Revista de Medicina Desportiva Informa Setembro 2012 | Page 30

da realização de prova de esforço cardiorrespiratória em cicloergómetro ( protocolo incremental de 10W / min ) ou passadeira ( protocolo de Bruce 30 ’’) 28 e avaliar as eventuais contraindicações clínicas para a sua realização ( Tabela 1 ).
O exercício físico não está contraindicado nos doentes portadores de dispositivos implantados , mas refira-se que no caso de doentes com cardioversor-desfibrilador implantado ( CDI ), recomenda-se que a FC máx atingida seja 10 a 15 batimentos abaixo do limiar de taquicardia detetado pelo CDI 29 .
A necessidade de monitorização e de supervisão do exercício é advogada nalguns estudos , pelo menos na fase inicial ( e especialmente naqueles doentes com arritmias induzidas pelo exercício ou com formas de IC grave ) 26 , 30 , mas nos casos de doentes com a doença estabilizada é possível a obtenção de bons resultados com programas domiciliários desde que mantidos em consultas regulares de follow-up .
O princípio FITT
Os príncipios gerais de exercício físico estão sumariados na sigla FITT – frequência , intensidade , tempo e tipo 28 . Tradicionalmente , e até cerca de 1980 , preconizava-se somente exercícios aeróbios , com movimentos cíclicos e que envolviam grandes grupos musculares ( caminhada , ciclismo , corrida lenta , natação ). Recentemente demonstrou-se que , ao contrário do que se pensava , o treino de força não aumenta o afterload cardíaco para níveis deletérios e que existe mesmo uma correlação positiva independente entre a força muscular e o prognóstico clínico do doente com IC 31 . Este deverá ser um exercício de força dinâmico , por oposição ao treino isométrico que é contraindicado neste tipo de doentes devido à potencial ocorrência concomitante da manobra de Valsalva 32 , e atualmente deverá ser associado ao exercício aeróbio nos programas de treino uma vez que melhora o tónus muscular e pode aumentar o VO 2máx até 16 % 33 , 34 .
A duração do exercício físico deve incluir um período de aquecimento , que normalmente é de
TREINO AERÓBIO
Intensidade Duração Tipo / forma Freq semanal 40-70 % FC máx 20-30 min Grandes grupos 5 a 6 11 a 14 ( Borg ) musculares
TREINO DE FORÇA
40-60 % de 1RM máx 30 min 8-15 reps ; 3-4 séries 2
10 a 15 minutos , mas deve ser mais longo à medida que o doente está clinicamente mais debilitado . A fase do exercício aeróbio deve durar 20-30 minutos na intensidade recomendada para o indivíduo em causa ( podendo ser progressivamente aumentada até 40 minutos ), seguindo-se um período de arrefecimento de cerca de 10 minutos 26 . Quanto ao treino de força , este deve incluir 3-4 séries , com 8-15 repetições em menos de 60 segundos , com duração máxima da sessão de 30 minutos 35 . A relação entre exercício e repouso deverá ser > 1:2 neste tipo de treino 36 .
As sessões de exercício físico devem ser realizadas 4 a 6 vezes por semana , de preferência em dias intercalados , para permitir a adequada recuperação do doente . O treino de força , por seu turno , deve ser efetuado 2 vezes por semana 37 .
Não existe uma relação clara entre intensidade de exercício e capacidade funcional 38 . Mais frequentemente utiliza-se nos programas de treino em doentes com IC como indicador da intensidade do exercício desejável o valor 40 % a 80 % do
VO 2máx ou , em alternativa , a 40 % a 75 % da frequência cardíaca máxima ( FC máx
) 25 , 39 . Em todos os doentes , mas especialmente em doentes sob beta- -bloqueadores , deve-se utilizar em simultâneo a escala de percepção do esforço de Borg ( RPE – rating of perceived exertion ), devendo o doente manter-se nos valores de 11 a 14 ( escala de 6 a 20 ) durante o exercício 26 , 39 .
No treino de força as cargas não devem ultrapassar os 3 kg , devendo- -se iniciar com cargas de 40 % de 1RM ( repetição máxima ), até um máximo de 60 % de 1RM 40 .
Apesar da inexistência de vasta literatura sobre o exercício físico em indivíduos NYHA classe IV , ele deve ser preconizado neste tipo de doentes , ainda que com adaptações especialmente no que diz respeito ao treino de força 37 .
Dados recentes revelam que os benefícios fisiológicos de um programa de treino deixam de existir após 8 semanas da sua cessação 41 , pelo que é fundamental manter o doente o mais empenhado e motivado possível na manutenção da atividade física .
Conclusão
A IC crónica é uma síndrome progressiva caraterizada pela diminuição da função do ventrículo esquerdo . Apesar do treino não ser a cura para a IC , a prescrição adequada de exercício aumenta a tolerância ao esforço através da melhoria da função músculo-esquelética , ventilatória e autonómica , havendo mesmo alguma evidência de melhoria concomitante do miocárdio ( através dos seus efeitos anti-remodeling ).
A prescrição de exercício físico individualizada e monitorizada , quando efetuada por profissionais de saúde treinados e em associação com uma terapêutica médica otimizada , pode alterar o prognóstico e a qualidade de vida nos doentes com IC crónica estável .
Bibliografia
1 . Cohen-Solal A , Chabernaud JM , Gourgon R . Comparison of oxygen uptake during bicycle exercise in patients with chronic heart failure and in normal subjects . J Am Coll Cardiol 1990 ; 16:80-85 .
2 . Sullivan MJ , Higginbotham MB , Cobb FR . Exercise training in patients with chronic heart failure delays ventilatory anaerobic threshold and improves submaximal exercise performance . Circulation 1989 ; 79:324-329 .
3 . Maskin CS , Forman R , Sonnenblick EH , et al . Failure of dobutamine to increase exercise capacity despite haemodynamic improvement in severe chronic heart failure . Am J Cardiol 1983 ; 51:177- 182 .
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