Revista de Medicina Desportiva Informa Março 2019 | Page 17

Tabela 3 – Programa de integração para retorno à atividade (adaptado de Schleich et al, 2016) Fase Actividades 1 Retorno às atividades de vida diária (2 semanas) Monitorização regular por equipa multidisciplinar Rastreio de sintomas compatíveis com RIE, padrão de sono, hidratação, caracterís- tica da urina. Reavaliação analítica sérica com CK e creatinina 2 Monitorização diária de estado de hidratação, dor muscular e sudorese. Inicio de atividade física: foam rolling, aquecimento dinâmico, jogging aquático e alongamentos. 3 Monitorização diária de estado de hidratação, dor muscular e sudorese. Progressão de atividade física: exercícios de resistência com peso do corpo, com banda elástica, fortalecimento do core, bicicleta estática e alongamentos. 4 Monitorização diária de estado de hidratação, dor muscular e sudorese. Inicio de treino de resistência com 20% – 25% de 1 REM, exercícios de agilidade e corrida (percursos de 50m). individualizado após a resolução completa clínico-laboratorial da síndrome. 10 Em 2016, Schleich et al propuse- ram um programa de reintegração prévio ao retorno à atividade para os atletas de baixo risco dividido em 4 fases (tabela 3). A salientar que a progressão entre fases depende da ausência de sintomas e dos níveis de CK consistentemente dentro dos limites definidos, ou seja, inferior a 5x o normal (1000U/L), como já reco- mendado previamente na literatura 8 , sendo que deverá ser feita uma reavaliação analítica entre cada fase. A fase 1 inicia-se à data da alta e engloba essencialmente um retorno às atividades de vida diária durante um período mínimo de 2 semanas durante o qual o individuo reporta diariamente queixas de dor muscu- lar, estado de hidratação e caracte- rísticas da urina e assegura um sono noturno ininterrupto não inferior a 8 horas. Uma vez cumprida a fase 1, o restante programa de reintegra- ção baseia-se em períodos sequen- ciais de uma semana com 5 treinos diários desde a fase 2 à fase 4. Na fase 2 inicia-se a atividade física inicialmente com foco em exercícios de alongamentos e treino de capaci- dade aeróbia em meio aquático, com diminuição progressiva da imersão. Na fase 3 são mantidos os exercícios iniciados na fase 2 e introduzidos alguns exercícios como band walking, exercícios de aquecimento dinâmi- cos e exercícios funcionais apenas com o peso do corpo, e aumento gradual da resistência e treino aeróbio na bicicleta estática, sempre em consonância com os objetivos de frequência cardíaca máxima. A fase 4 inicia-se com a introdução de treino de força a 20% – 25% da RME e treino de agilidade até 70% a 80% do esforço máximo. O treino cardiovascular e os exercícios de treino de força deverão ser de baixa intensidade e graduais de forma a ativar as funções celulares e pre- venir défices energéticos, ou seja, em intensidades abaixo do limiar anaeróbio. Na ausência de sintomas ou recorrência, poderá iniciar-se um programa com exercícios isotónicos que deverão ser mantidos mesmo após se retomar o treino normal. 11 Prevenção da recorrência Devem ser adotados métodos de prevenção de recorrência, tais como exercícios de aquecimento, repeti- ção periódica dos exercícios de ação muscular excêntrica, em casos de doença aguda (como por exemplo gastroenterite) o exercício deverá ser aligeirado ou interrompido até recuperação total, manter uma hidratação e alimentação adequa- das. 4,5 A suplementação com co- -enzima Q10, vitamina E e vitamina C tem vindo a ser discutida embora necessite de maior evidência. 5 Sugere-se igualmente como impres- cindível que haja um total respeito pelos princípios do treino, tais como o princípio da individualidade ou progressividade. 10 Bibliografia 1. Rosa, N. G., Silva, G., Teixeira, A., Rodrigues, F., & Araújo, J. A. . Rabdomiólise. Acta Médica Portuguesa, 2005; 18:271-282. 2. Schleich, K., Slayman, T., West, D., & Smooth, K.. Return to play after exertional rhabdomyolisis. Journal of Athletic Training, 2016; 51:406-409. 3. Szczepanik, M. E., Heled, Y., Capacchione, J., Campbell, W., Deuster, P., & O’Connor, F. G. Exertional rhabdomyolysis: identification and evaluation of the athlete at risk for recurrence. Current Sports Medicine Reports, 2014; 113-119. 4. Kim, J., Lee, J., Kim, S., Ryu, H. Y., Cha, K. S., & Sung, D. J. Exercise-induced rhabdomyoli- sis mechanisms and prevention: a literature review. Journal of Sport and Health Science, 2016; 5:324-333. 5. Knapik, J., & O’Connor, F. G. Exertional Rhabdomyolysis: Epidemiology, Diagnosis, Treatment, and Prevention. Journal of Special Operations Medicine, 2016; 16:65-71. 6. Tietze, D., & Borchers, J. Exertional Rhab- domyolisis in the Athlete: a clinical review. Sports Health, 2015; 6:336-339. 7. Giannoglou, G., Chatzizisis, Y. S., Misirili, G. (2007). The syndrome of rhabdomyolysis: pathophysiology and diagnosis. Eur J Intern Med, 2007; 18:90-100. 8. O’Connor, F. G., Brennan, F. H., Campbell, W., Helled, Y., & Deuster, P. (2008). Return to physical activity after exertional rhabdomyoly- sis. Current Sports Medicine Reports, 2008; 7:328-331. 9. Ruivo, R. Manual de Avaliação e Prescrição de Exercício. (Self, Ed.) 4ª Ed, 2018. Lisboa. 10. Tietze, D., & Borchers, J. Exertional Rhab- domyolisis in the Athlete: a clinical review. Sports Health, 2015; 6:336-339. 11. Raleigh, M. F., Barrett, J. P., Jones, B., Beutler, A., Deuster, P., & O’Connor, F. G. (2018). A Cluster of Exertional Rhabdomyolysis Cases in a ROTC Program Engaged in an Extreme Exercise Program. Military Medicine, 2018; 183:516-521. Revista de Medicina Desportiva informa março 2019 · 15