Revista de Medicina Desportiva Informa Março 2017 | Page 31

SPAT 2

Rev . Medicina Desportiva informa , 2017 , 8 ( 2 ), pp . 29 – 32

Transplante de Menisco – a Nossa Experiência

Dr . Mário Vale , Dr . Ricardo Telles de Freitas , Dr . Ricardo Varatojo Centro de Ortopedia e Traumatologia do Hospital CUF Descobertas Unidade de Joelho , Tornozelo e Traumatologia Desportiva . Lisboa
RESUMO / ABSTRACT
O menisco é uma estrutura de fibrocartilagem que aumenta a congruência articular entre o fémur e a tíbia , contribuindo não só para a melhor distribuição das cargas , como também para a estabilidade do joelho . A síndrome pós-meniscectomia corresponde ao quadro de dor localizada no compartimento femorotibial que ocorre algum tempo depois de uma meniscectomia . O transplante meniscal é realizado há mais de 30 anos e tem mostrado resultados bons e consistentes , pelo que não deve ser visto como experimental . Neste trabalho analisámos retrospetivamente os nossos doentes submetidos a transplante de menisco com aloenxerto .
Meniscus is a fibrocartilage structure that increases the congruence between femur and tibia , thus contributing not only for a better load distribution , but also to the joint stability . The post-meniscectomy syndrome is the unicompartimental pain that occurs after a meniscectomy . Meniscal transplantation has been performed for more than 30 years , with good and consistent results . Therefore , it should not be considered as experimental . In this paper , we report a retrospective analysis of our patients submitted to a meniscal allograft transpantation .
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS
Menisco , transplante meniscal , síndrome pós-meniscectomia . Meniscus , meniscal transplantation , post-meniscectomy syndrome .
Introdução
O menisco é uma estrutura de fibrocartilagem que aumenta a congruência articular entre o fémur e a tíbia , contribuindo não só para a melhor distribuição das cargas , como também para a estabilidade do joelho .
Broadhurst 1 descreveu a primeira excisão de menisco em 1866 e durante mais de 100 anos a meniscectomia foi o procedimento escolhido para o tratamento das roturas meniscais . Fairbanks 2 , em 1948 , descreveu as alterações radiológicas nos joelhos meniscectomizados , introduzindo a ideia da artrose pós-meniscectomia . Em 1977 , McGinty 3 demonstrou as vantagens da resseção parcial em lugar da remoção completa do menisco e surgiu o conceito da preservação meniscal . Apesar do primeiro registo de sutura meniscal datar de 1883 , atribuído a um cirurgião escocês Thomas Annandale 4 , só a partir da década de 1980 , com Wirth 5 , a cirurgia de reparação do menisco se implementou na comunidade ortopédica .
A rotura de menisco continua a ser uma das lesões mais frequentes do joelho e resulta em cirurgia em cerca de 35 casos por 100 000 habitantes por ano no Reino Unido . 6 Em Portugal não temos dados disponíveis . Apesar do conhecimento atual sobre a importância da preservação e reparação meniscal , nem sempre é possível manter um menisco funcional . O conceito de menisco funcional , mais do que se referir à quantidade preservada , baseia-se na integridade do seu anel periférico . Ou seja , um menisco , que apresente uma rotura radial que atinja o limite das suas fibras mais periféricas , compromete a sua função de forma equivalente a uma meniscectomia total , ainda que o tecido removido no seu tratamento seja relativamente pouco . Isto é , deixa de ser funcional .
A síndrome pós-meniscectomia corresponde ao quadro de dor localizada no compartimento femorotibial , que ocorre algum tempo depois de uma meniscectomia . Na sua génese estará a perda de homeostasia articular , com sobrecarga do compartimento afetado , pela perda da função meniscal . Alguns trabalhos mostram que a meniscectomia reduz a área de superfície de contacto até 75 % e aumenta as cargas articulares até 300 %. 7 , 8 Radiologicamente , pode observar-se redução do espaço articular em carga ( Fig . 1 ) e na ressonância magnética é frequente o edema subcondral ( Fig . 2 ).
Fig . 1 – Radiografia dos joelhos em carga , com redução da interlinha femorotibial externa do joelho esquerdo ( seta ).
Fig . 2 – Imagem de ressonância magnética , com edema subcondral no côndilo femoral externo ( círculo ), pós-meniscectomia .
Revista de Medicina Desportiva informa Março 2017 · 29