Revista de Medicina Desportiva Informa Setembro 2017 | Page 30

clínica , na recorrência e no grau de disfunção envolvida . 13 O sistema de classificação FEDS ( Frequency , Etiology , Direction , Severity ), descrito por Kuhn em 2010 , reduz a descrição da instabilidade aos parâmetros Frequência , Etiologia , Direção e gravidade tendo demonstrado boa variabilidade intra e inter-observador . 14
Episódio de luxação – apresentação clínica
A manifestação mais frequente da IGU em contexto desportivo é a luxação traumática anterior da articulação GU . É uma verdadeira urgência ortopédica devido às possíveis complicações neurovasculares e articulares associadas à incongruência articular . O principal mecanismo de trauma é a aplicação de uma força posterior no membro em extensão , abdução e rotação externa , deslocando a cabeça do úmero anterior e inferiormente à apófise coracoide . No contexto traumático agudo , o doente segura o membro afetado com a mão contralateral e objetiva-se limitação funcional severa , dor e deformidade ( vazio subacromial e tumefação deltopeitoral ) no ombro afetado ( Figura 1 ). 15 A avaliação inicial do doente com suspeita de luxação anterior do ombro consiste na avaliação neurovascular no membro afetado pelo risco de dano no nervo axilar , o mais frequente ( Figura 2 ), nervo radial , plexo braquial ou vasos axilares . 3 Deve ser iniciada analgesia
endovenosa e o doente deve ser colocado em posição confortável . Em nenhum momento devem ser tentadas manobras de redução previamente à realização de estudo imagiológico e de explicar ao doente o procedimento padrão de tratamento .
O estudo imagiológico inicial em contexto de urgência consiste na radiografia convencional com uma incidência ântero-posterior e uma incidência em perfil para confirmar a luxação GU . As incidências de perfil mais comuns são a axilar , em Y ou de Lamy , sendo esta última a preferida por evitar a mobilização do membro afetado . 15 A radiografia convencional é também o exame de escolha para confirmar a congruência articular após redução . A TC é o método de eleição para avaliar lesões concomitantes em contexto agudo ( fratura da grande tuberosidade , colo do úmero ou da superfície glenoideia e lesão óssea de Bankart ). 16
O tratamento padrão do episódio de luxação do ombro após redução bem sucedida e confirmada é a imobilização do membro em rotação interna ( existe ainda alguma polémica se a posição mais eficaz na prevenção de novos episódios deve ser em rotação interna ou externa ) durante três semanas com reabilitação muscular peri-articular precoce . 4 A idade , a demanda funcional do membro afetado , o desporto de alta competição e a altura da época em que ocorre a lesão são fatores determinantes na ponderação de um tratamento cirúrgico inicial . 17
Instabilidade recorrente – apresentação clínica
No doente que se apresenta em contexto eletivo , com IGU associada a múltiplos episódios de luxação ou com sensação de microinstabilidade , dois aspetos devem ser visados no estadiamento da instabilidade : a sensação de apreensão e a limitação funcional com impacto na performance desportiva . 17 A avaliação clínica analisa o impacto na atividade do membro , a presença de dor e de limitação no arco de mobilidade . Objetivamente , a presença do sinal do sulco e um teste de apreensão positivo são altamente preditivos de instabilidade significativa . 17 O caráter recidivante verificado em indivíduos jovens deve-se à hiperlaxidão de base , ao regresso precoce à atividade desportiva , à prática de modalidades de contacto , à realização ineficiente de reabilitação peri- -articular e a uma maior lesão capsuloligamentar no primeiro episódio de luxação . 18 A microinstabilidade resulta de traumatismos repetitivos e de baixa energia decorrentes de movimentos acima da cabeça e no limite do arco de mobilidade , verificando-se adicionalmente lesões associadas ( rotura do supra e do infra-espinhoso e rotura do labrum posterior e superior ). 19
O estudo complementar inicia- -se com radiografia convencional : três incidências ântero-posteriores ( membro em rotação interna , em neutro e em rotação externa ) e a incidência de perfil . 18 A TC permite a quantificação e o impacto das lesões ósseas associadas na instabilidade
Fig . 1 – Luxação traumática aguda do ombro esquerdo . O doente segura o membro afetado com a mão contralateral e visualiza-se uma deformidade evidente com vazio subacromial ( seta ) e tumefação deltopeitoral no ombro afetado , o esquerdo .
Fig . 2 – Potencial risco de lesão de nervos ( https :// www . physio-pedia . com / Shoulder _ Dislocation )
Fig . 3 – Artro-Rm do ombro . Visualiza-se perda óssea de aproximadamente 25 % do rebordo anterior da glenoide .
28 Setembro 2017 www . revdesportiva . pt