Revista de Medicina Desportiva Informa Novembro 2019 | Page 29

escolha dos exames criteriosa para a exclusão de patologia cardíaca. Prof. Doutor Hélder Dores Hospital da Luz Lisboa, Sport Lisboa e Benfica, NOVA Medical School Exercício na prescrição da doença cardíaca: o que há de novo? A prática de exercício na presença de doença cardíaca é um aspeto muito controverso e desafiante em cardiologia desportiva. Contra- riamente a outras áreas da Medi- cina (baseada na evidência), nesta temática são poucos os estudos randomizados que justificam as diversas recomendações, a maioria resultando de documentos de con- senso e de opiniões de peritos. No entanto, avanços recentes levaram à publicação de vários documentos, sobretudo pela Sociedade Europeia de Cardiologia. A primeira mensagem deve ser incentivar a prática de exercício pelos seus múltiplos benefícios, sendo possível na maioria das doen- ças cardíacas, mesmo após eventos agudos quando integrado em progra- mas de reabilitação cardíaca. Antes de ser prescrito ou recomendado importa considerar várias caracterís- ticas, como a modalidade desportiva, intensidade, volume, nível competi- tivo, risco de impacto ou influência de outras condições externas, tipo e gravidade da doença. O paradigma nas recomendações mais recentes foi alterado, sendo menos restritivas (ponderação entre risco de eventos durante o exercí- cio Vs. risco a longo-prazo pela sua suspensão) e incentivando a deci- são partilhada com envolvimento do atleta e outros profissionais. Independentemente da patologia, doenças instáveis e associadas a risco elevado de eventos agudos, sin- tomas, documentação de isquemia ou disritmias induzidas pelo esforço, são motivos de desqualificação até investigação profunda e trata- mento adequado. Um exemplo desta abordagem são as miocardiopatias, causas frequentes de morte súbita e desqualificação em atletas jovens. Na miocardiopatia hipertrófica é admissível a prática de exercício competitivo em situações associadas a baixo risco, enquanto nos casos genótipo positivo/fenótipo negativo ou naqueles com eletrocardiogramas patológicos sem diagnóstico, podem ser praticados todos os desportos de nível competitivo. Por outro lado, na miocardiopatia arritmogénica, pela relação inquestionável entre eventos arrítmicos fatais e exercício, o seu diagnóstico (genótipo ou fenótipo) justifica desqualificação de desporto competitivo. Nas arritmias ventricu- lares, nomeadamente extrassistolia, é importante excluir cardiopatia estrutural, formas malignas e a rela- ção com o esforço. Neste contexto, é muito relevante a ressonância magnética cardíaca, gold-standard da avaliação morfofuncional cardíaca. Pelo aumento crescente de atletas veteranos, há muitos indivíduos com doença coronária a desejar praticar exercício. A exclusão de isquemia, estenoses coronárias significativas, arritmias ventriculares significativas e disfunção sistólica, são caracte- rísticas a investigadar antes do (re) início da prática desportiva. Em suma, além da utilidade dos docu- mentos atualmente disponíveis, a experiência clínica na avaliação e estratificação de risco do atleta e a decisão partilhada são essenciais para manter a prática de exercício de forma segura. Dra. Rita Tomás Portugal Football School e Unidade de Saúde e Performance da Federação Portuguesa de Futebol; Clínica CUF Alvalade. Medicina Regenerativa e tendinopatia: ondas de choque – estado do conhecimento As ondas de choque (OC) são impul- sos acústicos caracterizados por uma pressão positiva de elevada amplitude e um incremento muito rápido da pressão, com diferentes aplicações na medicina, como por exemplo em patologias do tendão: tendinopatia calcificada do ombro, epicondilite lateral, síndrome doloroso do grande trocânter, ten- dinopatia patelar, tendinopatia do Aquiles, fasciite plantar, com ou sem esporão. 1,2 Existem ainda outro tipo ondas que são utilizadas para efeitos terapêuticos, mas que na realidade são ondas de pressão e são vulgarmente designadas de OC radiais (rOC). As OC propiamente ditas designam-se de“focais (fOC). 2 Numa revisão sistemática de 2015, os autores concluíram que as OC são eficazes no tratamento de patologia osteotendinosa, com cerca de 80% dos estudos a reportarem resultados positivos. 3 Concluíram, ainda, que a aplicação insuficiente de energia e a aplicação de aneste- sia diminuiu o efeito terapêutico. Foram encontrados resultados igualmente eficazes para fOC e rOC. Os autores referiram ainda que idealmente deverá ser utilizada a intensidade máxima tolerada pelo doente (densidade de fluxo de ener- gia em mJ/mm2 ou bar) para cada sessão. 3 Uma revisão mais recente, com enfoque em tendinopatias do membro inferior, encontrou evi- dência moderada da utilidade das rOC na tendinopatia proximal dos isquiotibiais e evidência limitada da eficácia das OC no tratamento da tendinopatia patelar e na síndrome dolorosa do grande trocânter, e superior ao treino excêntrico no tra- tamento da tendinopatia insercional do Aquiles, mas não na tendinoaptia do terço médio. 4 Um outro trabalho de revisão referiu que se deveria usar um nível alto de energia nas tendinopatias calcificada e menos energia nas ten- dinopatias não calcificadas. 5 Duas meta-análises sobre tendinopatias do joelho e do membro inferior encontraram resultados eficazes no uso de fOC e rOC, com algumas diferenças na eficácia consoante a quantidade de energia utilizada. 6,7 Existem alguns estudos realizados em atletas com tendinopatia/rotura parcial da coifa, epicondilite, sín- drome dolorosa do grande trocânter, tendinopatia patelar e do Aquiles e síndrome do stress tibial medial, com resultados na sua grande maioria favorecendo as OC, mas a evidência é ainda reduzida para este subgrupo. Revista de Medicina Desportiva informa novembro 2019 · 27