Revista de Medicina Desportiva Informa Março 2019 | Page 27

Rev. Medicina Desportiva informa, 2019; 10(2):25. https://doi.org/10.23911/Comenta_tratam_entorse_tornozelo Diagnosis, Treatment and Prevention of Ankle Sprains: Update of an Evidence-based Clinical Guideline 1 Dr. José Pedro Marques Especialista em Medicina Desportiva. Undade de Saúde e Performanace da Federação Portuguesa de Futebol. Aveiro. O artigo da autoria de investi- gadores holandeses é uma atua- lização de uma guideline publi- cada pela primeira vez em 2012. O acumular de nova evidência relevante no que respeita ao diagnóstico, ao tratamento e à prevenção das entorses do tor- nozelo justificou o trabalho de revisão da literatura e a elaboração de novas guidelines. A entorse lateral do tornozelo (LAS) é uma das lesões mais comuns na prática desportiva. Em desportos indoor foi reportada uma incidência de sete LAS por 1000 exposições. Apesar da elevada prevalência e incidência destas lesões, apenas cerca de 50% dos indivíduos procu- ram cuidados médicos após uma LAS. Este facto pode explicar, pelo menos parcialmente, o elevado número de atletas que acabam por desenvolver clínica de instabilidade crónica do tornozelo após sofrerem uma lesão deste tipo. A secção de “Resultados” do artigo está dividida em diferentes áreas: fatores predisponentes e de prognós- tico, diagnóstico, tratamento, preven- ção e regresso ao trabalho/atividade desportiva. Para cada uma delas os autores tiveram o cuidado de apresentar as novidades existentes e fazer as devidas recomendações. No que concerne aos fatores de risco, as principais novidades são a identificação do sexo feminino e o baixo IMC como fatores de risco intrínsecos, a somar aos já ampla- mente conhecidos (diminuição da amplitude articular de dorsifle- xão, redução da proprioceção e do equilíbrio e controlo postural). Dos fatores de risco extrínsecos, releva-se o tipo de desporto praticado (maior incidência no basquetebol e volei- bol), jogar em relva natural (versus sintético) e competir a um nível elevado. Há uma plêiade de fatores que influenciam o prognóstico, mas a evidência que os suporta ainda é relativamente fraca. De realçar que apesar de submetidos a tratamento otimizado (imobilização funcional e programa de reabilitação) até 40% dos indivíduos que sofrem uma LAS acabam por desenvolver instabili- dade cónica do tornozelo. Quanto ao diagnóstico reforça- -se a importância das regras de Ottawa no apoio à decisão sobre a necessidade de realizar um raio-x. A classificação da entorse deverá ser feita com recurso aos testes de esta- bilidade ligamentar (gaveta anterior) 4 a 5 dias após a lesão, por ser nesta altura que são maiores a sensibili- dade (84%) e a especificidade (96%) do mesmo. A RMN torna-se útil nos casos em que as queixas persis- tem além do período expectável e quando se suspeita de lesões asso- ciadas (osteocondrais, sindesmose). No tratamento das entorses, destaca-se a ausência de evidência que suporte os alegados benefícios da utilização da estratégia PRICE (ou dos seus componentes individuais) na fase aguda. É provavelmente a novidade mais “surpreendente”, mas que não me parece que venha a ter translação para a prática clínica. Quanto aos AINE’s sublinha-se a sua utilidade clínica na redução da dor e da inflamação, não deixando de mencionar os efeitos adversos amplamente conhecidos e também o facto de suprimir/atrasar o pro- cesso natural de cicatrização. Caso o clínico decida tratar uma LAS com um período de imobilização, este deve ser no máximo de 10 dias. As recomendações vão, no entanto, no sentido de se preferir a utilização de medidas de suporte funcional, como as ortóteses e as imobiliza- ções funcionais. Estas medidas, juntamente com os programas de reabilitação com enfoque no treino neuromuscular e propriocetivo, são destacadas como aquelas com maior evidência no tratamento das LAS. A esmagadora maioria dos indivíduos com LAS responde favoravelmente ao tratamento conservador e, como tal, a cirurgia deverá ficar reservada para as falências deste e para alguns casos específicos em atletas pro- fissionais, onde se possa garantir o regresso mais rápido à competição. As modalidades terapêuticas como o laser, o ultrassom e a eletroterapia não demonstraram eficácia na redu- ção da dor, edema, melhoria da fun- ção ou regresso à competição. Como tal, o seu uso não é recomendado. Relativamente à prevenção das LAS, os suportes funcionais (ortó- teses e imobilização com tape) são eficazes na prevenção primária e secundária das LAS, mas parecem mais eficazes na prevenção das recorrências. Já o exercício terapêu- tico demonstrou ser eficaz apenas na prevenção secundária. No que se refere aos suportes funcionais, os mecanismos que explicam a sua eficácia não são ainda bem com- preendidos. No que respeita ao regresso à prá- tica desportiva os resultados pare- cem ser melhores (e a recuperação mais célere) quando o programa de exercício terapêutico é realizado sob supervisão. 1. Vuurberg G, Hoorntje A, Wink LM, et al. Diagnosis, treatment and prevention of ankle sprains: update of an evidence-based clinical guideline. Br J Sports Med 2018; 52:956. Revista de Medicina Desportiva informa março 2019 · 25