Revista de Medicina Desportiva Informa Março 2020 | Page 6
Rev. Medicina Desportiva informa, 2020; 11(1):4-5.
https://doi.org/10.23911/FMUP_2020_mar
QT Corrections for Long QT Risk
Assessment: Implications for the
Preparticipation Examination 1
Resumo e Comentário
Dra. Ana João Moreira
Médica Interna de Formação
Específica em Medicina Geral e
Familiar na USF Vimaranes, ACeS
Alto Ave.
O intervalo QT corresponde à duração
da repolarização ventricular e o
seu prolongamento está associado
a risco aumentado de arritmias
cardíacas, como Torsades des Pointes
e, consequentemente, fibrilação
ventricular e morte súbita.
Para que o intervalo QT seja
corretamente interpretado deve
ser feita a avaliação em diversas
derivações do ECG e a correção para
as diferentes frequências cardíacas
(FC). Atualmente, a fórmula mais
utilizada para esta correção é a
de Bazett, mas é sabido que existe
sobrecorreção nos doentes com FC
elevadas e subcorreção dos doentes
com FC baixas. Existem outras
fórmulas para a correção do intervalo
QT (QTc), como se pode ver no
Quadro.
Bazett: QTc = QT
√RR
QT
Fridericia: QTc =
3
√RR
Framingham: QTc = QT + 0.154 (1 – RR)
Hodges: QTc = QT + 0.00175 ( 60
RR – 60)
Rautaharju: QTc = QT – 0.185 (RR – 1) + k
(k = + 0.006 segundos para o sexo masculino)
Fórmulas para correção do intervalo QT.
Este artigo tem como principal
objetivo avaliar os limites superiores
do intervalo QT em jovens
saudáveis. Foram avaliados 31 558
jovens que fizeram exames médico-
-desportivos. A média de idades foi
de 17 anos (12-35 anos), 55% era do
sexo feminino e 67% caucasianos e
11% raça negra. Foram excluídos os
exames com anormalidades, como
por exemplo o prolongamento do
intervalo QRS. Os ECG com intervalo
QT superiores a 440 milissegundos
foram lidos manualmente pela
equipa de estudo e os resultados
comparados com dois programas
informáticos (R > 0,92).
Foi feita a comparação das
diferentes fórmulas analisando a
relação entre o intervalo QTc e as
FC. As fórmulas com menores variações
dos valores foram a de Fridericia
e a de Framingham, demonstrando,
assim, maior independência da FC.
Na realização deste estudo conseguimos
perceber que a fórmula de
Bazett, recomendada pelas diretrizes
atuais de interpretação do ECG para
atletas, tem os piores resultados
entre as quatro principais fórmulas
de correção, com significativa
dependência da FC.
Usando os critérios atualmente
recomendados para a duração do
intervalo QTc de 470 e 480 milissegundos
(percentil 99) para o sexo
masculino e para o sexo feminino,
respetivamente, e 500 milissegundos
(QT longo grave) e a fórmula
Fridericia reduz-se significativamente
o número de falsos positivos
e de falsos negativos para FC baixas.
O método Fridericia identifica os
jovens com QT 450 milissegundos
como atletas de alto risco, valor
igual para ambos os sexos. A avaliação
secundária do indivíduo com
prolongamento do intervalo QT,
usando o novo ponto de corte Fridericia,
envolve a repetição do ECG com
cálculo manual cuidadoso do QT.
Se se confirmar o prolongamento
do intervalo QT deve ser realizada
uma anamnese detalhada pessoal e
familiar, a revisão terapêutica, análises
laboratoriais, ECG com prova de
esforço e testes genéticos.
A morta súbita em atletas é cerca
de 2,1 por 100 000 pessoas por ano,
sendo inferior em atletas mais
jovens. No entanto, as principais
causas de morte podem ser precocemente
detetadas através do Exame
Médico-Desportivo. Este artigo serve
como um alerta para comunidade
de Médicos de Medicina Desportiva
e Cardiologistas que fazem estes
exames, apontando a necessidade
de melhorar os métodos de interpretação
do ECG. Este é um exame
amplamente utilizado pelos médicos
que fazem a avaliação de atletas,
sendo impreterível a melhoria da
deteção de anomalias que possam
causar arritmias fatais.
O artigo evidência que a Fórmula
de Bazett, frequentemente utilizada
para a deteção de prolongamento
do intervalo QT, falha na deteção de
atletas em risco acrescido de arritmia
devido à sua dependência com
os valores de FC. Assim, penso que
devemos pensar em utilizar outras
fórmulas, nomeadamente Fridericia
e Framingham, reduzindo o valor
superior do intervalo QT para 450
milissegundos, em ambos os sexos.
Esta pode ser uma estratégia importante
para prevenir algumas mortes
em atletas jovens.
1
David Hadley, David Hsu, David
Pickham, Jonathan A. Drezner, Victor
F. Froelicher. Clin J Sport Med 2019;
29:285-291.
Habitual physical activity, renal
function and chronic kidney
disease: a cohort study of nearly
200 000 adults 1
Resumo e comentário
Dra. Alice Martins
Medica Interna de Formação
Especifica em Medicina Geral e
Familiar na USF Gama,
ACeS Oeste Sul. Torres Vedras.
Atualmente, sabe-se que a atividade
física (AF) tem múltiplos benefícios
para a saúde humana, sendo até por
vezes usado o termo exercício como
medicamento. 2 Revisões sistemáticas
evidenciam uma relação entre a
4 março 2020 www.revdesportiva.pt