Revista de Medicina Desportiva Informa Março 2019 | Page 4
Rev. Medicina Desportiva informa, 2019; 10(2):2. https://doi.org/10.23911/Entrevista_mar019
Dr. Marcos
Agostinho, II
Medicina Geral e
Familiar
Pós-graduação em
Medicina Desportiva
Torres Vedras
É especialista em Medicina
Geral e Familiar, mas tem uma
grande paixão pela Medicina
Desportiva ...
Sim, é verdade. Sou especialista
em Medicina Geral e Familiar
(MGF) desde 2015, com uma
Pós-Graduação em Medicina
Desportiva concluída em 2014.
Esta paixão vem desde cedo
devido ao facto de ter sido
atleta federado durante 20 anos,
a qual se intensificou durante o
meu internato de MGF pelo desafio
de unir estas duas áreas na minha
carreira profissional.
O exercício físico como
instrumento de promoção de
saúde e de tratamento de doenças
é muito importante para si, não é?
Sem dúvida. Acredito cada vez mais
que a prescrição do exercício físico
personalizado poderá ser considerada
uma terapêutica eficaz e viável, tão
compatível ou melhor, comparada
com as outras opções existentes,
até pelo facto de apresentar menos
efeitos adversos e maior tolerância
quando bem prescrita e monitori-
zada. Basta estar atento à quantidade
de literatura e evidência científica
publicada de forma regular desde
há muitos anos para cá. O exercício
físico prescrito corretamente tem um
impacto significativo sobre as doen-
ças crónicas, tais como a hipertensão
arterial, diabetes, depressão, osteopo-
rose e cancro, entre outros, tanto na
prevenção primária como secundária.
Considera que estar sentado muito
tempo é mau? Ouvimos dizer que as
suas consultas são feitas em pé ...
É tão importante atingir os requisi-
tos mínimos semanais de atividade
2 março 2019 www.revdesportiva.pt
física, os tais 150 minutos por
semana de atividade física mode-
rada, como também reduzir o tempo
de inatividade física ou de sedenta-
rismo. Grande parte da população
em idade ativa exerce a sua ativi-
dade profissional de forma sedentá-
ria, muitas vezes na posição sentada
e por períodos prolongados, sendo
considerado um comportamento
de saúde emergente. Há pequenas
mudanças possíveis no ambiente
laboral que estimulam um estilo de
vida mais ativo, como por exemplo
uma plataforma elevatória na secre-
tária, mais conhecido como Standing
Desk ou Stand-Up Desk. Eu optei por
utilizar esta forma de trabalhar
desde 2017, fazendo as minhas
consultas em pé, de modo a ser mais
ativo e ao mesmo tempo transmitir
uma mensagem positiva aos utentes
que frequentam a minha consulta.
Sabemos que está integrado
no Programa Nacional para a
Promoção da Atividade Física
(PNPAF). Em que consiste este
Programa?
Trata-se de um dos onze Programas
de Saúde Prioritários do Plano Nacio-
nal de Saúde da Direção Geral de
Saúde, criado em 2016, tendo como
missão generalizar o conceito de
estilo de vida fisicamente ativo como
sinal (vital) de saúde e bem-estar
para todos, independentemente de
condições de saúde, económicas,
demográficas ou sociais, de forma a
aumentar o interesse da população
pela prática regular de atividade
física e pela redução do tempo
sedentário. Um dos seus objetivos
principais é capacitar os profissionais
de saúde, mas também promover
alterações estruturais com vista à
generalização da promoção da ativi-
dade física nos serviços de saúde.
E a sua relação com o British
Journal of Sports Medicine (BJSM)
como é?
Sou Editor Associado Sénior desde
2016 da maior revista científica na
área da Medicina Desportiva, atual-
mente com um fator de impacto
de 7.867. Uma das minhas funções
é apoiar o Editor-Chefe da revista,
como também tenho a possibilidade
de supervisionar a minha própria
secção editorial. Envolve a gestão
de vários artigos, fazendo cumprir
prazos e dar resposta aos pedidos
de leitura e revisão, de modo a que
o artigo final para publicação seja
sempre preciso, original e relevante.
Ao mesmo tempo dá-me a possibi-
lidade de estar exposto em primeira
mão a investigação inovadora e a
trabalhos baseados na evidência. Em
2017 assumi funções também como
Editor Deputado do BMJ Open Sport
& Exercise Medicine, uma subdivisão
da BJSM, onde a minha responsabi-
lidade é ainda maior, trabalhando
diretamente com o Editor-Chefe e
assumindo as suas funções na sua
ausência.
Criou um grupo no WhatsApp que
se chama Medicina Desportiva
Portugal. De que se trata?
Trata-se de um grupo interativo
entre colegas e amigos envolvidos
na Medicina do Desporto e Exercício
em Portugal. Como já tinha muitos
contactos, senti a necessidade de
interligá-los através deste grupo, de
forma a possibilitar um espaço de
partilha de conhecimentos, promo-
ção de eventos, notícias e interajuda
de forma direta e rápida, no qual
esta aplicação permite realizar
da melhor forma em comparação
com outras plataformas de média
social. Tem sido gratificante ver este
grupo crescer a nível de número de
colegas, como também colaborar na
partilha de informação interpares.
A terminar, o que gostaria de pedir
à sra. Ministra da Saúde?
Além dos outros desafios que a sra.
Ministra terá pela frente, gostaria
que valorizasse o papel importante
e fundamental dos profissionais
dos cuidados de saúde primários no
Serviço Nacional de Saúde, princi-
palmente na área preventiva, onde
o PNPAF tem um papel paralelo de
extrema importância na promoção
de estilos de vida ativos e saudáveis.