Revista de Medicina Desportiva Informa Setembro 2017 | Page 5

O que andamos a ler Nesta rúbrica pretendemos dar notícia de artigos recentes ou que merecem ser (re)lidos e comentados. Será uma página aberta a todos os colegas que pretendam colaborar descrevendo ou comentando temas de medicina desportiva. Prof. Doutor Ovídio Costa Cardiologista. Faculdade de Medicina do Porto Prof. Doutor Manuel Gutierres Professor de Ortopedia da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto Comentário a artigo do Journal of Medicine & Science in Sports & Exercise Sedentary Behavior, Cadence and Physical Activity Outcomes after Knee Arthroplasty 1 Este artigo, publicado em 2017 na revista oficial do American College of Sports Medicine, e escrito por Sandra Webber, investigadora do College of Rehabilitation Sciences da Universidade de Manitoba, Canadá, compara os padrões de sedenta- rismo e atividade física de pacientes com artrose avançada do joelho, com os de aqueles submetidos a artroplastia total do joelho há apro- ximadamente um ano, concluindo que, embora os doentes refiram menos dor e apresentem melhor função após a cirurgia, o seu com- portamento sedentário não se altera, deixando-os em risco aumentado de virem a sofrer de obesidade, diabetes e doença cardiovascular. Com efeito, a alta prevalência da gonartrose no idoso e a incapacidade que esta habitualmente condiciona, faz do joelho a articulação mais vezes submetida a artroplastia total. Este procedimento resulta habi- tualmente numa melhoria clinica significativa. No entanto, alguns trabalhos recentes 2,3,4 têm chamado a atenção para a inexistência de melhoria significativa do nível de atividade física destes doentes, nomeadamente quando compa- rado com a população em geral do mesmo grupo etário. Estão descritas variadas formas de quantificação dos níveis de atividade física e comportamento sedentário através de processos de autoava- liação e mesmo de monitorização objetiva da atividade, com recurso a instrumentação especial, como os acelerómetros e pedómetros. Neste trabalho, os autores coloca- ram em prática um estudo, no qual uma amostra de participantes foi recrutada via telefone da lista de espera para cirurgia de artroplastia total do joelho (n=40) e outra da lista de doentes já operados há cerca de um ano (n=40). Como condições necessárias para participar definiram a inexistência de antecedentes de outra artroplastia e a manutenção de capacidade de marcha durante pelo menos três minutos. Os participantes foram avaliados através do questio- nário LASA (Longitudinal Aging Study Amsterdam) sobre o comportamento sedentário, de medições e da pesa- gem, para avaliação do índice de massa corporal, perímetro abdomi- nal, etc., e através da monitorização da sua atividade física com recurso aos instrumentos acima citados. Os resultados, após análise estatís- tica, revelaram não existirem diferen- ças significativas no comportamento sedentário entre o grupo de doentes em lista de espera e aquele operado há um ano. Além disso, ambos os grupos revelaram, nos parâmetros de atividade física avaliados, resultados inferiores aos da população em geral, o que representa sem dúvida um achado importante. Podemos encontrar algumas limi- tações neste estudo, como a hetero- geneidade dos participantes, o seu reduzido número ou a tendência que poderá existir no grupo pré-cirurgia para subestimar o tempo de seden- tarismo ou sobrestimar o nível de atividade. No entanto, existe uma certa consistência nos resultados obtidos, visto que não se afastam significativamente dos obtidos por outros autores, em avaliações destes parâmetros efetuados em doentes afetados por artrose do joelho. Aparentemente, este artigo não coloca em causa a utilidade da artroplastia total do joelho no trata- mento da gonartrose avançada, quer em termos de alívio da dor, quer em melhoria da função do joelho. Em minha opinião, as lições a tirar da sua leitura centram-se na neces- sidade de adotar estratégias, no período peri-operatório, para induzir alterações no estilo de vida dos doentes de forma a retirar o máximo benefício da cirurgia a que foram submetidos, diminuindo os níveis de sedentarismo, melhorando a sua qualidade geral de vida e atuando especificamente na prevenção da doença cardiovascular. Essas estraté- gias poderão passar por campanhas de sensibilização da população em geral para a prática de exercício físico ou programas de informação com folhetos ou palestras multi- disciplinares de esclarecimento a efetuar antes da cirurgia. Revista de Medicina Desportiva informa Setembro 2017 · 3