Revista de Medicina Desportiva Informa Março 2017 | Page 25

Resultados
Trata-se de um indivíduo do sexo masculino , 36 anos , professor de educação física . Recorreu à consulta de ortopedia por dor lateral do tornozelo esquerdo , com seis meses de evolução após episódio de entorse do tornozelo , agravada pela atividade desportiva . Associadamente referia sensação de “ popping ” nessa região , especialmente durante a subida de escadas ou durante o movimento de circundução do pé . Ao exame objetivo do tornozelo , este apresentava-se normoalinhado , com ligeiro edema maleolar lateral e luxação evidente dos tendões peroniais com a eversão e dorsiflexão do pé ( Fig . 1 ). O teste da gaveta anterior foi negativo , assim como o teste em stress de inversão e eversão . O Rx não apresentava imagens sugestivas de fraturas-avulsão ou de instabilidade ligamentar no caso nas imagens executadas em stress .
O doente realizou RMN do tornozelo , que não revelou sinais de rutura dos tendões peroniais ou das estruturas ligamentares . Como possível fator predisponente apenas foi detetada a presença de um sulco peronial de baixa profundidade .
O doente foi submetido a tenossinovectomia dos tendões peroniais ( Fig . 2 ), afundamento do sulco peronial de acordo com o descrito por Zoellner and Clancy 8 , que se verificou ser pouco pronunciado ( Figs . 3 e 4 ), e reparação do retináculo peronial superior , lesado na sua inserção peronial , que foi então reinserido com âncoras no bordo póstero-lateral do perónio ( Figs . 5 e 6 ). Cumpriu um curto período de imobilização de duas semanas , em ligeira eversão do pé , após o que iniciou reabilitação com mobilização passiva e carga com ortótese bloqueadora do movimento de inversão / eversão e , posteriormente , às seis semanas , mobilização ativa com carga não restritiva ,
reabilitação motora e propriocetiva . Iniciou atividade desportiva aos três meses de pós-operatório . Aos seis meses após a cirurgia encontrava- -se sem queixas álgicas , sem limitação funcional ou novos episódios de subluxação / luxação , mantendo seguimento pelo cirurgião ortopédico assistente .
Discussão
A identificação da etiologia da dor do tornozelo pode ser difícil dado o grande número de causas possíveis . No caso da luxação dos peroniais , um exame objetivo cuidado , juntamente com a história clínica , deverão ser suficientes para o diagnóstico . A compreensão da anatomia da região envolvida e das técnicas cirúrgicas atualmente utilizadas são de grande importância para a obtenção de um resultado favorável . Várias são as técnicas cirúrgicas
A B
C
Figura 1 – Luxação evidente dos tendões peroniais
Figura 2 – Abordagem lateral do tornozelo sobre a porção posterior e distal do perónio com visualização dos tendões peroniais e realização de tenossinovectomia ( A – periósteo peronial ; B – tendões peroniais ; C – porção residual do retináculo peronial superior )
Figura 3 – Elevação da superfície cartilaginosa do sulco peronial por osteotomia a partir da sua porção lateral preservando a sua fixação medial ; remoção de osso esponjoso subjacente por uma profundidade de aproximadamente 5mm
Figura 4 – Recolocação do flap osteocartilaginoso na porção posterior do maléolo peronial e sua impacção com reconstrução com afundamento do sulco peronial
Figura 5 – Reinserção peronial do retináculo peronial superior com recurso a âncoras
Figura 6 – Encerramento fascial
Revista de Medicina Desportiva informa Março 2017 · 23