Revista de Medicina Desportiva Informa Setembro 2013 | Page 8

de Coimbra por dor abdominal que não aliviava . Na anamnese foi possível apurar que tinha tido início durante um jogo de hóquei em patins , onde o jogador , em posição de agachamento , executou movimento de defesa brusco em hiperextensão e rotação do tronco para a direita , acompanhado de elevação do membro superior direito , desencadeando uma sensação de “ rasgão ” na metade contra-lateral do abdómen .
Nos antecedentes pessoais verificou-se ser um indivíduo saudável , praticante semi-profissional federado de hóquei patins até aos 27 anos e a partir desta idade praticante recreativo apenas aos fins- -de-semana . Como antecedentes patológicos tinha apenas história de várias lesões músculo-esqueléticas nos membros superiores e inferiores . À entrada no SU referia queixas álgicas intensas , que lhe afetavam a marcha , encontrando-se em posição anti-álgica ( flexão do tronco ). À palpação o abdómen apresentava-se mole e depressível , com dor e defesa localizadas numa região de 3-5 cm na fossa ilíaca esquerda , com rubor , calor e edema locais . Procedeu-se a uma avaliação analítica de rotina , tendo sobressaído um aumento significativo da creatina-fosfocinase com um valor de 961 . Depois de feita analgesia , e perante a sintomatologia abdominal , solicitou-se a realização de uma ecografia . Foi detetado um foco de rotura muscular com cerca de 45 mm de extensão na região da inserção distal do músculo reto anterior esquerdo , com ligeira retração do corpo muscular ( figura 1 ).
Face a este quadro , e como medida de precaução , internou-se o doente para tratamento conservador ( repouso , gelo local , analgésicos ).
Teve alta passados 3 dias , com indicação para colocar gelo localmente , fazer analgesia em SOS e uso de cinta abdominal . Foi reavaliado cerca de um mês depois , realizou uma ressonância magnética abdominal , onde se confirmou o diagnóstóstico da ecografia e foi evidente a presença de hematoma intramuscular ( 3 x 2.4 x 1.1cm ), sequela de anterior rotura muscular ( figura 2 ).
Discussão :
O hóquei em patins tem muita popularidade em Portugal 7 , no entanto , os estudos realizados em torno desta modalidade são muito reduzidos e a literatura científica e médica sobre este desporto é muito escassa . O hóquei em patins particulariza-se por ter exigências específicas a nível postural , mas também a nível de flexibilidade e coordenação neuro-muscular , concretamente na mobilidade sobre patins e manipulação do stique 7 . Trata-se de um jogo complexo e jogado a elevada velocidade , o que pode contribuir para lesões muito graves 8 .
As lesões mais frequentes no hóquei em patins são as lesões traumáticas , sobretudo feridas e
RM T1 transversal
RM T1 sagital contusões , que derivam do facto de se tratar de uma modalidade em que o contacto físico entre jogadores é constante e em que a possibilidade de quedas é elevada 7 , 9 . Em praticamente todos os jogos ocorrem contusões secundárias a traumatismos provocadas pela bola ou stique e por choques entre jogadores ou com tabelas ou balizas , daí a necessidade de equipamento completo de protecção das várias regiões anatómicas 7 . As fraturas ósseas são raras , sendo mais comuns as fraturas da mão por traumatismo por stique 7 . A luxação mais frequente é a do ombro , seguida das luxações do cotovelo e do punho 7 .
As roturas musculares no hóquei em patins , não sendo muito frequentes , ocorrem principalmente nos músculos ísquiotibiais e nos adutores da coxa 7 . Varlotta et al . 11 , ao estudarem 2 equipas profissionais de hóquei de patins em linha ao longo de 3 temporadas desportivas , verificaram que o tipo de lesão mais prevalente foram os estiramentos e roturas ( 56 %), sendo que o local de estiramento muscular mais comum foi a região lombo-sagrada . Os locais de rotura mais comuns foram o ligamento colateral medial e menisco medial do joelho , seguidos do punho ,
RM T2 coronal
RM T1 coronal
Figura 1 – Ecografia abdominal Figura 2 – Ressonância Magnética abdominal
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