Revista de Medicina Desportiva Informa Março 2020 | Page 11
estrutural (hipertrofia). A presença
de alterações patológicas da repolarização
ventricular no ECG, principalmente
inversão das ondas T, na
ausência de diagnóstico de MCH,
não contraindicam só por si a prática
desportiva, mas devem motivar
um seguimento mais regular dos
atletas, porque uma percentagem
significativa vai desenvolver a
médio-longo prazo miocardiopatia. 5
A HVE é umas das alterações
mais frequentes do coração de atleta,
sendo marcada em atletas com
determinadas características, tanto
demográficas como relacionadas
com o tipo de exercício ou desporto. 2
Na atualidade, tanto na presença de
alterações ECG sem alterações no
ecocardiograma transtorácico, como
quando já há alterações estruturais,
o exame gold standard para caracterização
funcional e morfológica é
a RM cardíaca. 6 Este exame permite
detetar alterações difíceis de
identificar por ecocardiografia (ex.
Tabela 1. Diferenciação entre coração de atleta e MCH (adaptado de 2 )
Sugestivo de ‘coração de atleta’
hipertrofia apical), bem como a presença
de outras alterações comuns
na MCH, nomeadamente a presença
de realce tardio (fibrose), que nesta
patologia ocorre sobretudo nas
zonas de inserção VE/ventrículo
direito e no segmento mais espessado.
6 Neste caso, existe um pequeno
nódulo de fibrose nesta região de
inserção dos dois ventrículos, mas
realça-se que a fibrose miocárdica
com padrões inespecíficos é comum
em atletas, mas de significado clínico
ainda incerto.
Uma estratégia útil neste caso
foi a reavaliação após um período
de descondicionamento físico. A
aplicação do descondicionamento
é complexa porque em determinados
cenários, como em atletas de
elevado nível, não é fácil de implementar
pelas múltiplas implicações
que acarreta suspender a atividade
durante um período tão prolongado.
Por outro lado, se o atleta
durante esse período não realizar
Sugestivo de MCH
História familiar Ausente Diagnóstico conhecido de MCH,
morte súbita
Sintomas
Ausência
Boa tolerância ao exercício
Pré-síncope, síncope, palpitações,
dificuldade respiratória, dor torácica,
cansaço desproporcional para o
exercício
Exame físico Sem alterações Sopro sistólico que aumenta com a
manobra de Valsalva, impulso apical
aumentado
ECG
Ecocardiograma
PECR
RM cardíaca
Descondicionamento
Normal ou apenas com alterações
fisiológicas
HVE simétrica (usualmente
<12mm em mulheres ou atletas
muito jovens; raramente >13
mm em atletas homens caucasianos)
Função diastólica normal ou
supranormal
Dimensões VE aumentadas (diâmetro
telediastólico VE >55 mm)
Dilatação balanceada do ventrículo
direito
VO 2
max >45 ml/kg/min
VO 2
max >120% que o previsto
Ausência de realce tardio ou
padrão inespecífico (isquémico
ou não isquémico principalmente
em atletas veteranos)
Redução da espessura parietal
(2 a 5mm)
Ondas Q patológicas
Infradesnivelamento do segmento ST
Ondas T invertidas nas derivações
ântero-laterais
Bloqueio completo do ramo
esquerdo
HVE assimétrica (>15mm)
Disfunção diastólica (atraso do relaxamento,
tempo de desaceleração
aumentado e aumento das pressões
de enchimento)
Dilatação desproporcional da
aurícula esquerda
Dimensões reduzidas do VE (diâmetro
telediastólico VE <45 mm)
Obstrução da câmara de saída do VE
VO 2
max inferior ao previsto
Realce tardio típico (junção VE/
ventrículo direito e segmento mais
espesso)
Persistência da espessura parietal
Estudo genético Negativo Positivo em mutação associada a
MCH
um descondicionamento total ou se
por isso aumentar o peso, os resultados
poderão estar mascarados. 2
Importa salientar que esta redução,
apesar de sugestiva, não permite
excluir MCH porque em atletas com
MCH de expressão fenotípica ligeira
a espessura parietal pode também
reduzir com descondicionamento.
Relativamente à prática desportiva,
a MCH continua a ser uma contraindicação
comum para a prática de
desporto competitivo, mas a tendência
será para recomendações mais
liberais, com envolvimento do atleta
na tomada de decisão, podendo eventualmente
no futuro ser admissível
a prática desportiva em portadores
de MCH se confirmada uma expressão
clínica ligeira e de baixo risco.
Contudo, à luz da evidência atual, até
prova em contrário, na presença de
um atleta com o diagnóstico de MCH,
deve ser suspensa a prática de desporto
competitivo, recomendando-se
a avaliação e discussão com médicos
com experiência em cardiologia
desportiva e na avaliação de doentes
com miocardiopatias, para uma decisão
definitiva. 7 O objetivo será sempre
incentivar a prática desportiva pelos
múltiplos benefícios para a saúde,
mas em segurança quando presente
risco elevado ou doença cardíaca.
Os autores negam qualquer conflito de
interesses, assim como a originalidade do
artigo e a sua não publicação prévia
Contacto:
[email protected]
Bibliografia
1. Chandra, N, R Bastiaenen, M Papadakis,
and S Sharma. Sudden cardiac death in young
athletes: practical challenges and diagnostic
dilemmas. J Am Coll Cardiol 2013; 61:1027-40.
2. Dores, H, A Freitas, A Malhotra, et al. The
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overview of exercise – induced cardiac adaptations.
Rev Port Cardiol 2015; 34:51-64.
3. Galderisi, M, N Cardim, A D’Andrea, et al.
The multi-modality cardiac imaging approach
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the European association of cardiovascular
imaging. Eur Heart J Cardiovasc Imaging
2015; 16:353.
4. Elliott PM, Anastasakis A. Borger MA, et al.
2014 ESC Guidelines on diagnosis and management
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Force for the Diagnosis and Management of
Hypertrophic Cardiomyopathy of the European
Society of Cardiology (ESC). Eur Heart Journal
2014; 35:2733-79.
Restante Bibliografia em:
www.revdesportiva.pt (A Revista Online)
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