Revista de Medicina Desportiva Informa Novembro 2016 | Page 20

medida em que não se trata de uma articulação de carga . Apesar disto , trata-se da articulação com maior amplitude de movimentos do corpo humano e aquela com maior incongruência entre superfícies articulares . Como tal , os principais riscos da substituição artroplástica são o desgaste e descolamento precoces , em particular do componente glenoideu , e a instabilidade articular 10 , 50 . Apesar de Poppen e Walker 51 terem verificado que as forças perpendiculares à articulação gleno-umeral ( braço em abdução ) poderiam ser próximas do peso corporal , Collins et al . 52 concluíram que a principal causa de descolamento do componente glenoideu são as cargas excêntricas sobre o mesmo , que ocorrem frequentemente em alguns desportos . À semelhança das artroplastias da anca e joelho , a fixação não cimentada parece ter vantagens em pacientes novos e ativos em comparação com a fixação cimentada 10 . O tipo de prótese do ombro ideal para pacientes ativos depende várias fatores , entre os quais a integridade da coifa dos rotadores . Recentemente tem-se verificado alargamento das indicações e uma tendência crescente para aplicação da artroplastia gleno- -umeral invertida em comparação com a artroplastia anatómica e a hemi-artroplastia 10 , 53-57 .
Em teoria , os desportos de contacto e aqueles que solicitam mais e exigem maior amplitude de movimentos aos ombros , tais como halterofilismo , andebol , voleibol , ténis , hóquei , golfe , ginástica , entre outros , colocam os seus praticantes em risco mais acentuado de desgaste , descolamento e traumatismos do ombro artroplástico , com consequente necessidade de segunda cirurgia precoce , não devendo ser recomendados 9 , 10 , 58 , 59 .
Os estudos sobre prática desportiva em pacientes com artroplastia gleno-umeral são escassos . Jensen e Rockwood demonstraram que 96 % dos 24 pacientes do seu estudo regressaram à prática de golfe recreativo , a maioria com melhor desempenho desportivo após substituição artroplástica do ombro ( artroplastias anatómicas e hemi-artroplastias ) 58 . Os autores não identificaram diferenças significativas na prevalência de sinais radiológicos de descolamento protésico em comparação com um grupo controlo não desportista ao longo de tempo médio de seguimento de 53.4 meses . Um trabalho em 75 desportistas submetidos a artroplastia do ombro ( artroplastias anatómicas e hemi-artroplastias ), com seguimento médio de 3.7 anos , verificou que 71 % destes melhoraram a sua performance desportiva , 50 % aumentaram a frequência de prática da atividade física em comparação com o pré-operatório e 19 % não regressaram à prática desportiva após a cirurgia artroplástica do ombro 59 . Apenas quatro destes pacientes foram submetidos a uma segunda cirurgia , três delas artroscópicas de desbridamento e a outra de remoção do componente glenoideu devido ao seu descolamento . Apesar destes números , os autores não garantem que a taxa de descolamento não seja superior , na medida em que muitas vezes numa fase inicial o paciente está assintomático e já apresenta sinais radiológicos de descolamento 59 , 60 . Um estudo prospetivo em 100 pacientes submetidos a artroplastia total anatómica do ombro , com tempo médio de seguimento de 2.8 anos , verificou que apenas 6 % dos que praticavam desporto previamente não regressaram à prática de exercício físico após a cirurgia artroplástica 61 . Dos pacientes que regressaram ao desporto , 69.4 % regressaram à mesma modalidade praticada previamente com o mesmo nível de intensidade , enquanto os restantes , devido a limitações relacionadas com o ombro , particularmente em amplitude de movimentos e força , optaram por mudar de modalidade desportiva . De maneira semelhante , um estudo com 67 pacientes ( idades : média de 74.8 anos e intervalo 49.9-92.6 ) que praticavam pelo menos um desporto no pré-operatório e que foram submetidos a artroplastia invertida do ombro , verificou com um tempo de seguimento médio de 31.6 meses que 85.5 % da amostra regressou à prática desportiva . O regresso ao desporto foi significativamente inferior para os pacientes com idade superior a 70 anos 56 .
Estes trabalhos , apesar de demonstrarem que a frequência , nível e intensidade da prática desportiva após a artroplastia do ombro , mesmo de desportos com elevada solicitação dos ombros ( por exemplo , ténis e golfe ), são equivalentes às verificadas previamente à omartrose , nenhum deles tem tempo de seguimento e número de casos suficientes para avaliar os riscos para a duração da prótese articular 53 , 56 , 58 , 59 , 61 .
Recomendações gerais atuais
A ausência atual de estudos prospetivos aleatorizados de grande dimensão com avaliação da duração das próteses articulares leva a que a conduta corrente em relação à prática desportiva em pacientes com artroplastias seja apenas baseada na opinião de especialistas no tema , havendo portanto um reduzido nível de evidência científica 1 , 19 . O fundamental é analisar caso a caso , discutir pré- -operatoriamente os objetivos e expetativas do paciente e procurar que o tipo e técnica de artroplastia e de reabilitação efetuados os permitam adequar aos resultados finais 4 , 5 , 49 , 50 . Os pacientes devem ser encorajados a manter-se fisicamente ativos , sendo incentivada a prática de desportos de baixo impacto naqueles com próteses nas articulações de carga 4 , 5 , 10 . Os que desejam praticar desportos de alto impacto devem ser informados e compreender os riscos teoricamente associados a esse tipo específico de desporto , particularmente em termos de desgaste , descolamento , instabilidade e fraturas na região da prótese articular , com consequente necessidade de cirurgia ou cirurgias de revisão precoces . A decisão de praticar determinado desporto deve ser do paciente , após ponderação entre riscos e benefícios na posse de toda a informação necessária 1 , 4 , 9 , 10 , 49 . Antes de iniciar a prática desportiva , é recomendada reabilitação intensiva e controlada das articulações envolvidas e do tronco , com o objetivo de reforçar e proteger a neo-articulação , procurando assim diminuir a incidência de falências da prótese e prevenir lesões articulares 1 , 9 , 10 . Além disso , estes pacientes devem ter um controlo clínico-radiológico assíduo da sua artroplastia , de modo a detectar e intervir precocemente nas complicações que possam surgir 4 .
Bibliografia
Bibliografia em : www . revdesportiva . pt ( A Revista Online ) 18 Novembro 2016 www . revdesportiva . pt