Revista de Medicina Desportiva Informa Setembro 2017 | Page 12
Rev. Medicina Desportiva informa, 2017, 8 (5), pp. 10–21
3. as Jornadas de Medicina
Desportiva do Rio Ave F C
03 de junho de 2017
Organização do evento e coordenação dos resumos: Dr. Basil Ribeiro
Tema 1: Patologia da
coluna vertebral
Moderador: Prof. Doutor António Oliveira
Diretor do Serviço de Ortopedia, Centro
Hospitalar do Porto
Espondilólise e
espondilolistese no atleta
jovem
Dr. Armando Campos
Serviço de Ortopedia do
Centro Hospitalar do Porto
A espondilolise/listesis é a causa
mais importante de lombalgia no
atleta jovem, atribuída a lesões ana-
tómicas. A espondilólise corresponde
a um defeito da pars interarticularis
de uma vértebra e a espondilolis-
tese corresponde ao deslizamento
de uma vértebra em relação a outra.
Estas lesões são comuns em atletas
que participam em desportos que
implicam hiperextensão da coluna,
como os ginastas. A incidência da
espondilose na raça caucasiana
10 Setembro 2017 www.revdesportiva.pt
está avaliada de 3-6%, sendo mais
prevalente em jovens atletas. Na lise
ístmica e na espondilolistese grau I
a progressão da listese é rara após
a maturidade óssea e, na literatura,
não está definido qual a progressão
considerada significativa. O estudo
de Frennered et al. verifica pro-
gressão superior ou igual a 20% em
apenas 4% com idade inferior a 16 e
com 7 anos de seguimento. Não foi
possível correlacionar a progressão
da listese com outras variáveis como
manutenção do desporto nem com
achados radiológicos, exceto com
a espinha bífida. Existe consenso
nos estudos publicados em que a
progressão ocorre predominante-
mente no surto de crescimento da
puberdade. Quando sintomático,
o atleta jovem refere lombalgia de
baixo grau, que é
exacerbada com
a hiperextensão
da coluna e por
atividades que
implicam atitudes
hiperlordóticas,
como a ginástica
e a natação. Pode
também referir
dor com o impacto
no solo (corrida e
salto) e diminui-
ção da flexibili-
dade da muscula-
tura posterior da
coxa. Pode tam-
bém ser consta-
tada uma postura
hiperlordótica
e contratura da
fáscia toracolombar. As alterações
neurológicas ou radiculopatia são
raras.
O diagnóstico faz-se com radio-
grafias convencionais quando é
visível o defeito da pars. O sinal
patognomónico scotty dog é visível
nas incidências oblíquas. Na fase
aguda/subaguda, a RMN pode reve-
lar precocemente sinais de lesão da
pars, com presença de edema ósseo.
Na literatura não existe consenso
quanto aos benefícios do tratamento
cirúrgico nestes doentes que são
muitas vezes atletas e não preten-
dem terminar a carreira ou dimi-
nuir a performance. A controvérsia
prolonga-se sobre qual a melhor
técnica cirúrgica. De facto, nos
poucos estudos publicados, verifica-
-se que a maioria defende o trata-
mento conservador que abrange o
repouso com interrupção temporária
do desporto e uso de ortótese até
seis meses, bem como a reabilitação
fisiátrica. A reparação óssea espon-
tânea pode ocorrer na espondilolise
em fase precoce e maioritariamente
com defeito unilateral da pars. No
entanto, os resultados clínicos e
Fig. Caso clinico (futebolista)
retorno às atividades não se corre-
lacionam com a consolidação óssea,
verificando-se bons a excelentes
resultados em 78-96% dos casos,
com 25-37% de reparação óssea.
A opção pelo tratamento cirúrgico
verifica-se, geralmente, nos casos
sintomáticos resistentes às atitudes
conservadoras, progressão da espon-
dilolistese ou alterações neurológi-
cas. Tem indicação a reconstrução
da pars nos casos sintomáticos que
pretendem manter o mesmo tipo de
atividade, reservando-se a artrodese
para os casos onde já existe uma
listese igual ou superior a II. Estão
descritas na literatura variadas téc-
nicas cirúrgicas para esta patologia,
com bons resultados clínicos globais,
continuando problemática a indi-
cação cirúrgica. Não existem linhas