Revista de Medicina Desportiva Informa Março 2016 | Page 12
raramente3,7,8,9. Em 10 a 65% dos
pacientes com fibromatose plantar
está também presente fibromatose
palmar das mãos e também podem
estar associadas outras formas de
fibromatoses e doenças, tais como
diabetes mellitus, epilepsia, queloides e hepatopatia alcoólica3,10,11.
O diagnóstico é efetuado com base
na clínica e em exames complementares de diagnóstico, nomeadamente
ecografia e ressonância magnética
nuclear1,3,12. O tratamento da fibromatose plantar é essencialmente
conservador, estando o tratamento
cirúrgico sobretudo reservado para
situações de dor persistente refratária ao tratamento conservador e
contratura plantar incapacitante1,3.
Caso clínico
Rev. Medicina Desportiva informa, 2016, 7 (2), pp. 10–12
Fibromatose Plantar Bilateral
em Corredor Recreativo
Dr. Diogo Moura1, Prof. Dr. Fernando Fonseca2
1
Interno Complementar de Ortopedia e Traumatologia; 2Diretor do Serviço de Ortopedia e Traumatologia
do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.
RESUMO / ABSTRACT
A fibromatose plantar é um tumor benigno raro infiltrativo da fáscia plantar, cujo diagnóstico e tratamento são essenciais para evitar progressão para lesões irreversíveis do
pé. Apresenta-se o caso de um indivíduo de 33 anos de idade, praticante recreativo de
atletismo, que iniciou quadro clínico de fibromatose plantar, ao qual se aplicou tratamento
conservador sintomático, modificação de atividade e fisioterapia, com alívio sintomático.
Neste artigo discutem-se métodos de diagnóstico, opções de tratamento e prognóstico
desta entidade clínica rara e pouco documentada na medicina desportiva.
Plantar fibromatosis is a rare benign infiltrative tumor of the plantar fascia, whose diagnosis and
treatment are essential to avoid its progression to irreversible foot lesions. We present a 33 years
old man case, a recreational runner that started with plantar fibromatosis symptoms. He was
submitted to nonoperative symptomatic treatment, with symptomatic relief. This paper discusses
the diagnosis methods, the treatment options and the prognosis of this rare poorly studied pathology
on sports medicine.
Caso Clínico
Apresenta-se um indivíduo do sexo
masculino com 33 anos de idade,
praticante recreativo de atletismo,
que foi referenciado à consulta de
Ortopedia por desconforto e dor na
face plantar de ambos os pés com 5
meses de evolução, sem associação a
traumatismo ou esforço. A dor tinha
características mecânicas, sendo
mais intensa no final da prática
desportiva e em posição ortostática
prolongada, e estava associada a
sensação subjetiva de flexão plantar
rígida dos pés. Segundo o paciente,
estas queixas não eram limitativas
das atividades desportivas, mas
provocavam desconforto aquando
da prática de atletismo. Não apresentava quaisquer comorbilidades
associadas, nem sinais de outras
fibromatoses, nomeadamente fibromatose palmar. Ao exame objetivo
eram palpáveis formações subcutâneas rígidas nas porções mediais
das faces plantares de ambos os
pés, um nódulo fusiforme à direita e
outro nódulo fusiforme de menores
dimensões à esquerda (Figura 1). O
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS
Fibromatose plantar, Ledderhose, corredor, tumor, nódulo.
Keywords: Plantar fibromatosis, Ledderhose, runner, tumor, nodule.
Introdução
As fibromatoses são um grupo de
proliferações fibroblásticas benignas, que podem ser superficiais ou
fasciais e profundas ou musculares1.
A fibromatose plantar é uma doença
hiperproliferativa benigna superficial da fáscia plantar que foi inicialmente descrita em 1897 pelo cirurgião alemão Georg Ledderhose como
uma condição semelhante à doença
de Dupuytren, mas que ocorre na
face plantar do pé2. A fibromatose
plantar, ou doença de Ledderhose,
é uma doença rara, com incidência
de 0,23% na população geral. No
entanto, trata-se da segunda fibromatose superficial mais frequente,
a seguir à fibromatose palmar ou
doença de Dupuytren3. O sexo masculino é o mais atingido e a maior
prevalência verifica-se da 3.ª à 5.ª
décadas de vida1. As lesões são bilaterais em 20 a 50% dos casos4.
A etiologia é desconhecida e
permanece controversa. No entanto,
acredita-se ser multifatorial, onde
se inclui traumatismo, lesão microvascular, reação imunológica e
fatores genéticos1,2,3. Os pacientes
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apresentam-se com um ou mais
nódulos subcutâneos, mais frequentemente localizados nas porções
medial e central da fáscia plantar.
São fibromas que, regra geral, têm
proliferação local lenta, substituindo
progressivamente a fáscia plantar5,6.
A maioria destes nódulos é assintomática, mas podem estar associados a dor após andar ou correr
e após posição ortostática por um
longo período de tempo1. Quando
os nódulos patológicos invadem
estruturas adjacentes, tais como
feixes vasculo-nervosos, músculos
e tendões, podem estar associados
a outros sintomas específicos1. Ao
contrário da doença de Dupuytren,
na fibromatose plantar a contratura
plantar do pé e dos dedos ocorre
A
B
C
Fig. 1 – Fibroma nodular na face plantar do pé direito (A, B). Arco plantar mantido do
pé direito (C).