Revista de Medicina Desportiva Informa Março 2016 | Page 29
já irreversível, afeta todo o tendão
e caracteriza-se por hipoceluleridade, desorganização e diminuição
do diâmetro das fibras de colagénio, metaplasia fibrocartilagínea e
produção aumentada de colagénio
tipo III. O peritendão fica espessado,
com possibilidade de aderências,
como tentativa última de manter a
homeostasia e compensar as áreas
desorganizadas.
Na imagem, a ecografia permite
imagens em diferentes posições e
com o doente em carga. Vê a orientação longitudinal e paralela das
fibras, assim como interrupções ou
aumento de espaço entre as fibras
(ecogenicidade diminuída), mas
apenas as alterações hipoecoicas
podem predizer o desenvolvimento
de patologia tendinosa. A alternativa
imagiológica é a ressonância magnética que, sendo inócua, visualiza
o espessamento tendinoso e o sinal
hiperintenso para a rotura tendinosa, mas tem mostrado baixa
concordância com os resultados
da artroscopia, nomeadamente no
caso documentado da tendinopatia
bicipital braquial.
A dor, especialmente a crónica,
nem sempre se correlaciona com as
alterações patológicas e especialmente no tendão. Se na dor aguda
os estudos histológicos evidenciam
mínimas alterações inflamatórias
que a possam explicar, na dor sub-aguda a sensibilização neurológica
das alterações no tendão é entendida como fisiológica e sinalizadora
da necessidade de resguardar a
parte corporal afetada e permitir a
cicatrização tecidular. Se esta sinalização/sensibilização se mantiver, a
perceção somatosensorial fica alterada (sensitização), podendo explicar
a dor crónica, que se caracteriza
depois por situações de hiperalgesia
e alodínia tendinosa local.
Os testes QST (Quantitative Sensory Testing) permitem testar estas
alterações, medindo 13 parâmetros
somatosensoriais e testando a dor
induzida por estímulos mecânicos,
lógica na tendinopatia e térmicos. A
evidência científica tem mostrado
de forma consistente uma redução
do limiar de dor mecânica á picada,
confirmando o envolvimento de
fibras A delta e a hiperalgesia resultante, traduz o envolvimento de processos de sensitização central. Não
se trata contudo de uma dor neuropática, porque apenas surge em
esforço e sem expressão no repouso.
Na sua origem estarão implicados
fatores comportamentais, embora
possam ser equacionados outros
fatores, como a extensão anatómica
ou inflamatória da nociceção ou
mesmo fatores genéticos individuais.
que apresenta níveis adequados de
controlo motor e condicionamento
muscular, assim como de capacidade cardiorrespiratória, que foram
corrigidas eventuais alterações
biomecânicas e que readquiriu as
competências técnicas e psicológicas
necessárias para retomar a competição.
Tema 2: Patologia do
tendão – atualidades
na clínica
Dr. José Pedro
Marques. Medicina
Desportiva. Coimbra
Moderadores: Dr. Manuel Virgolino, Prof. Doutor João
Páscoa Pinheiro
Quando retomar a atividade na
tendinopatia crónica?
Estabelecido o diagnóstico e instituído o tratamento de fase aguda,
deve ser feita uma avaliação global
e prescrito um programa de reabilitação individualizado, ajustado às
especificidades do atleta. Na avaliação global dois aspetos revestem-se
de grande importância: 1. colher
indicadores funcionais e utilizar
escalas de avaliação de dor que
sirvam para monitorizar a evolução
ao longo do programa; 2. identificar
a carga abusiva.
A reabilitação tipicamente inclui
fortalecimento excêntrico que promove adaptações na estrutura do
tendão, tornando-o mais resistente e
com maior capacidade de absorção/
libertação de energia. Tem também
impacto positivo na dor e função.
Recentemente, um grupo australiano propôs que esta abordagem é
incompleta, pois não coloca enfâse
na importância do controle motor.
Propõem que há na tendinopatia
uma alteração do drive corticoespinhal para o músculo.
Conhecer a biologia do tendão é
fundamental quando chega à hora
de decidir se o atleta está pronto
para voltar à competição: a “cura” do
tendão pode demorar de 6 semanas
a 1 ano e este demora até cerca de
3 dias a recuperar de sessões com
cargas elevadas. É importante que o
atleta esteja bem adaptado às cargas
que previsivelmente vai enfrentar,
que a resposta aguda e sub-aguda
às sessões de treino não seja caracterizada por dor e incapacidade
funcional. Devemo-nos certificar
Dr. Jorge Laíns.
Medicina Física e
Reabilitação. Coimbra
Coifa dos rotadores – tenopatia,
dor e conflito – como tratar?
Com o seu já habitual entusiamo, o
orador começou por abordar a relação entre a grande mobilidade e a
grande instabilidade da articulação
glenoumeral, sendo os ligamentos e
os múscul