Revista de Medicina Desportiva Informa Março 2020 | Page 22
Rev. Medicina Desportiva informa, 2020; 11(2):20-23. https://doi.org/10.23911/APO_25anos_2020_2
As Palestras
Feira da Maratona, Alfândega
do Porto – 1 e 2 nov 2019
Dra. Carla
Laranjeira
Pediatra. Hospital
CUF Porto.
Otimização da saúde óssea –
medidas preventivas em idade
pediátrica
A osteoporose é caracterizada pela
redução da massa óssea (MO) e
deterioração da sua microarquitetura,
resultando no aumento da fragilidade
óssea e no risco de fraturas. Esta
patologia não se limita à idade adulta,
podendo ocorrer em crianças e adolescentes,
em particular na presença
de doenças sistémicas. A deposição
mineral óssea começa durante a
gravidez e cerca de dois terços desta
deposição ocorre durante o terceiro
trimestre. O conteúdo mineral ósseo
aumenta 40 vezes desde o nascimento
até a idade adulta e o pico de
MO é alcançado no final da segunda
década de vida, embora ainda possa
haver alguma deposição na terceira
década. Aproximadamente 40 a 60%
da MO do indivíduo adulto é adquirida
durante a adolescência, sendo
que aos 18 anos aproximadamente
90% do pico de MO foi atingido. A
infância e adolescência constituem,
portanto, períodos críticos de mineralização
esquelética e qualquer condição
que interfira negativamente no
pico de MO aumenta o risco de osteoporose
e de fraturas na idade adulta.
De facto, as evidências mostram que
a MO atingida nas duas primeiras
décadas de vida são o determinante
modificável mais importante da
saúde óssea ao longo da idade adulta.
Ou seja, o património ósseo é adquirido
e otimizado em idade pediátrica,
sendo de extrema importância
implementar medidas preventivas
de osteoporose neste grupo etário.
Com maior detalhe iremos abordar os
fatores modificáveis determinantes
na aquisição e manutenção da MO
em idade pediátrica.
Cálcio
O cálcio é fundamental na mineralização
óssea e a ingestão dietética de
cálcio durante a infância e a adolescência
é um fator determinante para
essa aquisição. Muitos estudos comprovam
a relação entre densidade
mineral óssea na idade adulta e a
ingestão de cálcio durante a infância
e adolescência. O leite e seus derivados
constituem a principal fonte
de cálcio da dieta, correspondendo
a cerca de 70-80% das necessidades
em cálcio em idade pediátrica. Outras
fontes alimentares de cálcio incluem
vegetais de folha verde, frutos secos,
sementes, cereais e sumos industrialmente
fortificados. A biodisponibilidade
do cálcio dos vegetais é
geralmente alta, mas esta é reduzida
pela ligação com oxalatos no caso dos
espinafres, couve e feijão. Por outro
lado, embora os vegetais sejam uma
boa fonte de cálcio biodisponível, a
quantidade necessária para atender
às necessidades diárias é substancial, o
que dificulta a obtenção das necessidades
dietéticas de cálcio apenas com
vegetais. As bebidas vegetais parecem
ter baixa biodisponibilidade de cálcio,
mesmo quando são fortificadas com
este mineral. Portanto, estas não são
alternativas aos produtos lácteos, em
idade pediátrica.
Vitamina D
A vitamina D é uma hormona lipossolúvel
necessária à absorção do cálcio.
Na sua ausência apenas 10-15%
do cálcio da dieta é absorvido. Muitos
estudos têm surgido na tentativa de
estudar os efeitos extra-esqueléticos
da vitamina D. Dado que os recetores
da vitamina D se encontram na
maioria das células corporais, não é
de surpreender que os níveis desta
hormona possam interferir com o
risco de desenvolvimento de cancros
(próstata, mama, colon, pâncreas),
doenças autoimunes, doenças
infeciosas e risco cardiovascular. A
síntese cutânea por exposição solar
é a principal fonte de vitamina D
(aproximadamente 90%). A capacidade
de síntese é variável e depende
de inúmeros fatores: pigmentação da
pele, tempo de exposição solar, hora
de exposição solar, área corporal
exposta, uso de protetores solares,
estação do ano e latitude geográfica.
São poucos os alimentos ricos
em vitamina D e incluem os peixes
gordos (salmão, sardinha, atum,
cavala) e alimentos industrialmente
fortificados (leite, iogurtes, queijo,
manteiga, cereais). As crianças e os
adolescentes obesos têm elevado
risco de deficiência em vitamina D
devido ao sequestro desta hormona
no tecido adiposo, pelo que estes
indivíduos necessitam de doses
superiores para a adequação dos
níveis desta vitamina. A suplementação
oral com 400 UI/dia deverá ser
universal para todos os lactentes
(0-12 meses), não existindo recomendações
universais de suplementação
depois dos 12 meses. No entanto, a
European Society for Paediatric Gastroenterology
Hepatology and Nutrition
(ESPGHAN) aconselha a adoção de
medidas nacionais de recomendações
dietéticas, fortificação alimentar
e suplementação com vitamina
D de acordo com a realidade local.
Em Portugal, apesar da escassez de
estudos de prevalência do seu défice,
presume-se que este é elevado.
Exercício físico e estilo de vida
O exercício físico que envolva
impacto no solo promove o aumento
da deposição mineral óssea em
particular no início da puberdade.
20 março 2020 www.revdesportiva.pt