Revista de Medicina Desportiva Informa Março 2016 | Page 28
isoladas, nem separadas. Pelo contrário, representam faces diferentes da
mesma moeda, sendo a tendinose a
fase onde as alterações observadas já
dificilmente têm retorno e reparação.
Pelo que foi anteriormente exposto,
neste momento a melhor designação para esta patologia é … tendinopatia. Esta pode ser provocada
por sobrecarga, ou ser secundária a
outras causas, como a hiperuricemia, a insuficiência renal crónica, a
dislipidemia ou mesmo a medicação
prolongada com sinvastatina.
As consequências da tendinopatia são devastadoras para o atleta,
sendo o mais importante a rotura
tendinosa, que muitas vezes aparece de forma “quase espontânea”.
Muitos casos, sobretudo de atletas
de alta competição, foram apresentados pela comunicação social e
motivaram paragens importantes na
carreira desportiva desses atletas.
Na maioria dos casos, depois de uma
recuperação prolongada e complicada, o regresso desportivo foi feito
a um nível inferior de rentabilidade
ou mesmo conduziu a um abandono
precoce da prática desportiva. Mas
esta é a ponta do iceberg, pois são
muito frequentes os casos de tendinose observados na prática clínica
que obrigam ao abandono da prática
desportiva competitiva ou mesmo
de lazer!
Chegados a este ponto, poderemos
discutir o título desta pequena conversa. Existe prevenção da tendinopatia de sobrecarga?
A consulta da literatura mostra
que são escassas as publicações que
abordam a prevenção da tendinopatia. Todas têm um nível de evidência III e IV. Dos estudos avaliados
destacou-se o realizado por Janne
Peters4, mostrando que as medidas
de prevenção de uso corrente são
de eficácia ainda muito limitada.
Destacam-se os exercícios de alongamento muscular como os mais
importantes! Outras medidas são a
modificação do calçado na prevenção da tendinopatida do tendão de
Aquiles e nas mulheres que praticam desporto após a menopausa a
instituição de terapêutica hormonal
de substituição. Esta pobreza de
resultados encontrados na literatura
é aceitável porque a etiopatogenia e
história natural da tendinopatia não
está suficientemente estabelecida
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e é multifatorial. Por outro lado, a
necessidade de um atleta atingir
resultados obriga-o a treinar de
forma regular, muitas vezes intensa
e repetitiva que o pode conduzir ao
ciclo da tendinose.
Na atualidade a prevenção baseia-se na forma como o atleta e o seu
treinador conduzem o treino que
deverá obedecer a três critérios:
• Evitar o treino excessivo de determinados gestos técnicos;
• Utilizar meios de proteção adequados;
• Realizar um planeamento rigoroso
do treino pensando em todos os
grupos musculares.
A conjugação destes pilares nem
sempre é a melhor mas, seguramente, poderá evitar que um atleta
com tendinopatia entre na fase de
tendinose!
Bibliografia
1. Clement, D. B. et al. Achilles tendinitis and
peritendinitis: Etiology and treatment. American Journal of Sports Medicine 1984;12:179
2. Kraushar, B.S., Nirschl, R. P. Current Concepts
Review – Tendinosis of the Elbow (Tennis
Elbow). Clinical Features and Findings of Histological, Immunohistochemical, and Electron
Microscopy Studies. J Bone Joint Surg Am.
1999 Feb; 81-A(2):259-278.
3. Maffuli, N. et al. Tendon injuries, basic science
and clinical medicine; Springer, 2005
4. "http://www.ncbi.nlm.nih.gov/
pubmed/?term=janne+peters" \o "Journal
of science and medicine in sport / Sports
Medicine Australia." J Sci Med Sport. 2015
Apr 1. pii: S1440-2440(15)00080-8. doi:
10.1016/j.jsams.2015.03.008.
Dr. Filipe Antunes,
Medicina Física e
Reabilitação. Braga
Histologia, dor ou imagem?
Existem correlações?
A dor é a principal razão pela qual
se recorre aos cuidados de saúde,
particularmente no campo da Medicina Física e de Reabilitação (MFR)
ou da Medicina Desportiva (MD).
Sendo uma experiência sensorial,
é também emocional e dependente
da nossa própria experiência pessoal
passada, pelo que a colheita criteriosa da história clínica é o primeiro
passo fundamental para o sucesso
clínico. Desta forma, poderemos
desde logo definir se se trata de uma
dor aguda, recente e de provável
duração limitada, com definição
temporal e/ou causal, ou de uma dor
crónica, prolongada no tempo e que
perdura para além do tempo expectável de cura da lesão. O exame
físico minucioso completará a informação clínica recolhida, de forma
a chegar depois a um diagnóstico
plausível e estabelecer um plano
terapêutico em conformidade.
A tendinopatia, entendida como a
patologia que resulta das alterações
no tendão, é um diagnóstico frequente na prática clinica, quer em
MFR, quer na MD. O tendão é uma
estrutura de tecido conetivo denso
e regular que responde à carga a
que está sujeito, alterando o seu
metabolismo e as suas propriedades
estruturais. A carga é o fator determinante e “mobilizador” do tendão.
Parece existir um limiar anabólico
indi f