Revista de Medicina Desportiva Informa Março 2020 | Page 20
Urologia propõem nas suas guidelines
que o EF seja mencionado aos
doentes com DE como um fator
benéfico para a sua função erétil 9,11 ,
e a Sociedade Europeia de Urologia
recomenda que as alterações do
estilo de vida devem preceder ou
acompanhar qualquer tratamento
farmacológico 9 , similarmente à
posição da Sociedade Britânica para
a Medicina Sexual. 7
Uma meta-análise de 2017
demonstrou uma melhoria estatisticamente
significativa na função
erétil dos participantes que cumpriram
um programa de EF, face àqueles
sem qualquer regime de EF. 12
Em 2018, outra meta-análise concluiu
que tanto níveis elevados de
EF (30 minutos, moderada/elevada
intensidade, 5 vezes/semana), como
moderados (20 minutos, moderada
intensidade, 3 vezes/semana) reduzem
o risco de DE 4 , sendo o risco
menor no primeiro grupo. 4 Também
uma revisão sistemática de 2018
demonstrou a melhoria da função
erétil nos grupos submetidos a EF
(dose semanal média 157 minutos),
face aos grupos controlo. 8
Em 2019, foi publicada uma revisão
de 98 meta-análises, em que o EF
demonstrou uma contribuição independente
para a DE, após ajustar para
fatores confundidores potenciais 13 ,
e ser a intervenção do estilo de vida
mais eficaz no tratamento da DE. 13
Hipóteses propostas para a
associação entre o exercício físico
e a disfunção erétil
A nível cardiovascular, o EF melhora
o perfil glicémico e a dislipidemia,
entre outros fatores de risco 3 , além
©Thinkstock. Foto retirada de https://nccih.nih.gov/
health/sex/erectiledysfunction.htm
de melhorar a tolerância ao exercício
e o débito cardíaco. 3 Aumenta ainda
a síntese e libertação de ON endotelial
1,3 e o número de células progenitoras
endoteliais, e diminui os
níveis de marcadores inflamatórios. 10
Resulta, assim, na remodelação considerável
de todo o sistema vascular,
não restrita à fase de treino. 14
Também a testosterona tem sido
investigada, pois quando os seus
níveis são inferiores ao normal o
risco de DE é maior. 1 Sendo a síntase
de ON no pénis o principal respondedor
à modificação dos níveis desta
hormona (que aumentam agudamente
com o EF), a testosterona
parece contribuir para os benefícios
do EF na DE. 15
Também parecem contribuir os
efeitos psicológicos do EF. 1 Os níveis
séricos de cortisol, principal biomarcador
de stress psicológico, tendem a
longo-prazo a diminuir em resposta
ao EF 16 , e existe uma correlação
inversa dos seus níveis com a função
erétil. 17 Adicionalmente, a secreção
de opioides endógenos e a modulação
dos sistemas serotoninérgicos,
em resposta ao EF, têm sido apontados
devido aos seus benefícios no
síndrome depressivo e ansiedade 18 ,
assim como na função erétil 19 .
Por fim, a melhoria da imagem
corporal resultante do EF tem sido
proposta como outra explicação 1 ,
pois se negativa pode condicionar
baixa autoestima e, consequentemente,
interferir durante a atividade
sexual, causando desconforto, ansiedade
e/ou evitamento sexual. 20,21 No
sexo masculino geralmente associa-
-se uma imagem corporal mais
atrativa à forma e à massa muscular
22 , sendo mais benéfico com este
propósito associar treino de força ao
treino de endurance. 1
Escolha do programa de exercício
físico
Em muitos casos de DE coexiste
patologia cardiovascular, sendo mandatória
a avaliação cardiovascular
prévia à prescrição de EF. 23 Segundo o
consenso de Princeton, na DE os doentes
podem ser estratificados em três
classes de risco cardiovascular. 23 No
risco baixo [doentes revascularizados
com sucesso, com hipertensão arterial
(HTA) controlada, valvulopatia
ligeira e insuficiência cardíaca (IC)
classe I e II de NYHA] é desnecessário
realizar exames complementares
antes de iniciar ou retomar a
atividade sexual/EF. 23 Já os doentes
com risco indeterminado [enfarte
agudo do miocárdio (EAM) nas 2-8
semanas anteriores, não intervencionados,
angina de peito estável ligeira
a moderada, IC congestiva classe III
NYHA e doentes com sequelas não
cardíacas de doença aterosclerótica)
necessitam realizar prova de esforço
para serem melhor classificados
quanto ao risco. 23 No risco cardiovascular
elevado incluem-se doentes
com patologia cardiovascular grave
ou instável, como angina de peito
instável ou refratária, HTA não controlada,
IC congestiva classe IV de
NYHA, EAM há <2 semanas, arritmias
de elevado risco, cardiomiopatia
hipertrófica obstrutiva com sintomas
graves e valvulopatia moderada
a grave. 23 Estes doentes necessitam
estabilização prévia pela cardiologia,
com tratamento apropriado. 23 Adicionalmente,
convém lembrar que o EF
pode gerar desconforto/dor muscular
e lesões se realizado incorretamente,
sendo essencial a instrução adequada,
com aumentos graduais no
esforço físico, consoante a tolerância
individual. 1
A escolha do programa de EF deve
ter em conta a extensão temporal
do mesmo, intensidade e tipo de
EF, frequência e duração das sessões.
1,3 Para resultar em benefício
na função erétil, a intensidade não
deve ser ligeira (alterações vasculares
mínimas), nem excessiva (sem
benefício adicional e pode impedir
a resposta da testosterona, além
de que a adesão dos doentes tende
a ser menor). 1,24 Relativamente à
extensão do programa, são necessárias
no mínimo 16 semanas para
ocorrerem adaptações metabólicas
significativas. 25 Adicionalmente, deve
haver supervisão, preferencialmente
por médico, e acompanhamento por
fisioterapeuta com qualificações na
área do exercício físico das disfunções
sexuais e reabilitação sexual. 9
Uma meta-análise apontou o
treino de endurance de intensidade
moderada a elevada como o mais eficaz,
e concluiu serem benéficos tanto
programas a curto-prazo (< 6 meses),
como a longo-prazo (≥ 6 meses), e
haver maior benefício combinando
18 março 2020 www.revdesportiva.pt