Revista de Medicina Desportiva Informa Setembro 2017 | Page 23

jovens e em zonas periféricas , uma vez que o sucesso da sutura está fortemente influenciado pela presença de vascularização . Na tentativa de preservar ao máximo os meniscos , cada vez mais são tentadas suturas mesmo em zonas de menor vascularização , sendo , no entanto , de prever falência nesses casos . Outro fator a considerar é a necessidade de reconstrução concomitante do ligamento cruzado anterior , uma vez que nestes casos o prognóstico da sutura é muito superior .
O maior inconveniente da sutura meniscal é o maior tempo de recuperação ( cerca de quatro meses ) em comparação com a meniscectomia ( cerca de um mês ), mantendo risco importante de falência mesmo após esse período prolongado de suspensão da prática desportiva . Assim , na decisão da melhor opção de tratamento no atleta , para além dos fatores biológicos , terão de ser tidos em conta vários outros fatores – influência do treinador / empresário , fase da carreira , contrato ou época , entre outros .
Em doentes relativamente jovens após meniscectomias extensas , o transplante meniscal poderá ser considerado . No entanto , apesar do seu elevado custo , os meniscos sintéticos não têm apresentado bons resultados a longo prazo e alguns estudos apontam para que o transplante meniscal com aloenxerto possa despoletar uma reação imunológica que acelera a artrose . As matrizes celulares ( scaffolds ) estão a ser alvo de investigação e poderão constituir o futuro da substituição meniscal . Nos casos em que as alterações degenerativas predominam , outras medidas terapêuticas poderão ser associadas ( infiltração com corticoides , plasma rico em plaquetas , células mesenquimatosas ou viscossuplementação ), com resultados geralmente satisfatórios , mas muito variáveis de estudo para estudo . Ressalve-se que a infiltração com corticoides tem indicação esporádica nos casos de sinovite ou derrame persistente . Por fim , a sobrecarga resultante da meniscectomia geralmente evolui progressivamente para artrose . As osteotomias poderão ser realizadas nos casos de artrose unicompartimental com desvio axial , mas a artroplastia ( unicompartimental ou total ) acaba por ser o destino final de muitos dos joelhos meniscectomizados . Estas cirurgias só deverão ser consideradas após o término da carreira desportiva .
A patologia patelofemoral
Dr . Gonçalo Borges 2 , Dr . José Luís Carvalho 2
1
Hospital da Arrábida – Vila Nova de Gaia
2
Hospital da Prelada – Porto
A dor patelofemoral ( DPF ) ou síndrome da dor patelofemoral caracteriza-se por queixas álgicas localizadas à face anterior do joelho , de instalação insidiosa , exacerbada em condições de aumento do stress patelofemoral , nomeadamente em situações de squatting , subida de escadas e corrida . É um processo crónico de etiologia multidimensional . The 4 th International Patellofemoral Research Retreat definiu DPF como o termo mais adequado . Corresponde a 25 % das queixas de gonalgia em Medicina Desportiva , comum em jovens adolescentes ( prevalência de 7-28 % e incidência de 9.2 %) e mais comum nos corredores de fundo .
O clássico alinhamento rotuliano aberrante e maltracking corresponde a um fator de risco e não o factor de risco . Os fatores de risco anátomo- -funcionais conhecidos são o maltracking rotuliano e / ou hipermobilidade , fraqueza quadricipital , atraso na ativação do músculo vasto medial oblíquo ( VMO ) e inflexibilidade de tecidos moles ( quadricípite femoral , isquiotibiais , gastrocnémio e banda iliotibial ). Do ponto de vista de tecidos moles , a tensão excessiva nos restritores laterais do joelho está habitualmente implicada no maltracking rotuliano . A disfunção por tensão excessiva / encurtamento da banda iliotibial também resulta num tracking rotuliano aberrante e aumento de stress lateral na patelofemoral . O défice de flexibilidade do quadricípite femoral , isquiotibiais e gastrocnémio são fatores de risco . Em cadeia cinética fechada , todo o membro inferior influi no movimento e padrões de stress da patelofemoral . A biomecânica do core , anca , tornozelo e pé é de considerar na etiologia e tratamento da DPF . A disfunção dos músculos da anca , a rotação interna
do fémur e a rotação externa da tíbia são fatores de risco importantes . A fraqueza dos músculos da anca , nomeadamente dos abdutores ( ABD ) e rotadores externos ( RE ), condiciona a subsequente rotação interna do fémur e aumento do stress patelofemoral pela lateralização rotuliana sobre a tróclea . É mais importante o papel de performance neuromuscular no controlo dinâmico da rotação interna do fémur que a força estática dos ABD e RE . A excessiva pronação do pé também predispõe ao aumento do stress patelofemoral . O diagnóstico é clínico . Em ortostatismo , vemos genu varum ou genu valgum , excessiva rotação interna do fémur , Inward-pointing patella ou Squinting patella , fraqueza de ABD e RE da anca , rotação externa da tíbia , valgismo do calcâneo / pé pronado e hiperlaxidão articular . Em pedestação podemos inspecionar o tracking rotuliano , avaliando o J-sign test e o Grasshopper eyes sign . Avaliar sinais inflamatórios , a contração isométrica do VMO , a atrofia ou atraso na ativação VMO em relação ao vasto lateral , avaliação do ângulo Q , Mediolateral glide test , Rabot e Grind test , Tilt rotuliano , ângulo poplíteo , Ober test e Ely test são observações obrigatórias . O tratamento é habitualmente é conservador : agentes físicos para controlo da dor e tratamento fisiátrico , sendo o fortalecimento quadricipital uma pedra basilar . A fraqueza dos ABD e RE da anca é comum , logo o fortalecimento destes músculos chave é fundamental . A ligadura funcional é útil ( a McConnell taping technique – maior benefício e evidência ). As órtóteses rotulianas são importantes na diminuição imediata da dor , mas apresentam benefício duvidoso a longo prazo . Concluindo : a DPF constitui uma causa de gonalgia comum e muitas vezes incapacitante , especialmente em mulheres e corredores , tendo uma origem multifactorial . O sucesso do tratamento depende da compreensão da multiplicidade dos fatores de risco para a patologia , bem como a maneira como se relacionam sinergisticamente entre si . Para além das correções biomecânicas preconizadas , a modificação da atividade até uma zona pain-free é essencial . https :// issuu . com / misericordiadoporto / docs / sindrome _ de _ dor _ patelofemoral _ hp _
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