Revista de Medicina Desportiva Informa Setembro 2017 | Page 6

Para além do médico especialista de ortopedia , um papel importante fica assim também reservado aos profissionais de saúde da área da reabilitação ( fisiatras , fisioterapeutas , enfermeiros e mesmo treinadores pessoais ) que , pela relação próxima que também podem desenvolver com o doente , estão numa posição privilegiada para adotarem estratégias de intervenção , no sentido de o estimularem e motivarem para a prática de exercício físico regular .
Bibliografia
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Prof . Doutor Guilherme Macedo Diretor do Serviço de Gastrenterologia do Centro Hospitalar S . João ; Professor da Faculdade de Medicina do Porto
“ Síndrome gastrointestinal ” induzido pelo exercício : a propósito de uma recente revisão sistemática
Recentemente foi feita revisão sobre os aspetos fisiopatológicos e a correspondente relevância clínica dos sinais e sintomas gastrointestinais associados à prática do exercício físico . 1 Baseado na revisão da literatura publicada , o artigo foca-se no impacto da lesão do trato digestivo associada ao exercício nos fenómenos de alteração da permeabilidade , motilidade e absorção .
Estudos previamente publicados avançaram com dados relativos à incidência de sintomas digestivos associados ao exercício . No trabalho de Worobetz LJ 2 ( produzido em inquérito perante uma prova europeia de atletismo ) revelou uma prevalência de 81 % de sintomas digestivos entre os atletas . Um estudo mais recente baseado em inquérito a ultramaratonistas , publicado por Stuempfle KJ , documentou uma prevalência de 96 % ( a mais elevada entre os dados publicados ). 3 Estes dados sugerem uma possível relação entre a intensidade / duração do exercício e os efeitos clínicos no sistema digestivo . Este é um dos aspetos fundamentais abordados nesta revisão , ao contrário de trabalhos prévios de revisão focados na orientação clínica dos atletas com patologia digestiva 4 , 5 . De acordo com o trabalho , a “ síndrome gastrointestinal ” associado ao exercício físico pode ser subdividido nas suas manifestações em duas vias : alteração da resposta circulatória / vascular ( e consequente aumento da suscetibilidade a isquemia ) e nas respostas neuroendócrinas ( com hiperestimulação do sistema nervoso simpático ). Os fenómenos isquémicos são mediados maioritariamente pela diminuição do fluxo sanguíneo mesentérico induzida por hiperativação simpática e redução do óxido nítrico . Tal culmina no aumento da permeabilidade instestinal ( com endotoxinemia e diminuição da capacidade absortivas ), na expressão de mediadores pro-inflamatórios ( pela ativação da expressão do gene de NF-kB ) e na alteração do trânsito gastrointestinal ( orocecal e gastroduodenal ). A identificação da mediação molecular permite inferir novos biomarcadores capazes de otimizar o diagnóstico . Perante sintomas com provável origem cólica , o doseamento da calprotectina fecal e a pesquisa de sangue oculto podem ser capazes de identificar alterações inflamatórias / isquémicas decorrentes do exercício , conforme sugerido em alguns estudos ( de forma pouco robusta ). Tratam-se de ferramentas comumente usadas na pratica clínica em outros contextos ( p . e . no seguimento da doença inflamatória do intestino
- DII ). No entanto , denota-se a sua baixa especificidade , com necessidade de investigação de outros biomarcadores específicos do epitélio intestinal para esta situação clínica .
A “ síndrome gastrointestinal ” poderá ter efeitos deletérios mais acentuados em doentes com antecedentes de patologia gastrenterológica . Estudos prévios descrevem a prevalência de atividade física nos doentes com doença de Crohn apenas entre os 30-42 %. 6 A atividade física de alta competição / alta intensidade muitas vezes encontra-se limitada pelos sintomas da doença ( como artralgias ou fadiga ). Se por um lado , os indivíduos com DII têm um maior risco de desenvolvimento de endotoxinemia clinicamente significativa durante a atividade física , vários são os trabalhos que destacam a importância da atividade física regular no controlo de sintomas . Destaca-se o recente trabalho de Lykouras , D . que demonstra similaridade de função cardiopulmonar durante o exercício entre dois grupos de doentes : com doença clinicamente ativa ou clinicamente inativa . 7 Dados os benefícios provados do exercício moderado no controlo de sintomatologia na DII , estes pacientes devem ser impulsionados a manter atividade física regular .
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