Revista de Medicina Desportiva Informa Novembro 2013 | Page 5

Caso clínico Rev. Medicina Desportiva informa, 2013, 4 (6), pp. 3–5 Luxação da anca no desporto Dr. Tiago Pinheiro Torres1, Dr. André Sarmento2, Dr. J. Campos Lemos3 1 Interno Complementar, 2Assistente, 3Assistente Graduado. Serviço de Ortopedia, CHVNG – Espinho, EPE. Vila Nova de Gaia RESUMO / ABSTRACT As luxações da anca em atletas devem ser encaradas como lesões sérias, que podem estar associadas a significativa morbilidade e levar a incapacidade permanente. Os autores apresentam dois casos de luxações posteriores simples durante a prática de futebol e badminton. Após redução sob sedação, os atletas iniciaram um programa de reabilitação rigoroso. Sabe-se que o diagnóstico precoce, a redução imediata e um protocolo de reabilitação pós-lesão bem conseguido constituem a abordagem ideal para otimizar o desfecho e minimizar as complicações. Ortótese estabilizadora da anca com abdução Hip displacement on athletes must be considered seriously, since they can be associated with significant morbidity and lead to permanent disability. The authors describe two clinical cases of simple posterior hip displacement occurred while the athletes were playing soccer and badminton. After reduction under sedation, the athletes enrolled a strict rehabilitation program. It is known that the early diagnosis and reduction of the displacement and a succeeded protocol of rehabilitation after the injury are the best approach to optimize the outcome and minimize the complications. PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS Luxação da anca, reabilitação da anca, atletas. Hip displacement, hip rehabilitation, athletes. Introdução As luxações traumáticas da anca são emergências ortopédicas que requerem diagnóstico preciso e atuação clínica precoce. São situações raras que se devem sobretudo traumatismos de elevada energia, como nos acidentes de viação.1 Chudik et al estimam que de todas as luxações da anca traumáticas, apenas 2-5% ocorrem durante a atividade desportiva.2 As luxações da anca em atletas devem ser encaradas como lesões sérias, que podem estar associadas a significativa morbilidade e levar a incapacidade permanente. Podem ser descritas como anteriores ou posteriores. Estas últimas correspondem a cerca de 85% de todas as luxações da anca e a cerca de 90% das luxações que ocorrem em atletas. A maioria das luxações descritas na literatura associadas a prática desportiva é simples, sendo raramente necessário o seu tratamento cirúrgico. Quando estão associadas a fraturas acetabulares ou da cabeça femoral o seu prognóstico agrava.3 A rápida redução da luxação é imperativa de modo a limitar o risco de necrose avascular da cabeça femoral que ocorre em 0-22% dos atletas4, minimizar a potencial neuropatia do nervo ciático, a artrose pós-traumática que ocorre em 3-48% dos desportistas5 ou a ossificação heterotópica.3 Há inúmeras manobras descritas para reduzir as luxações da anca, sendo mais ou menos consensual a descrita por Allis, é a mais segura, menos traumática e tecnicamente mais fácil de realizar (Figura 1). A redução cirúrgica está reservada apenas a casos de impossibilidade de redução fechada ou de reduções não concêntricas pela presença de fragmentos intra-articulares.6 A incidência verdadeira deste tipo de traumatismo não é conhecida devido à raridade destes eventos quando associados a traumatismos de baixa energia. Apesar de existirem na literatura casos descritos de luxações da anca no contexto da prática desportiva, como em jogadores de râguebi, futebol, basquetebol, praticantes de esqui, ginastas e ciclistas, não existe um consenso relativo à sua fisiopatologia e quanto ao seu tratamento e retoma à atividade física.7-16 Sabe-se, no entanto, www.interorto.pt Revista de Medicina Desportiva informa Novembro 2013 · 3