Revista de Medicina Desportiva Informa Março 2016 | Page 15

Tema 1 Rev. Medicina Desportiva informa, 2016, 7 (2), pp. 13–14 O Impacto do Exercício Físico na Função Endotelial Dr. Renato Andrade1,2,3, Dr. Rogério Pereira1,2,4,5, Prof. Doutor João Freitas1,5, Prof. Prof. Doutor Ovídio Costa1,5, Prof. Doutor João Espregueira-Mendes1,2,5,6 1 Clínica do Dragão, Espregueira-Mendes Sports Centre - FIFA Medical Centre of Excellence; 2Dom Henrique Research Centre; 3Faculdade de Desporto da Universidade do Porto; 4Faculdade de Ciências da Saúde, Universidade Fernando Pessoa; 5Faculdade de Medicina da Universidade do Porto; 6Departamento de Ortopedia da Universidade do Minho. RESUMO / ABSTRACT O impacto do exercício físico nas funções e adaptações endoteliais tem sido extensivamente estudado, o qual sofreu avanços significativos na última década. Temos assistido a um interesse crescente em relação às células endoteliais progenitoras devido às suas capacidades regeneradoras no tecido endotelial. A função endotelial vascular é responsável pelo equilíbrio homeostático do endotélio, envolvendo fatores locais e sistémicos. Neste sentido, o exercício físico beneficia a vasodilatação endotélio-dependente, o que contribui para a prevenção da doença cardiovascular. The physical exercise impact on the endothelial function and adaptations has been widely studied, which has suffered significant advances in the last decade. We have been witnessing an increasing interest on the endothelial progenitor cells, due to its regenerative capacities on the endothelial tissue. The vascular endothelial function is responsible for the homeostatic balance of the endothelium, involving local and systemic factors. In this sense, physical activity benefits the endotheliumdependent vasodilation, contributing to the cardiovascular disease prevention. PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS Exercício, endotélio, doença cardiovascular Exercise, endothelium, cardiovascular disease Introdução Na última década o conhecimento no que concerne ao impacto direto do exercício físico na vasculatura humana tem sofrido avanços significativos. Assim, é sabido que a prática de exercício físico melhora a função cardiovascular, especialmente a vasodilatação endotélio-dependente nas artérias elásticas e ao nível da microcirculação1. Neste sentido, o exercício físico poderá reduzir em cerca de 30% o risco de doença cardiovascular, contribuindo para a sua prevenção primária e secundária2. No entanto, os seus mecanismos biológicos ainda não são totalmente compreendidos3, sendo que os efeitos do exercício físico na redução dos tradicionais fatores de risco cardiovasculares apenas explicam parte da redução do risco de doença cardiovascular. Assim, a relação inversa entre o exercício físico e o risco de doença cardiovascular pode também ser explicada por potenciais mediadores, especialmente os biomarcadores inflamatórios/ hemostáticos, pressão sanguínea e índice de massa corporal4. A restante redução do risco de doença cardiovascular poderá eventualmente ser explicada pelo efeito direto e benéfico do exercício no endotélio5. endotélio, resultando em adaptações benéficas quer funcionais mas também estruturais5,8. Estas adaptações dependem de várias características do exercício, como a sua frequência, duração, intensidade e modalidade. Por um lado, a grande maioria da literatura científica utiliza o exercício aeróbio ou de resistência, envolvendo grandes grupos musculares e contrações repetidas dinâmicas, tais como, corrida lenta e ciclismo. Este tipo de exercício promove alterações sistémicas na pressão arterial e na frequência cardíaca, produzindo alterações recorrentes na hemodinâmica e na tensão de cisalhamento endotelial. Por outro lado, outros estudos focam pequenos grupos musculares, tais como exercícios de pega manual, estando associados maioritariamente a efeitos locais, menos dependentes de alterações regulatórias e neuronais9. O sistema vasodilatador dependente do óxido nítrico é a via vasodilatadora mais frequentemente estudada devido aos seus efeitos anti-aterogénicos no endotélio8. A redução da biodisponibilidade do óxido nítrico, possivelmente através de mecanismos envolvidos nas alterações da via sinalizadora do óxido nítrico, poderá colocar o indivíduo em risco de disfunção endotelial6,10,11. No entanto, o mecanismo implícito na redução do óxido nítrico é ainda alvo de debate na comunidade científica, dependendo de diversos Exercício Físico na Função Endotelial O endotélio desempenha um papel fulcral na regulação da pressão e fluxo sanguíneo através da contínua modulação do tónus vascular6. Os efeitos do exercício nas funções endoteliais envolvem fatores locais e sistémicos7. Neste sentido, o exercício tem impacto direto na vasculatura através de aumentos repetitivos na tensão de cisalhamento (“shear stress”) no Figura 1 – Diagrama elucidativo dos efeitos do exercício na biodisponibilidade do óxido-nítrico e sua consequente função protetora do sistema cardiovascular (adaptado de Calvert e Lefer. Physiology. 2013;28(4):216-224). Revista de Medicina Desportiva informa Março 2016 · 13