Revista de Medicina Desportiva Informa Novembro 2019 | Page 9
recomendação, é que este momento
“representa a única oportunidade de
avaliação médica em 30 a 80% dos
jovens em idade escolar” 4 , aspeto que
muda no ambiente universitário,...
mas também se refere que a realiza-
ção do exame médico pelo médico
de família constitui uma barreira à
participação desportiva...
Depois segue-se, mais uma vez,
a discussão da inclusão ou não do
eletrocardiograma de repouso (ECG)
como complemento desta avaliação,
pois continua-se a discutir se este
exame tem sensibilidade e especifi-
cidade suficientes para a triagem do
jovem praticante e, mais, se é ade-
quadamente interpretado quando
utilizado em larga escala. Por outro
lado, há grandes associações médi-
cas que não recomendam o uso por
rotina (CAC e AHA), ao passo que
a Sociedade Europeia de Cardiolo-
gia aconselha a sua inclusão nesta
avaliação médica. Por outro, o Comité
Olímpico, a FIFA, a Premier League e a
NHL e a NFL americanas recomen-
dam a inclusão. Indica-se no texto
a argumentação do CAC e da AHA:
a utilização em larga escala origina
um número “inaceitável” de falsos-
-positivos, com consequentes pos-
teriores custos para esclarecimento,
assim como existem falsos-negativos,
o que, a ocorrerem, nega o verdadeiro
espírito desta triagem. Por outro lado,
defendem que não existe evidência
de que a realização do ECG reduz a
mortalidade por causa cardiovascu-
lar. 5 A defesa do uso do ECG nesta
triagem é suportada pelos resultados
do estudo prospetivo italiano, que
seguiu 42386 atletas de competi-
ção, dos 12 aos 25 anos. Durante o
período de seguimento de 26 anos,
com a realização do ECG, verificou-
-se diminuição em 89% na incidência
de morte súbita de causa cardíaca.
Mas a realização do ECG levanta
uma questão fundamental ligada aos
falso-negativos e aos falsos-positivos:
quem lê o ECG? Refere-se no texto
que nem todos os cardiologistas, por
exemplo, estão aptos a lerem um ECG
do atleta, pois não estão habituados
a verem alterações decorrentes do
aumento do tónus vagal e/ou do
aumento das câmaras cardíacas.
Também os critérios de (a)norma-
lidade têm sido alterados, havendo
atualmente melhor compreensão
da eletrofisiologia cardíaca do atleta
bem treinado, pelo que as “diferenças”
(mas normais) na coluna a verde têm
vindo a aumentar e a serem conside-
radas normais, adaptativas (Figura 2).
Para já as alterações da zona verme-
lha são consideradas anormais, pelo
que exigem investigação posterior.
A autora do texto analisa outro
estudo realizado no futebol do Reino
Unido, no qual nas dez mortes ocor-
ridas por cardiomiopatia apenas em
dois casos foram detetadas alterações
cardíacas aquando da triagem do
exame médico. Neste sentido, realça-
-se a observação dos autores do
estudo: “Realizar esta triagem apenas
uma vez durante a adolescência
pode não detetar vários atletas que
subsequentemente desenvolverão
uma cardiomiopatia”. De facto, há
muito que se vem dizendo que a
expressão fenotípica de uma altera-
ção genotípica poderá ocorrer apenas
na fase final da adolescência, daí a
importância da vigilância periódica.
A opinião de um médico citado no
texto é de relevância extrema em ter-
mos operacionais: “Existe um plano
para atempadamente atuar sobre os
atletas não identificados com patolo-
gia ou sobre os atletas não identificá-
veis através da triagem inicial? Existe
um plano para agir sobre os dados
positivos e dar-lhes resposta, ou sim-
plesmente acabar-se-á por eliminar
atletas por achados que poderão ter
ou não ter qualquer impacto sobre as
suas vidas?”
A controvérsia sobre a triagem com
e sem ECG vai continuar e, refere-se
no texto, não existe qualquer estudo
que demonstre a eficácia destas
estratégias em salvar vidas. De facto,
considerando que a incidência de
morte súbita no jovem atleta varia
entre 50mil e 80mil / ano, qualquer
estudo prospetivo randomizado terá
poder insuficiente para qualquer
conclusão, pelo que a questão ficará
por responder, refere-se no texto.
Finalmente, dado que não se pode
(ainda) atuar com eficácia total a
montante (triagem médica), há que
atuar e investir bastante a jusante:
atuar quando ocorrer um acidente
cardíaco. Surgem, assim, os Planos de
Atuação de Emergência (PAE), pois
“as coisas vão acontecer e teremos de
estar preparados quando tal ocorrer”,
refere uma autora citada no texto. O
PAE deve ser “desenhado, ensinado
e regularmente ensaiado” e porque
“não tem impacto no orçamento, é
de simplesmente preparação, mas
o planeamento antecipado pode
fazer grande diferença”. O Dr. Jona-
tahn Drezner publicou no início de
2019 um interessante estudo sobre
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