Revista de Medicina Desportiva Informa Setembro 2016 | Page 7

hereditárias (que incluíram cardiomiopatia dilatada, cardiomiopatia hipertrófica e cardiomiopatia arritmogénica do ventrículo direito) representaram cerca de 16% das mortes. A miocardite foi identificada em 7% dos casos e a dissecção aórtica em 4%. A maior parte das MSC aconteceram durante o sono (38%) ou em repouso (27%), enquanto a MSC relacionada com o exercício foi relativamente incomum, ocorrendo durante o exercício em 11% dos casos e após o exercício em apenas 4% dos casos. Quando feito ajuste por análise multivariada verificou-se que idade mais jovem (em comparação com indivíduos dos 31 aos 35 anos) e morte durante a noite se associaram de forma significativa e independente com MSC inexplicada quando comparada com a MSC com causa identificada. Este estudo tem algumas limitações, reconhecidas pelos próprios autores. Apesar do empenho em identificar casos de MSC, houve alguns casos de morte que não foram incluídos por falta de informação detalhada ou porque o corpo foi encontrado para lá das 24 horas desde a última vez que o indivíduo tinha sito visto de boa saúde. Não houve homogeneidade dos estudos genéticos realizados ao longo dos três anos fruto do desenvolvimento tecnológico durante esse período. O estudo deixou ainda de fora casos de paragem cardíaca súbita fora de ambiente hospitalar e que foram recuperados com sucesso. Apesar destas limitações que se poderão refletir sobretudo na incidência da MSC e na identificação de causa em situações de MSC não explicada, este trabalho prospetivo confirma resultados de alguns estudos anteriores menos robustos (pela sua menor “dimensão” e natureza retrospetiva) e traz-nos algumas “novidades” sobre as quais vale a pena refletir: Desde logo o facto de a maioria das situações de MSC não estarem associadas ao exercício físico e acontecerem no período noturno. De relembrar que anteriormente Corrado et al tinham demonstrado um risco 2,5 vezes superior de MSC em adolescentes e adultos jovens participantes em atividades desportivas de competição3. Levanta-se a hipótese da morte ocorrida durante o sono poder resultar de picos da atividade vagal e do sistema nervoso simpático durante a fase REM do sono, conduzindo a arritmias despoletadas por mecanismos adrenérgicos, não se excluindo contudo outros mecanismos. As situações de MSC inexplicada aconteceram sobretudo em idades mais jovens e durante o período noturno, o que deverá suscitar questões sobre a melhor forma de prevenir a MSC nos escalões etários mais jovens. Não se verificaram diferenças significativas na incidência das diferentes “cardiomiopatias genéticas” (cardiomiopatia hipertrófica, cardiomiopatia arritmogénica do ventrículo direito, cardiomiopatia dilatada). Outras cardiomiopatias, canalopatias não diagnosticadas e epilepsia revelaram-se relativamente comuns nos casos que permaneciam sem diagnóstico após autópsia. Neste particular, este trabalho reforça o conceito da “autópsia molecular” através do estudo genético como forma de aumentar a capacidade de diagnóstico etiológico das situações de MSC. Conjugado com o facto de serem frequentes as “causas genéticas” nas situações de MSC nos grupos etários mais jovens4, a realização de testes genéticos deverá ser considerada como prática padrão em todas as situações de MSC inexplicada. Só assim se poderá compreender melhor o fenómeno e também evitar a repetição deste tipo de evento trágico nos familiares das vítimas de MSC. Bibliografia 1. Bagnall, R. D. et al. A prospective study of sudden cardiac death among children and young adults. N Engl J Med 2016 Jun 23; 374:2441. 2. (2) D. Corrado, A. Pelliccia, H. H. Bjornstad et al. Cardiovascular pre-participation screening of young competitive athletes for prevention of sudden death: proposal for a common European protocol. European Heart Journal, 26 (2005), pp. 516–524. 3. (3) D. Corrado, C. Basso, A. Pavei, et al. Trends in sudden cardiovascular death in young competitive athletes after implementation of a preparticipation screening programme. Journal of the American Medical Association, 296 (2006), pp. 1593–1601. 4. (4) P. Schwarz, L. Crotti. Can a message from the dead save lives? Journal of t he American College of Cardiology, 49 (2007), pp. 247–249. Revista de Medicina Desportiva informa Setembro 2016 · 5