Revista de Medicina Desportiva Informa Novembro 2013 | Page 18

Atrofia dos músculos isquiotibiais Atrofia do músculo tibial anterior Os músculos isquiotibiais, bicípite femoral, semitendinoso e semimembranoso são inervados pelo nervo ciático (porção tibial), com exceção da curta porção do músculo bicípite femoral, que é inervada pelo peronial comum. A maioria das lesões do nervo ciático em contexto desportivo ocorre após traumatismo tipo contusão, fraturas descoaptadas da anca ou hematomas no compartimento posterior da coxa. Esta lesão é mais frequentemente observada em desportos de contacto, em desportos motorizados e no ciclismo. Em atletas de modalidades de endurance está descrita uma entidade conhecida como síndrome dos isquiotibiais, em que há compressão do nervo ciático ao nível da inserção do bicípite femoral na tuberosidade isquiática, por fibrose do músculo ou da aponevrose. O nervo ciático pode também ser comprimido ao nível da coxa em praticantes de ioga (pé pendente da posição em lótus)6. O teste muscular para o semimembranoso e para o semitendinoso é feito conjuntamente, estando o atleta em decúbito ventral. O atleta procede à flexão do joelho entre 50° e 70°, com a coxa e a perna em rotação interna. O observador resiste ao movimento, exercendo força contrária na parte distal da perna, sem aplicar força no componente de rotação. O teste para o músculo bicípite femoral é em tudo semelhante ao teste para os restantes isquiotibiais, no entanto, a coxa e a perna devem estar em ligeira rotação externa. O músculo tibial anterior é inervado pelo nervo peronial profundo, um dos ramos terminais do nervo peronial comum (raízes L4, L5 e S1). Este último é o nervo mais frequentemente envolvido em lesões do membro inferior associadas à prática desportiva7. Atendendo à proximidade com a cabeça do perónio e o trajeto superficial, torna-se suscetível a lesões por compressão após traumatismos diretos ao nível da cabeça peronial8. Tendo em conta a topografia dos fascículos nervosos a este nível, com as fibras profundas a situarem-se em posição mais anterior, muitos dos mecanismos lesionais que resultam em lesão do nervo peronial comum podem associar-se a lesão proximal isolada do nervo peronial profundo9. Este mecanismo lesional foi observado em modalidades como o futebol e o hóquei10. A compressão crónica pode ocorrer na presença de um osso sesamoide acessório ou de um estreitamento da fáscia do músculo longo peronial, que comprime o nervo em atividades repetitivas como a corrida9. As lesões de estiramento do nervo peronial comum podem ser encontradas quer com patologia do joelho (fraturas, luxações, roturas ligamentares), quer com patologia da anca. Carateristicamente, as lesões do Atrofia do músculo tricípite sural Figura 2 – O nervo peroneal comum Figura 3 16 · Novembro 2013 www.revdesportiva.pt joelho ocorrem quando um stress em varo é aplicado sobre o joelho com o pé apoiado. A neuropatia peronial pode surgir mesmo após traumatismos ligeiros, como nas entorses do tornozelo de grau I por tração do nervo peronial, geralmente ao nível da cabeça do perónio. De referir que esta neuropatia pode estar associada a causas iatrogénicas, como complicação de instrumentação cirúrgica ao joelho ou após crioterapia aplicada ao nível da cabeça peronial11. O quadro clínico da neuropatia peronial vai variar de acordo com o nível lesional. As lesões ao nível do joelho associam-se a fraqueza muscular na dorsiflexão do tornozelo e a hipoestesia nos territórios respetivos. A dor não é universal e quando presente está geralmente associada à causa específica da neuropatia peronial. Nas neuropatias do peronial comum, a fraqueza muscular é mais pronunciada nos músculos sob inervação do peroneal profundo em comparação com os inervados pelo peronial superficial, provavelmente devido a diferentes graus de afeção dos fascículos contidos no nervo peronial comum12,13,14. A avaliação muscular do tibial anterior pode ser efetuada com o atleta sentado ou em decúbito dorsal. Este deverá efetuar um movimento de dorsiflexão do tornozelo e inversão do pé sem realizar extensão do hallux. O examinador, por sua vez, deverá resistir ao movimento, aplicando força ao nível do bordo interno do dorso do pé (fig. 5). Figura 4 O músculo tricípite sural (constituído pelo músculo gastrocnémio e pelo músculo solear) é inervado pelo nervo tibial, ramo do nervo ciático (raízes L5, S1 e S2). A lesão do nervo tibial é rara dado o seu trajeto Figura 5 C M Y CM MY CY CMY K