Revista de Medicina Desportiva Informa Novembro 2013 | Page 31

Avançando para o seu bem estar !
caraterísticas de crescimento desde as fases mais precoces da programação metabólica , ou seja , desde as experiências nutricionais in útero que , ao condicionarem o estado nutricional e a composição corporal ao nascimento , marcarão irreversivelmente o padrão de crescimento e da composição corporal , mas também a trajetória da expressão do binómio saúde / doença daquele indivíduo . O pediatra tem ainda o privilégio de ser o profissional que melhor conhece as experiências de vida da família e do adolescente e , consequentemente , aquele que se encontra mais capacitado para avaliar a sua maturação psico-comportamental , aspeto cada vez mais relevante na avaliação do estado de saúde . O pediatra tem , assim , o privilégio de ter um panorama dinâmico e contextualizado na família e na sociedade , de todo o crescimento e maturação .
Torna-se , pois , difícil de entender como é que o Instituto Português do Desporto e Juventude , I . P . ( IPDJ , I . P .) exige que uma decisão de um pediatra relativamente a um aspeto básico da avaliação do estado maturativo de um adolescente , tenha que ser validada por um especialista em medicina desportiva … mas não um qualquer … um que pertença ao Centro de Medicina Desportiva de Lisboa ( do IPDJ , I . P .), sendo que mesmo o primeiro não é idóneo só por si , pois tem que submeter a sua opinião à validação do Diretor dos Serviços de Medicina Desportiva do IPDJ , I . P .!
Para além deste “ aspeto de pormenor ” relativamente à notória “ desautorização ” do pediatra relativamente às suas capacitações ( e do Especialista em Medicina Desportiva !), analisando o protocolo proposto , há alguns aspetos que ultrapassam a mera formalidade e levantam questões de ética porque questionam a boa prática médica , a saber : a ) a radiografia pulmonar implica radiação não desprezível e … em criança / adolescente saudável e sem queixas está formalmente contra-indicada porque carece de fundamento ; b ) a radiografia do punho e da mão esquerda para avaliação da idade óssea é um método com alguma sensibilidade e recomendado , nomeadamente para este efeito , enquanto que … c ) as radiografias da coluna lombo- -sagrada e bacia deverão ser consideradas apenas em situações de suspeição de patologia e , nestes casos particulares , a decisão da sua realização caberá ao clínico que segue o atleta . Assim , nunca deveria constar de um protocolo de avaliação / rastreio ; d ) a avaliação da composição corporal num atleta de competição tem todo o cabimento na monitorização do indivíduo ao longo da época , mas é completamente descabida como critério de avaliação da maturação pois … é sobretudo consequência da intensidade / frequência e das caraterísticas da modalidade praticada ! Mais , a utilização das pregas cutâneas em atletas está praticamente proscrita pelo elevado grau de erro ( mesmo com avaliadores bem treinados ) e exigir , neste âmbito , que se use uma bioimpedância indireta ou direta ou ainda um DXA de corpo inteiro … é um preciosismo gastador sem qualquer fundamento científico ou utilidade prática ; e ) finalmente , a avaliação do estadio maturativo de Tanner faz parte do exame físico de qualquer criança / adolescente e deverá ser ajustado à avaliação da idade maturativa ( idade óssea ). Quanto à avaliação cardiológica , ela deverá seguir as recomendações vigentes para atletas de competição e não adquire qualquer particularidade no âmbito do exame de sobre- -classificação , como a literatura demonstra e o Professor Ovídio Costa claramente tem apregoado . A prática clinica deve ser pautada pela seriedade e responsabilidade e os exames subsidiários devem ser claramente equacionados e fundamentada a sua relevância .
A vigilância da prática desportiva em idade pediátrica – afinal a idade em que se treinam e selecionam os atletas de competição – deve ser pautada pelo respeito pela saúde atual e futura destes jovens … e esse respeito começa na vigilância de alguns programas de treino aplicados em algumas modalidades e em alguns clubes , em que a exigência física e psicológica é perfeitamente desajustada de qualquer organismo humano … por mais maturo que ele esteja .
Talvez seja aqui que o IPDJ , I . P . deva incidir a sua vigilância e controle apertados … não complicando atos para os quais os profissionais de saúde estão capacitados , uma vez que fazem parte da sua formação profissional e da sua responsabilidade ética mas … sobretudo não complicando a vida dos atletas e o bolso dos seus pais !
Um excelente manual relativamente à vigilância médico-desportiva e particularmente relativamente a este item é o documento “ Memorando de boas práticas para a Medicina Desportiva Portuguesa ” coordenado pelo Dr . Basil Ribeiro e apresentado ao Sr . Secretário de Estado do Desporto e da Juventude . Conta com a colaboração de dezenas de especialistas portugueses e a sua aplicação constituiria uma importante mais-valia para médicos e atletas .

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