Revista de Medicina Desportiva Informa Novembro 2012 | Page 15

água fria têm risco suficientemente reduzido para que seja permitida a continuidade desta prática 5 .
Intensidade do exercício Ao contrário da imersão em condições de repouso , durante o exercício , tanto a posição de supina do corpo , como a atividade muscular , contribuem para uma sobrecarga cardíaca adicional 5 e pensa-se que , mesmo em intensidade baixa , pode cursar com stress cardiovascular e hormonal alto em doentes com disfunção ventricular esquerda ligeira a moderada 6 .
A avaliação da capacidade de exercício ( expressa em equivalentes metabólicos – METs ) parece apresentar maior importância na predição da aptidão cardiorrespiratória do que os parâmetros ecocardiográficos 4 . Assim , a capacidade do doente praticar exercício , por exemplo , num cicloergómetro , é um bom indicador que o exercício aquático ou natação em água termoneutra é segura na presença de IC estável . Os exercícios não deverão idealmente exceder uma intensidade de esforço percebida pelo doente como leve a moderada na Escala de Borg 7 .
Uma incompetência cronotrópica poderá indicar que o individuo tenha tolerância diminuída ao desporto aquático , porque nos doentes com reduzida fração de ejeção o débito cardíaco ( DC ) durante a imersão aquática e natação é fundamentalmente regulado pela frequência cardíaca ( FC ) 4 .
Temperatura da água Os banhos terapêuticos em água quente ( 41 ° C ) são utilizados na reabilitação de doentes com patologia cardiovascular pelos seus efeitos na vasodilatação periférica e subsequente redução da pré e da pós- -carga , podendo constituir um novo método terapêutico não farmacológico para doentes com IC estável 6 . Trinta minutos após imersão em água quente as dimensões cardíacas reduzem a fração de ejeção e o DC mantêm o seu aumento .
A resposta hemodinâmica e hormonal a baixas temperaturas não é conhecida , mas sabe-se que após poucos minutos de imersão em água fria o tónus simpático aumenta e que se verifica a subida da FC e da pressão arterial e há aumento de catecolaminas que é acompanhado por uma série de reações ao frio , como tremor e hiperventilação 5 . O aumento da atividade do sistema nervoso simpático ( SNS ), mediado fundamentalmente por termorecetores , ativados pela queda brusca da temperatura da pele , induz aumento da pressão sanguínea e provoca importante esforço do sistema cardiovascular , com particular importância em doentes com IC , que apesar disso conseguem aumentar o DC 5 .
A imersão em águas frias ( inferiores a 28 ° C ), por induzir a ativação do SNS , pode potenciar a ocorrência de arritmias cardíacas . O papel do sistema nervoso autónomo na génese de taquiarritmias ventriculares é bem conhecido 5 . No entanto , na literatura há poucos registos de eventos arrítmicos durante a prática de natação e na sua maioria há concomitância com isquemia cardíaca 5 . Existem mesmo estudos que sugerem que esta resposta poderá ser atenuada pelo fenómeno de habituação e defende-se que doentes que não apresentem arritmias induzidas pelo exercício durante um teste de esforço máximo e que pratiquem com frequência imersão em
Outros efeitos do exercício em meio aquático em doentes cardíacos
Cider A et al demonstraram que a hidroterapia poderia aumentar o desempenho máximo e a função de pequenos grupos musculares em doentes com IC 2 . Verificou-se aumento da capacidade de exercício com aumento de 6 % no VO 2 no grupo de treino e melhoria no teste dos 6 minutos de marcha , que foi comparável a programas de exercício convencional em meio terrestre 2 . A qualidade de vida avaliada através do Short Form-36 Health Survey Questionnaire ( SF-36 ) e do Minnesota living with heart failurte questionnaire ( LHFQ ) apresentou também melhoria significativa 2 .
Outros estudos analisaram os efeitos hemodinâmicos da imersão através de ecocardiografia , concluindo que a imersão em água quente induz efeitos hemodinâmicos benéficos em doentes com IC , sem sinais de efeitos adversos . Revelam que o aumento do retorno venoso é compensado pela redução da FC e diminuição da pós-carga , promovendo o aumento do débito do VE 1 .
Recomendações
1 . Poderão praticar exercício em meio aquático com segurança os pacientes com IC clinicamente estabilizados e com disfunção ventricular ligeira a moderada . Os pacientes com IC moderada a grave deverão ser sujeitos , além da avaliação médica prévia , a realização de prova de esforço para estudo de possíveis alterações isquémicas ou eventos arrítmicos induzidos pelo exercício e documentação da capacidade funcional do indivíduo ( maior risco quando inferior a 4 METs ). Considera-se que um doente pode praticar desporto aquático sem risco de descompensação cardíaca se preencher os critérios resumidos no quadro 2 .
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