Revista de Medicina Desportiva Informa Março 2016 | Page 33

perceção de um ruído no momento da lesão; 4) presença de equimose; 5) limitação dolorosa superior a 15° no estiramento passivo (em comparação com o lado oposto). Tema 4: Patologia do músculo – atualidades na clínica musculares. A indicação cirúrgica é rara e está reservada para roturas totais ou de grau III. O regresso à competição só deve acontecer quando não tiver qualquer dor no treino com cargas máximas. As complicações são várias: hematoma residual, seroma, fibrose cicatricial dolorosa, pseudoquisto muscular, miosite ossificante e a recidiva, que é a mais frequente. importante nas terapêuticas regenerativas, muito há por fazer no rigor metodológico e, particularmente, no domínio das ciências básicas para maior compreensão dos processos biológicos e da preparação dos substratos aplicados no âmbito das terapias regenerativas biológicas. Moderadores: Prof. Doutor Espregueira-Mendes, Dr. Luís André Rodrigues Dr. Pedro Saraiva. Medicina Física e Reabilitação. Medicina Desportiva. Coimbra. Dr. Artur Pereira e Castro. Ortopedia. Lisboa. Prof. Doutor João Espregueira-Mendes. Ortopedia. Porto Lesão muscular e hematoma. Como proceder? A lesão muscular e as terapêuticas regenerativas. Quais as evidências? A lesão muscular é a mais frequente no desporto, depende da modalidade envolvida, da posição que o atleta ocupa nas modalidades coletivas e representa cerca de 30% de todas as lesões do desporto, como por exemplo no futebol. São cerca de 600 os músculos do corpo e representam 40 a 45% da massa corporal. Existem dois tipos de músculos: liso e estriado. O músculo estriado pode ser o cardíaco, de contração involuntária, e o esquelético de contração voluntária e que preenche o aparelho locomotor. As lesões musculares podem resultar de um traumatismo direto (contusão) ou indireto, em que o músculo se estira para além das suas capacidades fisiológicas de contratilidade e/ou de elasticidade. Durante o exercício físico o fluxo sanguíneo no músculo aumenta substancialmente, pelo que um traumatismo pode provocar um hematoma. Perante um hematoma muscular temos de tomar a sempre difícil decisão do atleta continuar ou não em competição. Devemos aplicar as medidas básicas consensuais universalmente RICE (rest, ice, compression e elevation). O tratamento nas primeiras 48 horas visa o controlo do hematoma e está completamente contraindicada a massagem. Posteriormente os agentes físicos, a mobilização e o inicio da ativação muscular são benéficos à reorientação e cicatrização das fibras As lesões musculares representam cerca de 31% de todas as lesões no futebol profissional, sendo a lesão dos músculos isquiotibiais e dos adutores as mais comuns, com 12.8% e 9.2%, respetivamente. As terapias regenerativas têm surgido como uma abordagem promissora no tratamento de diferentes condições musculosqueléticas, inclusive das lesões musculares. Porém, ainda não existe um consenso na comunidade científica no que concerne à sua eficácia nos diferentes tipos de patologias. Neste sentido, as injeções intramusculares de plasma rico em plaquetas são a abordagem que mais tem sido investigada, mostrando efeitos benéficos em diferentes patologias musculares e/ou tendinosas, tais como, epicondilite, lesão da coifa dos rotadores, tendinopatia do rotuliano e do Aquiles e, mais recentemente, lesão dos músculos isquiotibiais. Contudo, algumas limitações no que diz respeito à investigação destas terapias devem ser tidas em conta, particularmente no âmbito dos fatores de crescimento, com variabilidade dos métodos de preparação e na dosagem e frequência. Por sua vez, a análise retrospetiva de dados e a ausência de grupo de controlo e, ainda, a incidência predominante dos estudos em atletas masculinos, também pode contribuir para o enviesamento dos resultados. Assim, ainda que pareça haver um potencial O que fazer na lesão muscular recidivante? A lesão dos músculos isquiotibiais é a lesão muscular mais frequente, podendo em alguns desportos atingir uma incidência que chega aos 30 %. Esse valor tem vindo a aumentar no futebol, como revela o estudo de Ekstrand publicado em 2016 e que mostra que houve aumento de 4,4 % entre 2001 e 2014 num grupo de análise que engloba os 36 maiores clubes da Europa. A recidiva destas lesões é dramática e muito frequente e implica um tempo de paragem prolongado. Alguns fatores de risco modificáveis são passíveis de intervenção para diminuir a incidência de recidivas. A análise do episódio anterior e a discussão dos ciclos de trabalho com a equipa técnica é fundamental. O programa de reabilitação engloba o trabalho de flexibilidade, o fortalecimento muscular, essencialmente na sua vertente excêntrica, o trabalho de agilidade e do “core” e o “overload running”. No trabalho excêntrico ganha cada vez maior relevo os exercícios nórdicos e o protocolo em alongamento proposto pelo grupo de Askling. É também importante a análise de patologias potencialmente associadas com a recidiva, nomeadamente a nível lombar, sacroilíaca e dentária e o correto enquadramento psicológico do atleta. O sucesso de um programa de reabilitação evitando recidivas lesionais passa pelo respeito pelos critérios de retoma desportiva: ausência de dor, flexibilidade, força muscular e performance funcional normalizadas. Revista de Medicina Desportiva informa Março 2016 · 31