Revista de Medicina Desportiva Informa Novembro 2012 | Page 8

Caso clínico

Rev . Medicina Desportiva informa , 2012 , 3 ( 6 ), pp . 6 – 7

Fratura de stress do 5 .º metatarsiano num jogador de futebol amador

Dr .ª Andreia Ferreira 1 , Dr . Ricardo Mendes 1 , Dr . Guido Duarte 2
1
Internos de Ortopedia e Traumatologia ; 2 Assistente graduado . Serviço de Ortopedia do Centro Hospitalar de V N Gaia-Espimho , EPE .
RESUMO ABSTRACT
Os autores apresentam um caso clínico de um jovem praticante de futebol amador com uma fratura de stress do 5 .º metatarsiano e registam a sua evolução para pseudartrose após ter permanecido subdiagnosticada . Descrevem o tratamento com necessidade de intervenção cirúrgica e a evolução no pós-operatório até à recuperação clínica total . Destas fraturas pode dizer-se que para o diagnóstico é necessário um elevado índice de suspeição e que o tratamento é exigente , devendo ser iniciado precocemente para evitar a evolução para pseudartrose .
The authors present a clinical case of a young practitioner of amateur football with a stress fracture of the 5 th metatarsal and record its progress to nonunion after remaining underdiagnosed . They describe the need of surgical treatment and the postoperative progress until full clinical recovery . It can be said that the diagnosis of these fractures requires a high index of suspicion and the treatment is demanding and should be initiated early to prevent progression to nonunion .
PALAVRAS CHAVE KEY-WORDS
5 .º metatarsiano , fratura de stress , futebol . 5 th metatarsal , stress fracture , soccer .
Introdução
Para alguns autores a região proximal do 5 .º metatarsiano pode ser divida em 3 zonas 1 , 2 ( figura 1 ). Na zona 1 ocorrem as fraturas de avulsão da tuberosidade , geralmente extraarticulares , resultado de forças exercidas no tendão curto peronial ou na faixa lateral da fáscia plantar . A maioria destas fraturas tem tratamento conservador . Na zona 2 ocorrem as fraturas que se estendem à faceta articular entre o 4 .º e o 5 .º metatarsianos , também designadas por fraturas de Jones . As fraturas da zona 3 ocorrem na transição metáfiso-diafisária . As fraturas das zonas 2 e 3 apresentam maiores taxas de evolução para pseudartrose , podendo , por isso , haver necessidade de tratamento cirúrgico 3 .
De forma a compreender o potencial de consolidação da fratura , o suprimento sanguíneo do 5 .º metatarsiano tem sido amplamente
Figura 1 – Zonas anatómicas da região proximal do 5 .º metatarsiano ( Adaptado de Murawski CD , Kennedy JG : Percutaneous Internal Fixation of Proximal Fifth Metatarsal Jones Fractures ( Zones II and III ) With Charlotte Carolina Screw and Bone Marrow Aspirate Concentrate . Am J Sports Med 2011 39 : 1295 ). estudado . Na maioria dos casos a artéria nutritiva entra medialmente no terço médio do osso , onde se divide num ramo distal e num ramo proximal menor ( figura 2 ). As fraturas que ocorrem na região metafiso- -diafisária lesam a vascularização a este nível , com consequente compromisso da consolidação ( figura 2 ).
Figura 2 – Suprimento vascular do 5 .º metatarsiano ( Adaptado de Dameron TB Jr : Fractures of the proximal fifth metatarsal : Selecting the best treatment option . J Am Acad Orthop Surg 1995 ; 3:110-114 ).
Caso Clínico
Tratava-se de um jovem de 26 anos , sem antecedentes pessoais de relevo , não fumador , praticante de futebol amador . Em Junho de 2011 , estando descalço , foi vítima de movimento brusco com o pé esquerdo de que resultou sensação de estalido e dor intensa . Recorreu a outra unidade hospitalar onde realizou RX , foi imobilizado com ligadura elástica e aconselhado a fazer descarga com canadianas até cerca de 4 semanas após a lesão , data em que foi autorizado a realizar marcha sem apoio externo .
Em Setembro de 2011 reiniciou treino desportivo sem restrições . Poucos dias depois , no decurso de um treino , terá pisado inadvertidamente um tubo da baliza , de que resultou dor de intensidade acentuada no bordo externo do pé com impotência funcional . Recorreu de novo à mesma instituição hospitalar , tendo sido medicado , após o que teve alta sem qualquer imobilização . Foi observado pela primeira vez na nossa consulta em Novembro de 2011 , apresentava queixas intensas ao nível do bordo externo do pé , era incapaz de suportar carga e deambulava com apoio de 2 canadianas . Radiologicamente apresentava fratura de stress da base do 5 .º metatarsiano com clara evolução para pseudartrose ( figura 3 ).
6 · Novembro 2012 www . revdesportiva . pt