Revista de Medicina Desportiva Informa Setembro 2016 | Page 18
Tema 1
Rev. Medicina Desportiva informa, 2016, 7 (5), pp. 16–19
Epicondilite Lateral:
Diagnóstico Diferencial e
Prognóstico
Como elementos de prognóstico
sugerem o enquadramento da tendinopatia na clínica da tendinose,
a neuropatia do nervo interósseo
posterior na clínica dos síndromes
canalares e a artropatia radioumeral
na clínica da condropatia e da fibrocartilagem de interposição1,5.
Prof. Doutor João P. Pinheiro1, Dr. Pedro Aroso2, Dra. Joana Costa2, Dr. António Araújo2
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Medicina Física e de Reabilitação. Medicina Desportiva; 2Medicina Física e de Reabilitação. Serviço de
Medicina Física e Reabilitação – Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
RESUMO / ABSTRACT
A dor referida à região lateral do epicôndilo é muito frequente na comunidade, quer associada à prática desportiva. Quer ao desempenho de atividades de vida diária. O diagnóstico etiopatogénico é decisivo para uma correta abordagem terapêutica e também para a
introdução de medidas preventivas. Os autores apresentam os diferentes quadros clínicos
que podem originar dor no epicôndilo lateral.
Pain referred to lateral epicondyle is very common in the community, either associated with sports
or during activities of daily living. The etiopathogenic diagnosis is crucial for a correct therapeutic
approach and also for the introduction of preventive measures. The authors present different clinical
pictures that can cause pain in the lateral epicondyle.
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS
Epicôndilo lateral, dor, diagnóstico, terapêuticas.
lateral epicondyle, pain, diagnosis, therapeutics.
Introdução
Trata-se de uma síndrome dolorosa
de topografia identificada à região
lateral do cotovelo, com frequente
irradiação para o antebraço1. É
uma das entidades dolorosas mais
prevalentes no membro superior,
sendo habitualmente associada ao
contexto microtraumático inerente
ao gesto desportivo. A localização no
epicôndilo lateral é descrita como 10
vezes mais frequente que a dor no
epicôndilo medial, esta menos referida na prática desportiva1,2,3.
O cotovelo é um complexo anatómico complexo4, englobando uma
articulação troclear (umeroulnar),
uma condiliana (umerorradial) e
uma trocoide (radioulnar). A estrutura capsuloligamentar é variada,
reduzindo o risco de instabilidade.
No epicôndilo lateral inserem-se o
extensor comum dos dedos, o extensor radial breve do carpo e o extensor ulnar do carpo, estando os seus
tendões habitualmente envolvidos
no processo patogénico. O revestimento condral ou as expansões
sinoviais da articulação radiocapitelar e o trajeto potencialmente conflitual do nervo interósseo posterior
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(ramo posterior sensitivo do nervo
radial) são estruturas anatómicas
potencialmente afectadas1,5.
http://www2.fm.usp.br/fofito/fisio/pessoal/isabel/biomecanicaonline/articulacoes/cotovelo/figura_20.jpeg
Podemos, assim, generalizar que
o conceito de epicondilite lateral
designa diversas etiopatogenias,
relacionadas ou não com o exercício
físico e com a prática desportiva,
particularmente em desportos de
raquete, lançamento ou com gestos
de preensão exigentes. Afeta 1 a 3%
da população adulta na comunidade6, mas inequivocamente está
identificada com a ideia do “cotovelo
do tenista”, descrito inicialmente por
Morris em 18821,5,7.
Neste artigo os autores pretendem
descrever a etiopatogenia e clínica
sintomática das diferentes entidades.
https://fisioterapiaeesporte.files.wordpress.
com/2012/07/tenniselbow1.jpg
Tendinopatia de inserção no
epicôndilo lateral
A tendinopatia de inserção é a etiologia mais frequente da epicondilite
lateral, correspondendo a cerca de
85% da dor lateral no epicôndilo.
Trata-se de uma entesopatia que se
manifesta ao nível da origem dos
músculos extensores dos dedos e do
punho.
A sua incidência é de 1 a 3%
na população geral, no entanto é
substancialmente mais elevada nos
desportistas, atingindo 9-40% dos
atletas, particularmente em desportos que exijam movimentos repetitivos do membro superior, como por
exemplo o ténis, de onde advém a
denominação comum de “cotovelo
do tenista” 7. A clínica é de tendinose,
refletindo assim a cronicidade desta
condição, associada a um início
insidioso e a microtraumatismos
de repetição, histologicamente com
mínima inflamação. Na maioria dos
casos o músculo afetado é o extensor
carpi radialis brevis, embora também possa envolver o extensor carpi
radialis longus, extensor digitorum e
o extensor carpi ulnaris8. Histologicamente os tecidos afetados apresentam microrroturas, com formação de
tecido de reparação, com hiperplasia
angiofibroblástica e substituição das
fibras de colagénio por colagénio
imaturo e desorganizado. O processo
de tendinose está muitas vezes associado ao gesto desportivo ou a qualquer atividade manual que envolva a