Revista de Medicina Desportiva Informa Setembro 2019 | Page 26

Rev. Medicina Desportiva informa, 2019; 10(5):24-25. https://doi.org/10.23911/olho_vermelho_2019_9 O Olho Vermelho Agudo: uma Abordagem Simples e Prática Dr. Miguel Sousa Neves Médico Oftalmologista; Mestre em Gestão de Serviços de Saúde. Póvoa do Varzim O olho vermelho é relativa- mente frequente sendo geral- mente uma manifestação de inflamação ocular. No entanto, há situações potencialmente complexas que necessitam de uma abordagem por médico especializado. Esta revisão pretende enquadrar as várias causas de olho vermelho agudo numa escala de gravidade pro- vável para que os vários agentes, que direta ou indiretamente lidam com problemas de saúde, possam avaliar e decidir de uma forma minima- mente eficaz e eficiente. Como avaliar uma situação aguda? Perante um olho vermelho deve ser feita uma avaliação em que conste sumariamente: • a história pregressa • a natureza do desconforto • a presença ou ausência de secreções • o grau possível de visão • a condição geral do paciente • e se a condição é unilateral ou bilateral. Como decidir perante o olho vermelho agudo? Se há perda concomitante e sig- nificativa de visão e/ou reações Figura 1 – Hiperemia conjuntival em olho vermelho 24 setembro 2019 www.revdesportiva.pt pupilares anormais estaremos, em princípio, perante uma doença grave que obriga a referenciação urgente para oftalmologista. Nos casos mais graves e muito raros de glaucoma agudo de ângulo fechado haverá dor severa com baixa acentuada de visão, córnea (superfície central do olho) emba- ciada e pupila semi-dilatada e fixa. As inflamações com um potencial de gravidade variável, em que o paciente refere dor, fotofobia (sen- sibilidade aumentada à luz) e visão turva, para além de pupilas algumas vezes pequenas, poderão ser consi- deradas em alguns casos irites ou de uveítes. Aqui a inflamação é interna e aponta para um tecido especial, que se chama úvea, e tal como os outros acima mencionados, obriga a que o paciente seja enviado logo que possível para médicos especialistas. Também o olho vermelho com as características acima mencionadas pode apontar para úlceras de cór- nea, com destaque para utilizado- res de lentes de contacto, onde um tratamento precoce e bem orientado poderá evitar situações potencial- mente muito graves. Nas situações muito mais fre- quentes e menos graves, como as conjuntivites, a desfocagem será sempre mínima e secundária à acumulação de secreções, estando Figura 2 – Hemorragia subconjuntival Red Eyes in children: red flags and a case to learn 1 Uma criança de 4 anos de idade foi enviada a oftalmologia com o diagnóstico de conjuntivite com 4 meses de evolução. Medi- cada com colírio cloranfenicol, mas a sintomatologia estava a agravar-se. À chegada: olho muito vermelho, com visão muito baixa (20%),muitas secreções/ramelas, estrabismo convergente súbito e reflexo de luz anormal. Não foi possível um exame detalhado pois a criança tinha uma fotofo- bia intensa, dor, blefarospasmo acentuado (dificuldade em abrir o olho) e pálpebras com edema. Foi ao bloco operatório para exame sob sedação, o qual revelou úlcera extensa central da córnea até à periferia superior, com envolvimento estromal, embora a parte interna do olho não tivesse inflamação relevante. Quando foi revirada a pálpebra superior descobriu-se um pequeno corpo estranho encrostado na conjun- tiva palpebral, o qual foi facil- mente removido. Foi submetida a tratamento e após 2 meses tinha 80% de visão. É um caso atípico e se houvesse diagnóstico atempado a solução teria sido imediata e sem perdas de função visual. MSN. 1. Br J Gen Pract. Paul G Rainsbury et al, 2016; 66(653):633-634. a córnea transparente e os movi- mentos pupilares completamente normais. Nestes casos, não haverá urgência na referenciação, mas há que ter em conta que se a infeção for vírica a mesma poderá envolver pos- teriormente a córnea e causar alte- rações da mesma que necessitam de acompanhamento especializado. Há situações em que o olho verme- lho é acompanhado de inflamação concomitante da pálpebra, sendo importante distinguir entre um caso de blefarite, com exacerbações ocasionais e, portanto, uma história já com algum tempo de queixas de incómodo ocular, ou o aparecimento de um chalázio (inflamação da glân- dula ) / hordéolo (infeção da glân- dula) de caráter benigno, e aqueles