Revista de Medicina Desportiva Informa Novembro 2019 | Page 22
são desconhecidas em 23 (9,1%)
casos. Notar que 33,5% dos aciden-
tes resultaram numa incapacidade
temporária parcial superior a 3 dias
e 18,9% justificaram uma incapaci-
dade temporária absoluta superior a
3 dias (Tabela II).
exercício físico ou desporto no
tempo de trabalho, explicam o pre-
domínio dos acidentes ocorridos no
horário de expediente. A existência e
disponibilidade de instalações para
a prática das mais variadas modali-
dades desportivas legitimam que a
maioria dos acidentes tenha ocor-
rido no interior das U/E/O. Aparen-
Discussão
temente, o ambiente, conhecido ou
estranho, não parece ter influência
Pouco mais de 1/3 da totalidade dos
na probabilidade de ocorrência de
RA enviados à IGM corresponde a
acidentes.
RA referentes a acidentes ocorridos
O Futsal é a modalidade com
durante a prática de exercício físico
maior casuística, reflexo da sua
ou desporto. Num estudo similar
prática alargada e das peculiari-
realizado nas Forças Armadas
dades inerentes, nomeadamente o
Norte-americanas estes acidentes
contacto frequente entre praticantes
representavam 52% do total. 3 Esta
aguerridos. A experiência individual
grandeza revela a importância deste
também não parece ser um fator
tipo de acidentes e justifica a aten-
de proteção para a ocorrência de
ção redobrada que deve ser prestada
acidentes. Pelo contrário, o contacto
pelas entidades competentes nesta
com outro elemento, estático ou
matéria, visando designadamente a
dinâmico, presente no contexto
garantia da universalidade e corre-
da prática da modalidade surge
ção da notificação e a efetividade
como causa de mais de metade dos
da prevenção, tanto mais quando se
acidentes reportados. Além disso,
constata um aumento da incidência
a ausência de uso de equipamento
de lesões secundárias ao treino em
de proteção individual na prática
recrutas militares nos últimos anos. 4 de futebol ou futsal, modalidades
A manutenção dos requisitos de
de maior risco de sinistralidade, em
aptidão física inerentes à condição
pouco mais de 1/4 dos praticantes,
militar e a participação nas compe-
prejudica a prevenção de aciden-
tições desportivas organizadas na
tes. A população da Marinha deve
Marinha, entre outras razões que
continuar a ser sensibilizada para
justificam a facilidade em realizar
a utilização de material de prote-
ção individual
sempre que tal
Tabela II – Tipo de incapacidade decorrente do acidente
esteja preconi-
(n=196).
zado visando
N.º DE
TIPO DE INCAPACIDADE
minimizar as
ACIDENTES
consequências
Incapacidade Temporária Parcial inferior a 1 dia
14
de eventuais
Incapacidade Temporária Parcial até 3 dias
40
acidentes. Esta
Incapacidade Temporária Parcial superior a 3 dias
85
utilização deve
Incapacidade Temporária Absoluta até 3 dias
9
ser verificada e
Incapacidade Temporária Absoluta superior a 3 dias
48
exigida em todas
as competições
oficiais organiza-
das pelas U/E/O
da Marinha.
A importância
da realização
do aquecimento
prévio à prá-
tica efetiva de
exercício físico
ou desporto é
amplamente
reconhecida e
Gráfico 3 – Localização anatómica da(s) lesão(ões) decorrente(s)
deve ser cul-
do acidente (n=274).
tivada entre a
20 novembro 2019 www.revdesportiva.pt
população da Marinha Portuguesa.
Naturalmente, o seu efeito na
prevenção de acidentes traumáti-
cos, principalmente com contacto
associado, é muito limitado. Referir
que os registos sobre a realização de
aquecimento antes dos treinos são
escassos.
Tanto a natureza, como a locali-
zação anatómica das lesões decor-
rentes dos acidentes ocorridos
durante a prática de exercício físico
ou desporto, não causam particular
admiração, tendo 2/5 dos acidentes
resultado em lesão articular (entorse
articular 35,4%) e bem mais de
metade afetado o conjunto dos seg-
mentos “joelho” (18,6%), “tornozelo”
(17,9%) ou “pé/dedos”. As percenta-
gens aqui identificadas são similares
às encontradas por Gonçalves EM
e Silva RR quando caraterizaram
as lesões sofridas durante o treino
físico militar por um grupo de mili-
tares do Exército brasileiro: a entorse
articular foi lesão mais frequente
(36%), seguida pela distensão mus-
cular (28%) e as duas localizações
anatómicas mais afetadas foram o
joelho (22%) e o tornozelo (22%). 5
O predomínio das lesões muscu-
loesqueléticas de sobreuso tam-
bém foi relatado por Kaufman KR
e colaboradores que analisaram os
estudos realizados até 2000 sobre
lesões decorrentes do treino militar
na Marinha e Exército dos Estados
Unidos da América. 6 Estes autores
reportaram ainda que a maioria das
lesões ocorre a um nível anatómico
igual ou inferior ao joelho, realidade
corroborada por este estudo. 6
A morbilidade associada aos
acidentes em análise é deveras
impressionante e traduz uma
importante causa de incapacidade
para o serviço com inerente perda
de produtividade laboral. Esta é
superior à decorrente das situações
de doença. 6,7 Mesmo em cenários de
guerra, as lesões resultantes deste
tipo de acidentes são a principal
causa de evacuações. 7
Conclusões
Este estudo apresentado constitui
um inédito e inequívoco contributo
para a contextualização e clarifica-
ção da realidade dos acidentes ocor-
ridos durante a prática de exercício