Revista de Medicina Desportiva Informa Março 2020 | Page 25

da resistência óssea e aumento do risco de fratura. É uma doença de elevada prevalência nos países ocidentais, em que Portugal se insere. Afeta cerca de 200 milhões de pessoas em todo o Mundo e só no nosso país mais de meio milhão de pessoas. 1 Afeta predominantemente idosos e mulheres pós-menopausa. Estima-se que 6% dos homens e 21% das mulheres com idades compreendidas entre 50-84 anos tenham esta patologia. 2 A importância desta doença advém das suas complicações, isto é, das fraturas. Entre estas, as fraturas do fémur proximal são as que condicionam maior morbilidade, mortalidade e elevados encargos sociais e económicos. Apesar do número parecer ter estabilizado, em 2006 ocorreram 9523 fraturas do colo do fémur, as quais consumiram cerca de 52 milhões de euros em cuidados hospitalares. 1 Fraturas vertebrais São as fraturas osteoporóticas mais comuns, com prevalência entre 10-24% (sem predomínio de género). Podem acontecer na ausência de trauma ou após um trauma minor. São preditores de uma fratura futura: representam um risco cinco vezes superior de uma nova fratura vertebral e um risco de 2-3 vezes superior de fraturas osteoporóticas em outros locais. 3,4 A maioria são assintomáticas (66%), podendo apenas ser detetadas em exame de imagem (Raio X ou TAC). Mesmo com a realização de um exame de imagem, uma grande parte das fraturas vertebrais osteoporóticas não são diagnosticadas. 5 A primeira queixa do doente poderá ser a diminuição da altura e uma atitude cifótica, causada pela compressão vertebral, mais evidente com múltiplas fraturas. Os outros sintomas são frequentemente inespecíficos e incluem dorsalgia/ lombalgia aguda ou crónica, limitação da mobilidade e das atividades diárias. Múltiplas fraturas torácicas podem resultar em problemas respiratórios (doença ventilatória restritiva), doenças cardíacas secundárias e a aumento da mortalidade. 3 O tratamento pode ser conservador ou incluir intervenção cirúrgica, principalmente para analgesia, estabilização vertebral e/ou evitar complicações neurológicas. 4 Fraturas da anca As fraturas do fémur proximal (colo do fémur e peritrocantéricas) são uma das consequências mais nefastas da osteoporose. Estão associadas a aumento da taxa de mortalidade ao 1º ano de 15-25% (principalmente nos homens) e a aumento de 2,5 vezes superior do risco de outras fraturas. Estão também associadas à perda de autonomia (20-50% pacientes), incapacidade de marcha, institucionalização temporária ou permanente (cerca de 50% dos doentes) e deterioração permanente da qualidade de vida. 6,7 O tratamento destas fraturas é quase sempre cirúrgico, com técnicas que implicam a sua fixação por diferentes meios, ou em determinados casos, podem incluir substituição de parte ou totalidade da articulação da anca. 6,7 Fratura do rádio distal Uma das manifestações mais precoces de osteoporose, com aumento do risco em idades mais jovens (50 a 65 anos). Apesar de não terem consequência tão graves como as anteriores, também estão associadas a diminuição significativa na qualidade de vida e autonomia, bem como incapacidade laboral. 8 Uma vez que são frequentemente a primeira fratura osteoporótica, constituem uma oportunidade para ser feito o diagnóstico e iniciado tratamento. Contudo, apenas cerca de 18% dos pacientes são alvo de tratamento no primeiro ano após a fratura. 9 As fraturas osteoporóticas do rádio distal, com desvio, levam a impactação e fragmentação da metáfise óssea, que diminui a estabilidade da fratura após a redução da mesma. Desta forma, apesar do tratamento conservador ser uma opção em determinados casos, a imobilização apenas com gesso poderá ser insuficiente para manter o alinhamento. O tratamento cirúrgico tem cada vez mais um papel importante, mas mesmo este é mais difícil no contexto da osteoporose, pois a fixação poderá não ser tão eficaz. 10 Outras fraturas Outras fraturas comuns em doentes com osteoporose incluem: úmero proximal, clavícula, pelve, fémur e tíbia. São responsáveis por uma proporção substancial do fardo económico e social da osteoporose, sobretudo em idades mais jovens (50-65) onde são 10 a 20 vezes mais frequentes que as fraturas do colo do fémur. 11 Conclusão Com o aumento da esperança média de vida, a osteoporose e as fraturas que dela decorrem constituem um problema crescente da população portuguesa. Acarreta um elevado custo socioeconómico pelos encargos acrescidos ao sistema nacional de saúde, mas principalmente pelo aumento da mortalidade e morbilidade, perda de autonomia e de qualidade de vida. Desta forma, é necessário sensibilizar a população para a prevenção desta doença e para o seu tratamento precoce. Bibliografia 1. Direcção-Geral de Saúde. Orientação Técnica para a utilização da absorsiometria radiológica de dupla energia (DEXA). 2008; Circular informativa Nº: 12/DSCS/DPCD/DSQC. 2. Van Staa TP, Dennison E M., Leufkens HGM, Cooper C. Epidemiology of Fractures in England and Wales. Bone, 2001; 29:517-522. 3. 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J Bone Miner Res. 2003; 18:2231-2237. Restante Bibliografia em: www.revdesportiva.pt (A Revista Online) Revista de Medicina Desportiva informa março 2020· 23