Revista de Medicina Desportiva Informa Março 2019 | Page 8
O que andamos a ler
Nesta rúbrica pretendemos dar notícia de
artigos recentes ou que merecem ser (re)lidos
e comentados. É uma página aberta a todos os
colegas que pretendam colaborar descrevendo
ou comentando temas de medicina desportiva.
https://doi.org/10.23911/FMUP_mar_2019
Chocolate milk for recovery from
exercise: a systematic review and
meta-analysis of controlled clinical
trials 1
Resumo do editor
Dr. Basil Ribeiro, medicina desportiva
A ingestão nutricional tem um papel
fundamental na prática do exercício
físico e do desporto, antes, durante
e depois no período de recuperação.
Agora, importa promover a reidrata-
ção e a recuperação muscular, da sua
estrutura fibrilar, mas também da
satisfação dos depósitos energéticos e
de outros. O leite achocolatado (LAch)
tem sido considerado como bebida
de qualidade para a recuperação pós-
-esforço, pois, para além de fornecer
água, fornece hidratos de carbono
(HC), proteínas, flavonoides e mine-
rais, ao passo que a adição de choco-
late poderá contribuir também para a
maior adesão a este tipo de bebida.
No artigo que hoje se pretende
comentar 1 refere-se que cada 500ml
de leite fornece 16gr de proteínas,
52gr de HC, para além de vitamina
D nos leites enriquecidos. No LAch
a caseína constitui a principal fonte
proteica, sendo a restante o soro de
leite. Aquela causa um “período mais
prolongado de hiperaminoacidemia
6 março 2019 www.revdesportiva.pt
que o soro de leite, o que poderá
suprimir a proteólise e aumentar a
síntese proteica muscular”.
Dado que alguns estudos demons-
traram que a ingestão de LAch
esteve associada à melhoria da recu-
peração e do rendimento, à repleção
de glicogénio no músculo, à diminui-
ção das concentrações da CPK e do
lactato no sangue em comparação
com outras bebidas, desportivas ou
não, e porque houve estudos que
não encontraram esta associação, os
autores desta meta-análise quise-
ram obter respostas sobre os even-
tuais benefícios do LAch, referindo
que até à data de publicação do
seu texto não havia ainda nenhum
estudo sistematizado publicado
sobre esta temática. Assim, proce-
deram a uma revisão sistemática
na internet (PubMed, Scopus e Google
scholar) buscando artigos publicados
até abril de 2017 que combinassem
a ingestão de LAch com alguns parâ-
metros também relacionados com
a recuperação. A busca encontrou
1574 textos e apenas 23 foram sele-
cionados para estudo, dos quais 11
foram depois eliminados. Posterior-
mente, outro estudo foi eliminado,
pelo que apenas 11 foram usados
nesta meta-análise. Dois estudos
foram considerados de alta quali-
dade e 9 foram considerados como
fracos.
Em relação ao tempo até exaus-
tão, a análise estatística por subgru-
pos permitiu concluir que houve
aumento significativo com a inges-
tão de LAch em relação ao placebo
ou em relação ás bebidas com HC +
proteína + gordura, assim como
houve aumento significativo nos
atletas não ciclistas. De um modo
geral a ingestão de LAch não teve
efeito na taxa de perceção do
esforço (TPE), mas na análise de
subgrupos, quando se consideraram
apenas os estudos de alta qualidade,
constatou-se que a ingestão dimi-
nuiu a TPE, ao passo que houve um
efeito “significativo, mas direto nos
textos de menor qualidade”. A
análise dos subgrupos baseado no
tipo de bebida, revelou que a
ingestão de LAch reduziu significati-
vamente a concentração de ácido
lático em comparação com o
placebo, mas a concentração de
lactato apenas esteve significativa-
mente reduzida após ingestão de
LAch nos estudos de menor quali-
dade, ao passo que nos de alta
qualidade tal não foi constatado. No
global, a ingestão de LAch não
alterou de modo significativo a CPK
sérica, mas a remoção de um estudo
da análise já permitiu encontrar um
efeito global significativo. A análise
dos seis estudos que avaliaram a
recuperação da frequência cardíaca
após o esforço concluiu ausência de
influência do consumo de LAch,
mesmo após a remoção da análise
de qualquer estudo no sentido de
diminuir a heterogeneidade dos
estudos.
Na Discussão os autores referem
que globalmente o consumo de LAch
não teve influência nos parâmetros
analisados, mas que as subsequen-
tes sub-análises revelaram um efeito
positivo significativo, defendendo
que “o LAch parece ser um bom
candidato para ajudar na recupera-
ção, dado que contém HC, proteínas,
água e eletrólitos”. Na Conclusão,
os autores da revisão sistemática
e da meta-análise referem que o
consumo de LAch após o exercício
melhora o tempo até à exaustão e
diminui a resposta do ácido lático,
pelo que proporciona efeitos simi-
lares ou superiores em relação a
outras bebidas usadas na recu-
peração dos atletas, constituindo
uma alternativa e também solução
económica.