Revista de Medicina Desportiva Informa Novembro 2019 | Page 18

Rev. Medicina Desportiva informa, 2019; 10(6):16-17. https://doi.org/10.23911/APO_25anos_2019_11 6.º ENCONTRO CIENTÍFICO APO AME OS SEUS OSSOS Prof. Doutora Carla Rêgo Pediatra. Mestrado em Medicina Desportiva e Doutorada em Pediatria pela FMUP. Investigadora do CINTESIS. Leça da Palmeira. Osteoporose: uma doença do adulto com génese em idade pediátrica A formação de massa óssea (MO) depende de fatores genéticos, da homeostasia endócrina (paratormona, calcitonina, vitamina D, esteroides sexuais), de fatores ambientais (ali- mentação e atividade física) e ainda da saúde em geral. Na otimização do capital ósseo de um indivíduo existem fatores não modificáveis associados a características individuais (genética, raça, sexo), a patologia óssea primária (osteogénese imperfecta, osteoporose juvenil idiopática...), ou secundária (doenças auto-imunes, doenças com compromisso da mobilidade, como paralisia cerebral ou distrofias mus- culares, insuficiência renal crónica, doenças malabsorptivas), e fatores modificáveis, tais como a alimentação e a atividade física (Golden NH, Pedia- trics 2014). A MO tem início durante a vida intrauterina e forma-se durante a idade pediátrica, sendo o pico de massa óssea (MO) atingido no final da segunda década de vida e depende do estado de saúde em geral, do equilí- brio da oferta alimentar global, e em cálcio e vitamina D em particular, e da atividade física. Durante a adolescên- cia regista-se acréscimo de cerca de 60% de MO, sendo 90% do pico de MO (PMO) atingido por volta dos 18 anos, idade que coincide com o limite supe- rior da idade pediátrica em Portugal, sendo o ambiente hormonal adequado fundamental, nomeadamente em esteroides sexuais (estrogénios e tes- tosterona). Assim, ao avaliar a saúde óssea na adolescência, importa consi- derar a maturidade biológica (estádio 16 novembro 2019 www.revdesportiva.pt pubertário de Tanner), particularmente em situações de puberdades tardias. A idade pediátrica é importante na génese da saúde óssea, pois quanto maior o valor do PMO atingido, maior o capital ósseo a gerir durante a idade adulta e, consequentemente, menor o risco de osteoporose e de fratura osteo- porótica em idades mais avançadas. Considerando a idade pediátrica como um período crucial para a génese da boa saúde óssea para a vida, importa otimizar a MO indivi- dual através intervenção nos fatores modificáveis, nomeadamente promo- vendo hábitos de vida saudáveis desde as idades mais precoces, baseados na alimentação variada e equilibrada e na prática regular de exercício físico, predominantemente ao ar livre. O equilíbrio e a variedade da alimentação são importantes, mas a ingesta de cálcio é determinante. A ingestão recomendada de cálcio durante a infância e adolescência (1-18 anos) varia entre 700-1300 mg/ dia (Institute of Medicine, 2010). Os principais alimentos fornecedores de cálcio são os produtos lácteos (leite, iogurte e queijo), podendo este macro- mineral ser encontrado na sardinha, no tofu, na aveia e nos vegetais de folha verde escura entre outros, muito embora o seu teor e particularmente a sua biodisponibilidade sejam franca- mente mais reduzidos nos alimentos de origem vegetal. Por exemplo, 1 copo de leite (250 ml) ou 2 iogurtes (300 g) contêm cerca de 300 mg de cálcio, valor que só será possível obter com a ingestão de 660g de brócolos ou 200g de espinafres ou 250g de grão-de-bico, ficando ainda estas fontes vegetais a “perder” por menor biodisponibilidade. As “novas tendências” ou “modas” ali- mentares praticadas por adultos têm extrapolado para a idade pediátrica, resultando na utilização crescente de bebidas vegetais (de arroz, de soja, de aveia, de amêndoa) em substitui- ção dos lácteos. Importa claramente referir que, no que reporta à idade pediátrica, a utilização das bebidas vegetais não deve ocorrer antes dos 3 anos de idade (ESPGHAN) e nunca deverão ser consideradas substitutas dos lácteos. Efetivamente, são bebidas ou sumos vegetais com composição desequilibrada, que utilizam proteína de menor qualidade (vegetal), por vezes com um baixo teor (arroz, aveia, amêndoa), elevado teor em hidratos de carbono, particularmente açúcares (aveia, arroz) e, muito embora enrique- cidas em cálcio, é desconhecida a sua biodisponibilidade. Para além do cálcio, a vitamina D é uma hormona fundamental para a homeostasia óssea. Cerca de 90% da vitamina D necessária à saúde provem da síntese cutânea e 10% é proveniente da alimentação. Os alimentos mais ricos em vitamina D são os lácteos, os peixes gordos e o ovo. Sabe-se atualmente que esta hormona regula mais de 200 genes e tem recetores em todos os órgãos, pelo que a importância da adequação do status em vitamina D da gestante é importante para a saúde óssea do seu descendente, bem como respon- sável pela “programação” do número de recetores celulares nos diferentes órgãos, com repercussões na saúde futura. Na idade adulta está demons- trada a causalidade entre deficiência em vitamina D e patologia cardiome- tabólica, psiquiátrica, neurológica e neoplásica, muito embora para a idade pediátrica a causalidade apenas esteja provada para a saúde óssea e cresci- mento. No entanto, a investigação tem cada vez mais apontado associação entre défice de vitamina D e maior risco de doença alérgica (dermatite atópica, asma), doença auto-imune (artrite reumatoide, lupos, diabetes tipo 1) e neoplásica (linfoma) em idade pediátrica, bem como a melhoria do status nesta vitamina se associa a melhoria dos parâmetros de doença. As recomendações apontam para necessidades diárias de vitamina D na ordem das 400UI nos dois primeiros anos de ida, subindo para 600UI/d dos 4 aos 18 anos, devendo a suplementa- ção ser universal durante o 1º ano de vida (ESPGHAN, 2013). Importa referir