Revista de Medicina Desportiva Informa Novembro 2019 | Page 19
que de acordo com o EPACI Portugal
2012 (Rêgo C, 2013), Estudo representa-
tivo nacional do Padrão Alimentar e de
Crescimento Infantil (12-36 meses), que
se regista incumprimento da suple-
mentação em vitamina D durante o 1º
ano de vida para 31,7% dos lactentes,
devendo ser reforçada, por parte dos
profissionais de saúde, a vigilância
do seu cumprimento. Entretanto, a
mudança do estilo de vida, transversal
aos estratos sociais e particularmente
nas sociedades desenvolvidas, tem
levado a preocupação crescente acerca
da adequação dos níveis séricos nesta
vitamina durante a idade pediátrica.
Em Portugal não existe um retrato
nacional, mas um estudo realizado
com crianças e adolescentes (2-18
anos) do Norte do país aponta para a
prevalência de deficiência em vita-
mina D de 47,8% (dos quais 6% defi-
ciência grave) e 44,8% de insuficiência,
o que perfaz uma prevalência de
92,5% de inadequação (Ferreira S, APP
2012). Estes valores são concordantes
com um estudo espanhol (Helena
Study) que encontra uma prevalência
de deficiência perfeitamente sobrepo-
nível (47,8 %). A ESPGHAN recomenda,
durante a idade pediátrica, a identi-
ficação e suplementação de grupos
de risco, entendidos como crianças e
adolescentes obesos, de pele escura,
ou que apresentem um estilo de vida
sedentário e não compatível com uma
exposição solar garante de adequada
síntese cutânea desta vitamina
(ESPGHAN, 2013). Por curiosidade,
importa referir que a latitude, bem
como a hora do dia e a estação do
ano, ao interferirem com a inclina-
ção e a intensidade da radiação, têm
importância na síntese cutânea desta
vitamina (Godar DE, 2012). Conclui-se
que para otimização da saúde óssea
através do comportamento alimentar,
importa garantir adequada ingestão
de cálcio e de vitamina D através da
ingestão diária de alimentos ricos nes-
tes dois nutrientes (300-400 ml/dia de
lácteos), bem como a ingestão regular
de peixes gordos e ovo, cuidados que
devem ser integrados na alimentação
variada e equilibrada.
Oportunamente foi referida a
importância do exercício físico como
fator independente de acréscimo
de MO. A literatura é consensual
na demonstração de valores de MO
significativamente superiores em ado-
lescentes atletas comparativamente
a controlos sedentários, bem como
menor risco de fratura (Hosh D, 2009).
A vantagem do exercício físico é maior
quando este é de impacto no solo ou
quando implica contractura dos gran-
des grupos musculares perpendicu-
larmente ao longo eixo do osso (treino
de força) e, na adolescente feminina,
quando tem início antes da menarca
(Magnus K, 2008). Num estudo de
intervenção caso-controle realizado
em adolescentes escolares da cidade
do Porto, a suplementação em cálcio
através da administração diária de
um iogurte em simultâneo com o
aumento semanal de duas aulas de
exercício físico de impacto (basquete-
bol), resultou num incremente maior
de massa óssea comparativamente à
administração do cálcio (sob a forma
de iogurte) ou da prática de exercício
físico (basquetebol), quando consi-
derados isoladamente (Rêgo C, 2008).
Torna-se claro que o incremento de
MO é mais eficaz através da associa-
ção da adequada ingesta de cálcio
com um estilo de vida fisicamente
activo. Importa fazer referência a duas
modalidades desportivas em particu-
lar, a ginástica desportiva e a natação,
de forma a chamar a atenção para a
necessidade de vigilância adequada
da saúde, e em particular da saúde
óssea, bem como para demonstrar
que o acompanhamento regular
permite o crescimento adequado,
mesmo na presença da prática de
exercício físico de alta-competição.
A prática de ginástica de competição
está historicamente associada a risco
aumentado de ocorrência da tríade da
atleta feminina (magreza, amenorreia
primária e compromisso de MO). A
componente de compromisso de MO
que integra a triada da atleta feminina
poderá ser ultrapassada com uma
adequada orientação nutricional e
vigilância médica, independentemente
do estado nutricional. Efetivamente,
caso estas premissas estejam garan-
tidas, o efeito do exercício de per si
e a adequação da ingesta em cálcio
garantem a adequada formação de
MO, independentemente do compro-
misso nutricional (Corujeira S, 2013). Os
nadadores de competição represen-
tam outro grupo de atletas a neces-
sitar de vigilância da saúde óssea. A
natação é uma modalidade em que o
efeito benéfico do peso corporal para
a formação de MO é marcadamente
atenuado. Por outro lado, a partir dos
13-14 anos, é frequente iniciarem-se
treinos bidiários, sendo elevada a
intensidade de treino durante cerca de
duas horas. No contexto de vigilância
da saúde de uma equipa de nadadores
adolescentes, foi observada, após um
treino, uma hipercalciúria cerca de
cinco vezes superior à calciúria regis-
tada após um período de destreino
de mais de 12 horas ou em repouso
(Rêgo C, 1999). De referir ainda, que as
atletas femininas apresentam maior
prevalência de amenorreia secundária
(por frenação periférica) quando com-
paradas com adolescentes controlos
sedentárias. No que respeita à MO,
observaram-se valores de zsc DMO
inferiores para os atletas, ainda que
sem diferença com significância esta-
tística (Rêgo C, 1999). Esta constatação
alerta para a importância da orienta-
ção nutricional destes atletas, particu-
larmente no que reporta a ingesta de
alimentos ricos em cálcio e vitamina
D, bem como para a importância da
monitorização da MO durante a ado-
lescência.
Mensagens finais
• A formação de massa óssea, muito
embora na dependência de facto-
res genéticos e da saúde em geral,
apresenta uma forte associação
com o comportamento alimentar
e a actividade física, dois factores
modificáveis na dependência do
estilo de vida.
• Muito embora a osteoporose seja
uma doença com expressão na
idade adulta, a sua génese ocorre
em idade pediátrica. Efetivamente,
o pico de massa óssea atinge-se na
2ª década de vida, pelo que a vigilân-
cia da saúde óssea deve fazer parte
da vigilância da saúde em idade
pediátrica.
• Hábitos alimentares na dependência
de “modas” e certas modalidades
desportivas poderão resultar em
compromisso irreversível da MO.
• É importante determinar grupos de
risco relativamente à saúde óssea,
permitindo a intervenção precoce.
• ·No que respeita à suplementação
com vitamina D, deve ser ponde-
rada a suplementação, transversal
à idade pediátrica e durante os
meses de outono e inverno, em
todas as crianças e adolescentes
de risco.
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