Revista de Medicina Desportiva Informa Novembro 2012 | Page 28

resistência são positivas ( testes musculares específicos ), o alongamento passivo é doloroso , a força muscular está diminuída e surge equimose tardia no caso de lesões mais graves .
Existe uma classificação de lesões musculares . Qual é e de que modo condiciona o prognóstico ? história prévia de lesão , a existência de fraqueza muscular , os desequilíbrios da força muscular ( assimetrias direito-esquerdo e na relação IT / Qf ) e a fadiga muscular .
Dr . Gonçalo Borges concordas com estes e / ou queres acrescentar mais algum ?
Dr . Gonçalo Borges Para mim a principal causa ou fator de risco é o défice de flexibilidade e o desequilíbrio muscular ITs / Qf . Há outros fatores biomecânicos , como seja a má técnica de corrida com excesso de carga excêntrica dos ITs , por exemplo . A esta situação também se associa a retração da cadeia muscular anterior condicionando tilt da bacia e excessiva tensão nos ITs , em especial na fase de contacto do calcâneo no chão e na fase excêntrica de força dos ITs . A recidiva tem a ver com o mau diagnóstico da primeira lesão e depois insuficiente tratamento . Não esquecer que o maior fator de risco da recidiva continua a ser o mau tratamento e a retoma precoce da atividade desportiva . Isto pode levar a dor cronica . Esta também está muitas vezes associada a calcificação na zona cicatricial , a qual pode originar compressão nervosa .
Eu sempre achei a fadiga o principal fator de risco inicial ?
Dr . Henrique Jones Fadiga implica sofrimento muscular por recuperação inadequada pontual ou cumulativa , significando lesões musculares microscópicas e alterações metabólico – energéticas do músculo . Neste contexto concordo que seja o ponto de partida para lesões de maior magnitude .
Dr . Paulo Beckert Sem dúvida que a fadiga também é um fator de risco relevante para a ocorrência de lesões dos ITs como se pode verificar , por exemplo , pela elevada incidência de lesões ocorridas no período final das partidas de futebol . No entanto , acho que esta situação , embora não em termos absolutos , decorre sobretudo aquando da existência de fatores como os referidos anteriormente , em que a menor capacidade muscular ( fraqueza ) se pode refletir por menor tolerância ao esforço .
R / Gonçalo Borges
A fadiga é um dos fatores de risco de qualquer lesão musculosquelética porque interfere com a proprioceção / coordenação , com o equilíbrio muscular agonista / antagonista . A fadiga favorece o estado de contratura muscular e este estado pode predispor a rotura num esforço de estiramento ou num arranque ou sprint mais agressivo .
Já agora , quais são os sinais e sintomas da lesão aguda dos músculos ITs ?
Dr . Henrique Jones Embora a semiologia esteja dependente do mecanismo e da gravidade da lesão , normalmente as queixas englobam dor e desconforto aquando da contração e alongamento ativo do músculo envolvido , as manobras de contração contra
Dr . Paulo Beckert Existe mais que uma classificação para as lesões musculares . Na literatura anglo-saxónica , e mais comumente utilizada , as roturas musculares são classificadas em grau I , II ou III conforme a severidade . No grau I a dor e contratura , o edema e perda de função são mínimos e é de esperar períodos de recuperação de 7 a 20 dias . Nas de grau II um maior de fibras é atingido ( rotura parcial ), a dor e contratura são mais expressivas , o edema e derrame são moderados e a perda de função é mais significativa . O prognóstico para recuperação é superior a 21 dias , podendo atingir os 2 meses . O grau III corresponde a uma rotura completa de músculo com uma perda completa da função , com prognóstico de inatividade longo , podendo ir até 6 meses . A escola francesa propõe uma classificação de natureza histopatológica que varia entre os estádios 0 e 4 de acordo com a clínica , os achados ecográficos e as alterações histopatológicas nas fibras musculares e no tecido conjuntivo de suporte . É mais complexa e menos utilizada na clínica , embora pessoalmente seja a classificação que dou preferência .
Após sentir dor na face posterior da coxa , é normal o atleta referir que teve apenas uma contratura . Existe de facto esta entidade clínica neste contexto e localização ou trata-se apenas de uma mera racionalização por parte do atleta ?
Dr . Gonçalo Borges Esta queixa prende-se com o estádio ou tipo de lesão facilmente classificáveis . Uma lesão dos ITs pode ir de estiramento , com desorganização das fibras musculares e edema , até a hemorragia intersticial ou a rotura propriamente dita . A importância
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