Revista de Medicina Desportiva Informa Novembro 2019 | Page 31
Altitude do CAR de VRSTA está assente
em três pilares: controlo, segurança e
individualização. Numa primeira fase,
a análise detalhada acerca os ante-
cedentes pessoais dos atletas sobre
exposições anteriores e, também, dos
parâmetros fisiológicos antes de ini-
ciarem o período de exposição efetivo.
Com base nos dados recolhidos na
fase anterior, planeia-se a exposição
tentando sempre adequar e conjugar
a carga hipóxica ao planeamento do
treino diário dos atletas, para que não
exista um efeito concorrente entre
ambos os estímulos. Durante a expo-
sição efetiva recolhemos, diariamente,
diferentes parâmetros fisiológicos que
permitem acompanhar os efeitos da
carga hipóxica e definir padrões da
resposta, quer seja em períodos de
exposição efetiva ou em períodos de
normóxia, com o objetivo de modelar
a resposta fisiológica de cada atleta.
Os dados recolhidos e a resposta de
cada atleta são comunicados dia-
riamente às equipas técnicas e de
acompanhamento do treino, para que
possa inferir e decidir sobre a adequa-
ção do processo de planeamento do
treino e ajustá-lo, se necessário.
Prof. Doutor João Pereira
de Almeida
Medicina Desportiva
e Patologia Clínica.
Presidente da Sociedade
Portuguesa de Medicina
Desportiva.
O sono e as técnicas de relaxação
A evolução do ser humano ao longo
do tempo contemplou sempre dois
períodos bem distintos, um de vigília
onde temos a atividade catabólica,
e outro de sono, onde fazemos a
recuperação, sendo assim uma
atividade anabólica. Nas 24 horas de
duração do dia, o sono usualmente
ocupa cerca de terço desse tempo,
pelo que tem assim um papel muito
importante e ativo na biologia do
ser humano, especialmente na vida
dos desportistas, devendo preocu-
par todos e em especial aqueles que
com eles trabalham. Ao longo dos
milénios a evolução do ser humano
sempre contemplou estes dois perío-
dos de alternância entre a vigília e o
sono e todos os seres vivos têm esta
ciclicidade, embora diferentes, mas
a sua existência é real. O estudo e
os conhecimentos têm evoluído ao
longo do tempo, e em especial nos
últimos 20 anos, para o que muito
contribuíram os estudos genéticos
e o estudo dos ritmos circadianos
derivados da exploração espacial.
Os mecanismos do sono têm dois
componentes essenciais: a génese
e a ciclicidade. A génese é efetuada
constantemente através do SAA (Sis-
tema Ascendente de Ativação).
O SAA gera-se nos vários núcleos
do tronco cerebral e através de
neurotransmissores que fazem a
sua ligação ao tálamo e ao córtex
cerebral. O modelo existente é um
sistema de flyflop, ligando se e desli-
gando-se através da medição neuro-
-química, em que assume especial
relevo um mediador, a adenosina
que é produzida ao longo do dia, pro-
vem do ATP, e se vai acumulando ao
longo do dia até atingir uma concen-
tração que motiva a inibição do sis-
tema SAA. A ciclicidade em 24 horas
é regulada pela luz solar ou artificial
com um comprimento de onda bem
definido. É uma modulação a partir
das células ganglionares da retina
que transmitem informação para o
núcleo supra quiasmático (NSQ) e
deste para a glândula pineal, com a
produção da melatonina e de muitos
outros neurotransmissores. É através
destes dois sistemas principais, e que
se complementam, que desenvolve-
mos todas as nossas funções vitais.
Todas as células do corpo humano
têm o seu relógio biológico, obede-
cendo hierarquicamente ao controlo
do NSQ, exceto as células tumorais e
a produção de espermatozoides.
Num período de 24 horas, nor-
malmente, o ser humano na idade
adulta tem um período de sono de
cerca de 8 horas. Contudo existe
uma variação de acordo com a idade,
desde o recém-nascido até á velhice.
O sono é normalmente estudado
através da polissonografia, onde
existe um registo simultâneo do EEG,
da eletromiografia e do eletro-ocu-
lograma (EOG), registo da atividade
dos músculos extra-oculares. Através
destes registos (hipnograma), carac-
terizados no meio do século passado,
foi possível estudar as diferentes
fases do sono e permite nos verificar
as variações eletroencefalográficas,
as variações da tonicidade muscular,
assim como os movimentos oculares
que permitiram identificar duas fases
distintas do sono: o sono REM (Rapid
Eye Movements), onde existem movi-
mentos oculares rápidos e o sono
NREM (No Rapid Eye Movements),
com três estádios (N1,N2,N3), onde
não existem movimentos oculares. A
periodicidade é constituída por ciclos
de cerca de 90 minutos, onde no
início o sono NREM assume especial
relevância, que diminui progressiva-
mente e assumindo o sono REM uma
duração progressivamente maior.
Esta ciclicidade num período de 8
horas é muito importante já que
ao longo destes ciclos se desenvol-
vem grande número das funções de
regeneração, de armazenamento dos
dados adquiridos ao longo do dia,
assim como da homeostase necessá-
ria à sobrevivência de um ser vivo.
A atividade desportiva implica
sempre a necessidade de produção
de energia e, neste contexto, a mito-
côndria tem um papel decisivo, pois
aí reside toda produção de energia
aeróbica. As mitocôndrias obedecem
também a esta alternância vigília/
sono, onde a possibilidade de rea-
lização de exercício físico é melhor
durante a vigília.
As alterações provocadas pelas
alterações de fuso horário e o tra-
balho por turnos provocam grandes
alterações no funcionamento regu-
lar do nosso corpo.
As atitudes médicas podem ter
uma componente comportamental
e uma atitude terapêutica. As duas
são compatíveis e complementares
e devem ser adaptadas na nossa
atividade médica.
Dr. Rodrigo Abreu
Nutricionista na USP-FPF
e Clínica CUF Alvalade.
Nutrição e suplementação pós
esforço
A alimentação e as estratégias nutri-
cionais são um dos pilares da recupe-
ração pós-esforço. Não sendo possível
caracterizar a recuperação de uma
única forma, existem algumas noções
básicas transversais sobre os cuidados
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