Revista de Medicina Desportiva Informa Setembro 2019 | Page 10
Association of Cardiorespiratory
Fitness With Long-term Mortality
Among Adults Undergoing
Exercise Treadmill Testing 1
Dr. Pedro Alexandre Conde
Gonçalves
Médico Interno de Formação
Específica em Medicina Geral
e Familiar na USF Saúde em
Família – ACeS Maia/Valongo;
Pós-graduado em Medicina
Desportiva pela FMUP
Resumo e Comentário
Durante os últimos anos surgiram
muitos programas de promoção da
atividade física e difundidos pelas
entidades competentes em articula-
ção com os agentes desportivos.
Estamos na era do exercício físico,
onde as expressões fitness e high
performance deixaram de ser desco-
nhecidas e são utilizadas no dia-a-dia
da população, especialmente na mais
jovem. Contudo, há ainda alguns
conceitos a esclarecer e ideias-chave
a transmitir no que diz respeito à
associação que é feita entre a prática
vigorosa de exercício físico e poten-
ciais efeitos adversos para o orga-
nismo. Para além disso, há ainda um
longo caminho a percorrer em
determinados grupos, nomeada-
mente na população idosa e nas
populações com patologias crónicas.
A aptidão cardiorrespiratória
(ACR) é a capacidade dos sistemas
circulatório e respiratório fornece-
rem oxigénio ao sistema musculoes-
quelético durante a atividade física
sustentada. Em 2016, a American
Heart Association publicou uma
recomendação onde referia que a
ACR deve ser categorizada como
um sinal vital e pesquisada regular-
mente na prática clínica em todos
os indivíduos. Os níveis elevados
de ACR estão associados à redução
de doença arterial coronária (DAC),
hipertensão arterial (HTA), diabetes
mellitus (DM), acidente vascular cere-
bral (AVC) e cancro.
Estudos prévios em indivíduos com
níveis de atividade física elevada des-
creveram eventos cardiovasculares
potencialmente adversos, incluindo o
aumento da incidência de fibrilhação
auricular, calcificação das artérias
coronárias, fibrose miocárdica e
dilatação da aorta, o que levantou
a hipótese de haver uma associa-
ção dose-resposta entre a ACR, o
aumento do risco cardiovascular (CV)
8 setembro 2019 www.revdesportiva.pt
e, consequentemente, o aumento da
taxa de mortalidade.
O estudo de Mandsager et al, publi-
cado no JAMA em 2018, contou com
um população de 122 007 indivíduos
adultos, que foram agrupados em
cinco categorias de aptidão física
(baixa, inferior à média, superior à
média, alta e elite) e submetidos a
uma prova de esforço, com o objetivo
de avaliar a associação entre diferen-
tes níveis de ACR e a mortalidade por
todas as causas. Os autores compa-
raram ainda o grupo de elite (ACR ≥ 2
desvios-padrão acima da média para
idade e sexo) com os outros grupos,
de modo a verificarem se existia um
limiar superior de ACR acima do qual
o risco de CV aumentava.
Os resultados do estudo foram ine-
quívocos: não houve limite superior
de benefício com o aumento da ACR,
sendo que os atletas de elite mostra-
ram redução superior na mortalidade
por todas as causas em comparação
com todos os outros grupos. A com-
paração direta entre o grupo de baixa
aptidão e o grupo de elite, constatou
que a redução do risco de mortali-
dade foi de 80% no grupo de elite.
Para além disso, também as taxas
de comorbilidades cardíacas e não
cardíacas (exceto a hiperlipidemia)
foram significativamente menores
em atletas de elite em comparação
com todos os outros grupos. O risco
de mortalidade ajustado à redução da
aptidão cardiorrespiratória foi maior
ou igual aos fatores de risco clínicos
tradicionais, como a DAC, a DM e o
tabagismo. Nos indivíduos idosos e
nos indivíduos com patologias cróni-
cas, como a HTA, ficou demonstrado
que quanto maior a ACR, maior é a
sobrevida. Em indivíduos com DAC
conhecida ou outras comorbilidades
cardíacas não há evidência de dano
em níveis extremos de aptidão física.
O presente estudo mostra a impor-
tância da prática regular de exercí-
cio físico aeróbio na população em
geral, pondo em evidência o papel da
aptidão cardiorrespiratória como um
poderoso e modificável indicador de
mortalidade a longo prazo. Uma vez
que baixos níveis de ACR são atual-
mente comparáveis aos fatores de
risco clínicos tradicionais, os profis-
sionais de saúde devem encorajar os
indivíduos a alcançar e a manterem
altos níveis de aptidão física para a
prevenção de patologias potencial-
mente fatais. O facto de não haver
limite de idade no que diz respeito à
aptidão física, demonstra a impor-
tância da prática regular de exercí-
cio em idosos, o que pode ajudar à
manutenção da sua autonomia nas
atividades de vida diária. Para além
disso, o aumento da ACR foi nota-
velmente benéfico nos indivíduos
hipertensos, o que reforça a impor-
tância das modificações no estilo de
vida como primeira abordagem às
patologias crónicas. Um dos maiores
obstáculos para o exercício físico é
a relutância do indivíduo sedentário
em iniciar a prática regular de exer-
cício físico. Neste caso, é importante
enfatizar que ganhos substanciais
em saúde podem ser alcançados com
aumentos relativamente modestos
na atividade física, de forma a moti-
var o indivíduo para a mudança.
1. Kyle Mandsager et al, JAMA Netw Open.
2018;1(6):e183605.