Revista de Medicina Desportiva Informa Novembro 2019 | Page 10
esta temática. 6 No período de dois
anos foram identificados 132 casos
de morte súbita relacionados com
o esforço, 84% das quais ocorreram
em rapazes, com a média de idades
igual a 16 anos (amplitude: 11 – 17
anos), em que a 93% das situações
foram testemunhadas. A taxa global
de sobrevivência foi igual a 48%,
mas quando um treinador esteve
envolvido na ressuscitação a taxa de
sobrevivência subiu para 83%. Mais:
quando no local existia um DAE, este
valor subiu ainda mais para 89%. Este
estudo revela duas importantes con-
clusões: a atuação de pessoa treinada
em suporte básico de vida e em DAE
e a utilização rápida, precoce, deste
dispositivo melhora a taxa de sobre-
vivência no caso de morte súbita
de causa cardíaca. A existência de
pessoal treinado, os primeiros a res-
ponder, “mesmo que não sejam eles a
fazer as manobras de ressuscitação,
mesmo assim eles têm um papel
importante no controlo do local (habi-
tualmente de pânico), na busca do
equipamento e na ativação do PAE”.
Outro aspeto importante defen-
dido no texto refere-se ao “time-out
médico” a ocorrer antes dos eventos
desportivos. O objetivo deste curto
briefing para “os primeiros a respon-
der” passa por constatar que todo o
pessoal está presente, conhecer as
partes envolvidas, analisar potenciais
aspetos que possam ocorrer, conhecer
as diversas vias de acesso ao recinto
desportivo, saber quem é responsável
por orientar as ambulâncias e abrir
portas, onde se localizam os DAEs,
se estão facilmente acessíveis e se
as baterias estão carregadas. Estima-
-se que uma em cada cinco para-
gens cardíacas em ambiente extra-
-hospitalar ocorre perto de um DAE
inacessível. 7 Entretanto, não esquecer
que este plano também se aplica aos
espetadores, mais idosos e com mais
problemas cardíacos, especialmente
com doença das artérias coronárias.
O texto termina com a opinião do
Dr. Matthew W. Martinez, co-director
do ACC’s Care of the Athletic Heart
Live Course, a qual vale a pena citar:
“Todos concordamos que nenhum
programa de rastreio será alguma vez
perfeito, de modo que o modo mais
simples para se ter a certeza que se
está a cuidar dos atletas, e dos outros,
é ter um Plano de Emergência Médica
e rápida disponibilidade a um DAE”.
8 novembro 2019 www.revdesportiva.pt
Bibliografia
1. Debra L. Beck. Gearing Up for Back to School:
The Basics of Sports Cardiology. American
College of Cardiology. Ago 2019; https://
www.acc.org/latest-in-cardiology/arti-
cles/2019/08/18/24/42/cover-story-gearing-
-up-for-back-to-school-the-basics-of-
-sports-cardiology.
2. Conley KM, Bolin DJ, Carek PJ, et al. J Athl
Train 2014; 49:102-20.
3. Williams EA, Pelto HF, Toresdahl BG, et al. J
Am Heart Assoc 2019; 8(14).e012235.
4. Conley KM, Bolin DJ, Carek PJ, et al. J Athl
Train 2014; 49:102-20.
5. Maron BJ, Thompson PD, Maron MS. J Am
Heart Assoc 2019 Jul 16; 8:e013007.
6. Drezner JA, Peterson DF, Siebert DM, et
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7. Sun CL, Demirtas D, Brooks SC, et al. J Am
Coll Cardiol 2016; 68:836-45.
Dr. José Ramos
Medicina Desportiva.
Gondomar
Dose of Jogging and Long-Term
Mortality: The Copenhagen City
Heart Study 1
Resumo e comentário:
Nesta edição trazemos um estudo
publicado em 2015, mas que se
mantém muito atual e serve para
orientar a prescrição do exercício
físico (EF). A questão central é saber
a dose (intensidade) e a frequência
da “terapêutica”. Contudo, importa
salvaguardar a saúde do praticante
e, acima de tudo, prevenir a morte
súbita (MS) associada à prática de EF.
Há muitos relatos de MS associadas
à prática da corrida (e não só), a mais
antiga refere-se ao grego Pheidippides,
que em 490 a.C. correu de Marathon
até Atenas, cerca de 40km, para dar
a notícia da vitória sobre os persas,
tendo morrido depois. Também a
morte do nosso maratonista Lázaro,
nos Jogos Olímpicos realizados no
início do século passado em Esto-
colmo, que morreu dias depois da
corrida merece atenção. Mutos
casos estão publicados na literatura
especializada e na imprensa. Apesar
destas fatalidades, desde há muito
que se associam benefícios para a
saúde e longevidade com a prática de
EF. Neste texto refere-se o trabalho
de Morris et al., publicado em 1953,
revelando que “a mortalidade por
doença coronária cardíaca (DCC) era
mais de duas vezes mais frequente
nos condutores sedentários de
autocarros de Londres em compa-
ração com os revisores fisicamente
ativos”, o que levantou a hipótese da
associação entre a atividade física e a
prevenção da doença coronária. Anos
mais tarde, o Presidente norte-ameri-
cano Lyndon B. Johnson veio dar uma
ajuda a este conceito, referindo que
a “evidência médica que os nossos
corações, pulmões, músculos e até as
nossas mentes precisam dos efeitos
do exercício regular e vigoroso”. Esta
declaração veio provocar a elabora-
ção sobre muitas recomendações
para a prática de EF, sendo talvez a
“mais famosa” aquela que refere a
necessidade para o adulto de mais
de “30 minutos de atividade física de
intensidade moderada, de preferên-
cia diariamente”. Contudo, a ocorrên-
cia de mortes durante as provas de
atletismo (e de outras) questionava
o EF, especialmente a intensidade
envolvida. O Copenhagen City Heart
Study veio dar um grande contributo
e esclarecer que “a intensidade rela-
tiva da marcha e do ciclismo, e não a
duração, era de grande importância
em relação à mortalidade por todas
as causas e por DCC:” a sobrevivência
entre os joggers (n= 1878) era 6,2 anos
nos homens e 5,6 anos nas mulheres
superior em relação aos não-joggers
(n= 16 827), com período de segui-
mento até 35 anos. O interessante do
estudo é que correr a pé até 2,5 h/
sem, com passada baixa ou média, 3
ou mais vezes /semana esteve asso-
ciado com a mortalidade mais baixa,
ao passo os que corriam mais de 4h/
sem, passada rápida, mais 3 vezes/
semana “pareciam ter perdido muitos
dos benefícios de longevidade que
ocorrem com níveis de intensidade
inferiores”. Este facto motivou os
autores deste artigo a analisarem a
relação em “U” entre mortalidade e “a
dose” da corrida.
O Copenhagen City Heart Study é
um estudo prospetivo que envolveu
19 329 pessoas, caucasianas, com
idades compreendidas entre 20 e 86
anos, tenso sido excluídas as pessoas
com DCC, AVC e cancro, pelo que a
amostra final foi de 1 098 joggers e
3950 não-joggers saudáveis. Foram
definidos quatro níveis de atividade
física: grupo I – quase inteiramente