Revista de Medicina Desportiva Informa Março 2020 | Page 29
corporal e estimulam a investigação
sobre as técnicas de colisão, ao
mesmo tempo que apelam ao fair
play em todos os estratos etários e
níveis de competição.
Questão 4: Que evidência existe em
relação ao impacto repetitivo da
cabeça ou às múltiplas concussões
documentadas e o futuro dano cognitivo
e neurológico?
Os autores referem que esta
“associação é inconsistente e as
implicações clínicas são desconhecidas”,
referindo não haver associação
com o desfecho neuro-cognitivo a
longo prazo. Contudo, “múltiplas
concussões no jovem é um fator de
risco ... que podem estar associadas
com sintomas de maior duração e de
recuperação mais longa”. Também,
não está provado que a idade no
momento da primeira exposição aos
impactos na cabeça esteja de modo
independente associado a alterações
neurovegetativas.
Recomendações: Para além de apelarem
a mais investigação sobre as
consequências neurológicas a longo
prazo, os experts referem que os métodos
avançados de neuro-imagem
necessitam de mais desenvolvimento
e validação antes do uso clínico. De
importante, e prático, e já está implementada,
referem que a “história de
múltiplas concussões deve ser considerada
na recomendação se e quando
o atleta deve voltar ao jogo”.
Questão 5: Qual a evidência de que
o equipamento reduz o risco de CCD
no jovem atleta?
Na introdução a resposta, os
experts comentam a possibilidade
do próprio equipamento aumentar
o risco de CCD, pois estes atletas
poderão aumentar o comportamento
de risco, ou seja, este equipamento
extra seria talvez, e até, pernicioso,
apesar da “informação disponível
não apoiar a teoria do risco compensatório”.
As conclusões referem que
existe pouca evidência da utilidade
dos capacetes no futebol americano
neste contexto, assim como para os
“capacetes” usados no râguebi ou
no futebol e os protetores bucais
e, como já referido, a utilização de
equipamento percebido como protetor
não aumenta o risco de CCD no
jovem ao aumentar a falsa sensação
de segurança.
Recomendações: Os capacetes
devem ser usados nos desportos
onde exista risco elevado de impacto
(futebol americano, hóquei no gelo,
esqui, snowboarding, ciclismo ou
skate), mas existe pouca evidência
para o uso dos protetores de cabeça
no râguebi (imagem) e no futebol
como elementos preventivos de
CCD. Apelam à investigação sobre a
utilidade dos protetores bucais e aos
protetores cranianos.
Questão 6: Qual a quantidade de
jovens atletas de desportos de colisão
e de contacto que passam a praticar
desportos de não contacto após
a remoção do contacto e da colisão
dos seus desportos iniciais?
Para esta questão os experts não
encontraram evidência científica
que apoiasse qualquer conclusão.
Recomendações: Assim sendo, não
havendo contraindicação médica “a
juventude não deve ser restringida
no seu desporto de preferência”.
Questão 7: Que evidência existe
para recomendar o abandono desportivo
do jovem atleta (ou redirecioná-lo
para outro desporto) num
contexto de concussões múltiplas?
Não existe um número exato a
partir do qual se deva recomendar
o atleta a abandonar o desporto
em causa, assim como não existe
muita informação se continuar ou
abandonar estaria associado com
o bem-estar e a saúde cerebral.
Contudo, existem algumas contraindicações
relativas a considerar, como
a persistência de alterações neurológicas,
alterações
estruturais resultantes
do trauma, persistência
sintomas após
a concussão, défices
permanentes nos testes
neuro-psicológicos,
hemorragia intracraniana
prévia, quisto
aracnoide, malformação
de Chiari, e outras
alterações relevantes.
Recomendações: O
abandono desportivo
não deve ser apenas baseado apenas
no número de CCD ocorridas, deve
ser baseado na decisão partilhada,
onde se inclui o atleta, os pais e o
corpo médico, aferindo-se sempre
os riscos e os benefícios da continuação
desportiva. Como fatores
a ponderar, os autores referem o
número de CCD, concussões múltiplas
na mesma época desportiva,
agravamento dos sintomas nos
episódios seguintes, diminuição do
rendimento académico, condições
médicas e neurológicas e diminuição
do limar para a ocorrência da CCD.
O tema da CCD continua em
aberto e as respostas a questões
importantes continuam ausentes.
Na Discussão os autores referem
que “o desporto juvenil e os benefícios
físicos e psicológicos nele obtidos
são importantes para o desenvolvimento
da criança saudável e
aquisição de hábitos de exercício
duradouros”, mas que é necessário
relacioná-lo com as consequências
da CCD. O aumento da autoestima, a
interação social e a menor existência
de depressões são encontradas no
jovem atleta, aspetos também indicados
pela Academia Americana de
Pediatria. Também o US Department
of Health and Human Services publicou
o 2018 Physical Activity Guidelines
Advisory Committee Scientific Report,
no qual se referem os benefícios
do exercício físico entre os 3 os 17
anos de idade. Contudo, a ocorrência
e as consequências da CCD entre
os jovens atletas têm vindo a ser
cada vez mais ponto de conversa e
“muitas questões permanecem sem
resposta”, pelo que há necessidade
de mais estudos. No entretanto, a
experiência, o aconselhamento e o
bom senso devem estar presentes.
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