Revista de Medicina Desportiva Informa Novembro 2012 | Page 18
Tema 3
Rev. Medicina Desportiva informa, 2012, 3 (6), pp. 16–19
Amiotrofias no contexto
desportivo (2/3)
Dr. Camões-Barbosa, A.
Fisiatra. Hospital de Santo António dos Capuchos, Centro Hospitalar de Lisboa Central
Fig. 1 – Supraespinhoso
Fig. 2 – Infraespinhoso
Fig. 3 – Teste muscular do supraespinhoso
RESUMO ABSTRACT
As amiotrofias dos atletas são habitualmente causadas por radiculopatias cervicais
e mononeuropatias dos membros superiores. As mais frequentes atingem os nervos
mediano, cubital, axilar e radial. Neste contexto é particularmente importante a observação dos músculos supraespinhoso e infraespinhoso, estabilizadores da omoplata, deltoide,
bicípite braquial, tricípite braquial, primeiro interósseo dorsal da mão e eminência tenar. A
resolução espontânea é comum. O diagnóstico pode ser exclusivamente clínico. Os MCDT
mais relevantes são a eletroneuromiografia para confirmação e estadiamento, e a ressonância magnética para casos atípicos.
Athletes’ muscular atrophies are usually caused by cervical radiculopathies or mononeuropathies
of the upper limbs. These are most frequent on the median, ulnar, axillary and radial nerves. In this
context, observation of the supraspinatus and infraspinatus muscles, as well as of the stabilizers
of the scapula, deltoid, biceps brachii, triceps brachii, first interosseus of the hand and the thenar
eminence are particularly important. Spontaneous resolution is common. The diagnosis can be
exclusively clinical. The most relevant complementary means of diagnosis are electroneuromyography for confirmation and staging, and MRI for atypical presentations.
O supraespinhoso
testa-se pedindo
ao utente que, partindo da posição
neutra do ombro
com o cotovelo fletido a 90º, inicie a
abdução do ombro
contra resistência
(Figura 3).
O infraespinhoso testa-se pedindo
que, a partir da mesma posição
inicial, execute a rotação externa
contra resistência (Figura 4)2,3,4.
PALAVRAS-CHAVE KEYWORDS
Atrofia muscular, atletas, membro superior.
Muscular atrophy, athletes, upper limb.
Introdução
Na parte 1 desta série (Vol 3(3), Maio,
2012) foram abordados os aspetos
gerais do exame musculoesquelético do atleta. Nesta segunda parte
abordar-se-ão as amiotrofias dos
membros superiores. De acordo com
o trabalho de Krivickas et al. são as
mais frequentes no atleta (86%),
correspondendo maioritariamente a
neuropatias do mediano e a radiculopatias cervicais, mas também neuropatias dos nervos axilar, cubital e
supraescapular1. Na terceira parte
serão abordadas as amiotrofias do
membro inferior.
Por uma questão de sistematização, a observação do membro superior será de proximal advertindo-se que o segmento proximal não
deverá ser descurado na observação,
embora habitualmente tal aconteça
por estar coberto por roupa. A pesquisa de atrofias centra-se sobretudo na musculatura estabilizadora
da omoplata, no deltoide e nos
músculos intrínsecos da mão.
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Fig. 4 – Teste muscular
do infraespinhoso
Atrofia dos músculos
supraespinhoso e infraespinhoso
Estes músculos são inervados pelo
nervo supraescapular, que deriva
das raízes C5 e C6. A lesão pode
ocorrer ou na chanfradura coracoideia da omoplata, local onde passa
por baixo do ligamento escapular
transverso superior, que forma um
canal osteoligamentar, ganhando
acesso à fossa supraespinhosa, ou
na goteira espinoglenoideia, onde
passa por baixo do ligamento escapular transverso inferior, para entrar
na fossa do infraespinhoso.
Olhando o sujeito por detrás,
observa-se atrofia nas fossas
supraespinhosa (Figura 1) e/ou
infraespinhosa (Figura 2), que
podem ser realçadas pela proeminência da espinha da omoplata.
A atrofia pode ser dos dois músculos ou apenas do infraespinhoso.
Objetiva-se fraqueza muscular
no início da abdução do ombro
(função do supraespinhoso) e/
ou na rotação externa (função do
infraespinhoso e pequeno redondo).
Atrofia do músculo serratus
anterior
A atrofia do serratus anterior deve-se mais comummente à lesão do
nervo longo torácico, com origem
nas raízes C5, C6 e C7. As raízes de
C5 e C6 perfuram o escaleno médio
obliquamente e unem-se no seio
deste músculo, juntando-se depois
a C7, que corre anteriormente
ao escaleno, perfurando depois o
serratus nas
interdigitações. A
lesão ocorre por
traumatismo do
triângulo posterior do pescoço
ou por tração
Fig. 5 – Escápula
(como
o nervo
alada à direita por
fraqueza do músculo está ‘preso’ ao
escaleno médio
serratus anterior