Revista de Medicina Desportiva Informa Março 2020 | Page 24
O local de maior deposição mineral
óssea é específico do tipo de exercício,
pois depende do padrão de carga
da atividade desportiva. Assim, a
densidade mineral óssea em ginastas
é maior na anca e na coluna,
em corredores no colo do fêmur e
em remadores na coluna lombar.
Entre os 5 e os 17 anos de idade
recomenda-se a prática de atividade
física moderada a vigorosa durante
60 minutos diários. Em idade pediátrica
é fundamental que esta prática
tenha um componente lúdico,
deverá contemplar os interesses
individuais e o desenvolvimento de
diferentes habilidades motoras.
Outros fatores modificáveis
As alterações do estilo de vida também
podem conferir risco adicional
para a redução da densidade mineral
óssea. Em adultos, o tabagismo, a
cafeína e a ingestão de álcool estão
associados à diminuição da mineralização
óssea, pelo que estes comportamentos
deverão ser evitados
em adolescentes. A manutenção
do peso e da composição corporal
adequados durante a infância e a
adolescência é de extrema importância,
pois a perda acentuada de
peso é um fator de risco para redução
da MO.
Conclusão, sendo a infância e
a adolescência um período crítico
de otimização da saúde óssea do
adulto, torna-se fundamental intervir
nos seus determinantes modificáveis,
nomeadamente a adequação
de ingestão de cálcio e vitamina D, a
prática de exercício físico e adoção
de estilos de vida saudáveis neste
grupo etário.
Dr. Renato Vale Ramos
Serviço de Ortopedia,
Centro Hospitalar de Vila
Nova de Gaia/Espinho
Os números da osteoporose
A osteoporose é uma doença metabólica
caracterizada pela diminuição
da densidade mineral óssea e deterioração
da arquitetura óssea. Estas
alterações resultam na menor resistência,
com aumento do risco de
fraturas. O risco de osteoporose está
associado a múltiplos fatores: idade,
deficiência de cálcio e/ou vitamina
D, alterações hormonais, consumo
de álcool e tabaco, sedentarismo,
certas doenças e medicações.
A osteoporose afeta mais de 200
milhões de pessoas no Mundo, sendo
cada vez mais prevalente com o
avançar da idade: cerca de 1/10 das
mulheres com 60 anos, cerca de 1/5
com 70 anos, cerca de 2/5 com 80
anos e cerca de 2/3 das mulheres
com 90 anos de idade. Em 2011,
na União Europeia, 22 milhões de
mulheres e 5.5 milhões de homens
sofriam da doença. Por cá, em
Portugal, no período de 2011-2013,
em pessoas com mais de 18 anos,
a prevalência estimada foi igual a
10,2% (17.0% nas mulheres e 2,6%
nos homens).
Apesar de a osteoporose aumentar
o risco de fraturas em todo o
esqueleto, as mais frequentemente
associadas a esta doença são as
da coluna vertebral, fémur proximal,
rádio distal e úmero proximal.
Estima-se que no ano de 2000 houve
cerca de 9 milhões de fraturas no
Mundo, das quais 51% foram diagnosticadas
na Europa e na América.
De acordo com um update de 2018,
as fraturas da anca na Portugal têm
vindo a aumentar de modo assustador:
no ano de 1989 houve 5 600 fraturas,
em 1994 houve 6718, em 2000
houve 8500, em 2006 houve 9523,
2011 houve 10 124 e no ano de 2018
houve mais de 10 000 fraturas. Para
o ano de 2018 este update estimava a
ocorrência 40 mil fraturas osteoporóticas.
Existe uma estimativa para
o ano de 2050 e, em relação a 1990,
prevê-se o aumento de 310% nos
homens e de 240% nas mulheres.
Significa, assim, um aumento muito
preocupante da incidência também
nos homens.
As fraturas vertebrais osteoporóticas
resultam em deformidade
progressiva da coluna, com consequente
incapacidade funcional e
alteração da função pulmonar. As
fraturas do fémur proximal revestem-se
de especial importância, pela
sua gravidade. 10-30% dos doentes
que sofrem estas fraturas morrem
no primeiro ano e apenas 30%
voltam a atingir o nível funcional
prévio. Além disso, indivíduos que
sofreram uma fratura do fémur proximal
têm um risco 10 vezes superior
de novas fraturas.
Em Portugal mais de 500 mil
pessoas sofrem desta doença,
correspondendo a uma prevalência
de 10% na população adulta. A
prevalência em mulheres é de 17%,
alcançando aproximadamente 50%
nas mulheres com mais de 65 anos.
Em homens atinge uma prevalência
de 2,6%. Estima-se que ocorram
cerca de 40000 fraturas osteoporóticas
por ano no nosso país. Apenas as
fraturas do fémur proximal motivam
mais de 10000 internamentos
por ano, tendo este número vindo a
aumentar progressivamente. Estas
fraturas implicam também um
custo significativo, em média €13434
no primeiro ano e €5985 no segundo
ano por cada fratura, resultando
num valor total de 216 milhões de
euros, sendo estes cálculos reportados
ao ano de 2011.
A prática de exercício físico
tem vindo a ser associada a um
aumento da densidade mineral
óssea, aumento da massa muscular,
melhoria do equilíbrio e redução do
risco de fraturas. Estes benefícios
foram encontrados com diversos
tipos de treino e mesmo exercício
de intensidade moderada poderá
diminuir o risco de fratura. Assim, a
prática adequada de exercício físico
poderá diminuir o risco de fraturas
osteoporóticas, quer através do
aumento da densidade óssea, quer
diminuindo o risco de quedas.
Dr. Moisés Ventura
Serviço de Ortopedia do
Centro Hospitalar de Vila
Nova de Gaia – Espinho,
EPE.
Impacto clínico da osteoporose na
população portuguesa
A osteoporose é a doença óssea
metabólica mais frequente. Trata-
-se de uma doença sistémica
caracterizada pela diminuição da
densidade mineral óssea e degeneração
da microarquitectura do
osso, com consequente diminuição
22 março 2020 www.revdesportiva.pt