa, o exame objetivo detalhado e a avaliação com meios complementares de diagnóstico adequados para se excluir patologia mais complexa e se atribua o quadro Figura 1 – Programa de avaliação e treino de flexibilidade ombros e torácica Figura 2 – Programa de avaliação e treino de flexibilidade core e cintura pélvica clínico a interação entre a estru- tura e a função do tecido da região lombar, abrangendo osso, músculo, fáscia, nervo, sendo este sempre um diagnóstico de exclusão. 3 A lombalgia poderá também ser atribuída a combinação de desequi- líbrios estruturais, incluindo o défice de flexibilidade dos músculos qua- dricípite e isquiotibiais, e desequilí- brio entre os dois, e poderá também surgir associada a cifose torácica, hiperlordose lombar e fraca muscu- latura abdominal comparativamente às restantes cadeias. Por outro lado, estudos sugerem que a fáscia dor- solombar não acompanha o pico de crescimento das restantes estrutu- ras, criando um efeito compressivo, doloroso. 7 Em comparação com outros atletas, os ginastas apresentam flexibilidade músculo-esquelética, natural ou adquirida (trabalhada), que poderá resultar em desequilí- brio biomecânico entre diferentes estruturas e que pode ser agravado pela lateralidade naturalmente apresentada e potencialmente mais trabalhada. Comparativamente com outros desportos, os ginastas, os praticantes de natação sincro- nizada e os atletas de saltos para a água são os que apresentam mais flexibilidade, a qual, quando aliada a força, é fundamental para a agili- dade necessária à prática desportiva. Relativamente aos outros desportos, a flexibilidade natural do atleta pode ser prejudicial e está associada a mais lesões, sendo que estudos apontam que para estes atletas o alongamento, no fim ou início da sessão, pouco ou nenhum efeito terá na prevenção de lesões, ao contrário da população gímnica. 8,9 Para além do aumento de flexi- bilidade, alguns ginastas podem apresentar ainda um défice de estabilidade ao nível do core e da cintura pélvica, em particular dos músculos transverso abdominal, glúteo máximo e médio. 3,7 Esta dimi- nuição da força ou inibição muscu- lar associada aos músculos eretor da espinha, isquiotibiais, piriforme e tensor da fáscia lata excessivamente ativos, conduz a alterações biomecâ- nicas muitas vezes dolorosas. A avaliação da coluna do ginasta deve incluir a avaliação estática e funcional dirigida para a análise do Revista de Medicina Desportiva informa setembro 2019 · 11