Revista de Medicina Desportiva Informa Novembro 2012 | Page 30
ondas de choque radiárias, extra
corporais (entre outros) poderá ter
interesse, reservando-se a abordagem cirúrgica para último recurso.
Alguém acha importante a
infiltração com fatores de
crescimento?
Dr. Henrique Jones
Acho importante a administração
de PRP paralesional desde que exista
diagnóstico correto, controle imagiológico adequado e tempo recomendado (entre o 2.º e 5.º dias), e só em
algumas lesões de grau II e lesões
grau III (na minha opinião todas as
lesões de grau IV são cirúrgicas em
atletas de competição), nomeadamente em termos de velocidade e
qualidade cicatricial, num contexto
de um programa de tratamento e
regresso á competição adequados.
Dr. Gonçalo Borges
Não tenho experiência pessoal nesta
área, mas do que leio e revejo em
publicações nacionais e internacionais há uma confusão nos resultados desta ação. A lógica leva-me a
pensar que a infiltração local com
fatores de crescimento poderá ser
útil numa lesão do tipo 2 e algumas
3 com rotura diagnosticada não
esquecendo que a cicatriz pode ser
mais exuberante obrigando a uma
ação de reabilitação mais importante em termos de estiramento e
realinhamento de fibras.
Dr. Joaquim Agostinho tens
colaborado com esta terapêutica
com a ecografia?
28 · Novembro 2012 www.revdesportiva.pt
Dr. Joaquim Agostinho
Não, no entanto alguns dos colegas
que o fazem referem resultados
promissores, sobretudo no encurtamento dos tempos (sempre longos)
de recuperação destas lesões.
de dor. A correção do gesto técnico
também merece atenção.
Após a cura clínica, segue-se, ou
deveria seguir-se, o período de
reabilitação muscular, o qual é
importante, talvez determinante
para o regresso desportivo … sem
retorno.
Dr. Henrique Jones
Obviamente que o regresso á competição depende da gravidade da lesão
e da evolução cicatricial. No entanto,
sabemos que a fase de maturação
se dá a partir do 21.º dia (por vezes
até ao 60.º dia), o que implica que
qualquer lesão de fibras musculares
apenas deveria permitir a reinserção
no gesto desportivo a partir dessa
data.
Dr. Gonçalo Borges
A cura clínica deve ser entendida
como a condição do atleta para a
prática desportiva sem limitações,
pelo que deve ser bem encaminhado
para reabilitação. Esta deve ser total,
com boa cicatrização, boa homogeneidade tecidular, com um mínimo
de fibrose cicatricial e, mesmo que
esta exista, que as estruturas muscular vizinhas tenham flexibilidade
suficiente para compensar a rigidez
fibrótica. O equilíbrio muscular
em termos de ITs / Qf, com valores
próximos dos 80 a 90%, é mandatário. Há quem aceite valores de
50 a 60%, o que é manifestamente
insuficiente, considerando que este
valor desequilibra a biomecânica da
corrida e da estabilidade da bacia
relativa à potência do vasto anterior
em associação com o psoas-ilíaco,
facilitando o tilt e desequilibrando de
um lado para o outro. O programa
de reabilitação obriga a mobilidade
em amplitude completa, a qual varia
de atleta para atleta consoante a
atividade desportiva. Por exemplo, o
guarda-redes de futebol ou o jogador
de râguebi ao executar um pontapé
de arremesso de bola para a frente
tem a amplitude de
flexão da anca com
estiramento dos ITs
muito maior que
outra atividade noutro
atleta. O mesmo acontece na fase aérea
do salto em comprimento, onde os ITs
estão em estiramento
máximo e a flexão da
anca é total. A cura
clinica existe quando
há flexibilidade e
força muscular equilibradas e ausência
Quando é que o futebolista está
apto a treinar com bola, por
exemplo?
Dr. Paulo Beckert, qual a
importância do isocinético neste
momento?
Dr. Paulo Beckert
Os equipamentos isocinéticos são
caros, pelo que existe pouca disponibilidade para a sua utilização
pela grande maioria dos clínicos. O
isocinético é um equipamento que
permite quantificar a capacidade
muscular de gerar força e fornece
uma série de parâmetros uteis para
identificar assimetrias ou desequilíbrios musculares que se encontram entre os principais fatores de
risco para a ocorrência de lesões
musculares dos IT. Na posse dos
dados fornecidos pela dinamometria isocinética é possível objetivar
e quantificar programas específicos
de trabalho muscular com impacto
na prevenção de lesões. A relação
ITs/Qf, convencional ou funcional,
é utilizada na avaliação de atletas.
Os isocinéticos são importantes na
avaliação de atletas e é pena que
no momento atual não haja tanta
disponibilidade para a sua utilização
regular.
… e a ecografia a RMN podem dar
uma ajuda? …
Dr. Joaquim Agostinho
Sobretudo a RMN, muito sensível
para a presença de edema muscular,
permite adicionar confiança à
decisão, que será sempre clínica, de
“libertar” o atleta.