Revista de Medicina Desportiva Informa Setembro 2016 | Page 17

Nos casos dos quatro participantes que mudaram de desporto em qualquer uma das duas transições temporais consideradas (de antes da lesão para depois da cirurgia e de depois da cirurgia para a atualidade), o ciclismo foi sempre o, ou um dos, desporto(s) de eleição para esta mudança, o que poderá estar associado à menor exigência deste desporto para com os joelhos (pela menor carga exercida e pelos movimentos de baixa amplitude) e também pela fácil acessibilidade ao mesmo. Dos 13 que praticavam desporto antes da lesão, só quatro (30,8%) mantêm atualmente o mesmo desporto e o mesmo nível desportivo. Para além destes, três (23,1%) mudaram de desporto e baixaram de nível desportivo, enquanto seis (46,1%) abandonaram a prática desportiva. Estes valores encontram-se longe do descrito na literatura, que reporta o regresso a qualquer prática desportiva em 81% dos casos e o regresso ao mesmo nível pré-lesão em 65%2. Dos seis que abandonaram o desporto, quatro fizeram-no na primeira transição temporal referida, tendo três afirmado que a lesão do LCA foi a principal razão do abandono, e dois na segunda também devido à lesão. Averiguou-se se existia alguma diferença nas pontuações totais das escalas funcionais entre aquele grupo que abandonou o desporto após a cirurgia alegadamente devido à lesão no LCA (N=3) e os restantes nove que regressaram à prática desportiva, mais um que abandonou o desporto por outras razões que não a lesão no LCA. Assim, verificou-se que esses três participantes obtiveram uma pontuação total média na TL de 74,0±13,23 (vs. 92,10±5,47 dos restantes) e na MC de 82,33±9,07 (vs. 92,20±5,81). Apesar da maior diferença ser na escala TL, só a diferença na escala MC atingiu significância estatística (p<0,05). Realizados os mesmos cálculos com os dois sujeitos que abandonaram o desporto depois de já o terem praticado após a cirurgia, a mesma tendência não se verificou. Comparando-se os indivíduos que regressaram ao desporto após a cirurgia com o nível a que estes praticavam desporto antes da lesão, verificou-se que aqueles que praticaram desporto antes da lesão a um nível mais elevado regressaram mais à prática desportiva do que aqueles que praticavam desporto a um nível inferior, ou seja, o regresso ao desporto após a cirurgia está significativamente relacionada com o nível do desporto praticado antes da lesão (p<0,05). Uma possível justificação para este facto prende-se com uma maior identidade atlética de quem pratica desporto a um nível mais alto que, por norma, acredita mais que é sua responsabilidade ultrapassar as dificuldades como, por exemplo, o debelar de uma lesão3. Os perímetros e os apoios recolhidos no exame físico (Figura 1) são referidos ao membro dominante e não dominante e ao membro onde a lesão ocorreu. Levando em consideração que, no que aos perímetros gemelares diz respeito, nenhuma das diferenças encontradas foi estatisticamente significativa, não se avançou com mais aprofundamento sobre esses dados. No que concerne aos perímetros crurais, verificou-se que a diferença Figura 1 – Médias das medições recolhidas. A unidade dos perímetros é o centímetro (cm) e a do apoio é o quilograma (kg). média entre o perímetro crural da perna dominante e o da perna não dominante, quando a lesão era na primeira, era de 1,9±1,9 cm, enquanto quando a lesão era na perna não dominante, esta diferença foi de 3,1±2,4 cm. Assim, a variação média entre as diferenças supracitadas dos dois grupos foi de 1,13cm, diferença esta que, apesar de considerável, não se revelou estatisticamente significativa (p=0,33). No que diz respeito aos apoios, a diferença média entre o apoio dominante e o não dominante, quando a lesão ocorreu na dominante foi de – 0,63±4,47 kg, e quando a lesão ocorreu na perna não dominante esta diferença foi de 3,71±1,604 kg. A variação média destas diferenças foi estatisticamente significativa (p<0,05) e igual a 4,34 kg. Assim, pode-se estimar que, apesar da diferença neste estudo não ser estatisticamente significativa, existe uma atrofia muscular da coxa associada à lesão, que pode ser secundária quer, em primeira instância, à diminuição da força exercida na perna por limitação imposta pela lesão quer, posteriormente à reconstrução, por um resguardo inconsciente do indivíduo em usar a perna lesionada, como é visível pela diferença entre os apoios, mesmo meses ou anos após a intervenção. Por outro lado, o grupo muscular distal ao joelho parece não ser influenciado significativamente pela lesão do LCA. Estas conclusões são reforçadas pelo facto de que existe correlação positiva, estatisticamente significativa, entre o perímetro crural da perna saudável e o perímetro do gémeo da perna saudável (ρ=0,827; p<0,01), não se podendo dizer o mesmo do lado oposto, visto que o grupo muscular distal ao joelho aparentemente não sofre uma atrofia equivalente à sofrida pelo grupo proximal. No que respeita às escalas funcionais, a TL teve uma