Revista de Medicina Desportiva Informa Março 2013 | Page 25

de esforço gradual são aplicados de acordo com um protocolo pré-estabelecido, como o de Bruce, e é precedida pela ingestão de um alimento, num dos testes placebo e no outro o alimento suspeito. A prova termina aquando da exaustão muscular ou se surgirem sintomas suspeitos, como prurido, eritema, urticária ou cólicas abdominais7,11. Caso o quadro clínico não seja sugestivo ou o estudo etiológico não seja consistente, deverão considerar-se diagnósticos diferenciais, particularmente com algumas síndromes de hipersensibilidade induzida pelo exercício ou patologias desencadeadas ou agravadas pelo mesmo. A avaliação diferencial diagnóstica pode ser guiada pela presença de um determinado sintoma que possa ser dominante em relação aos outros (tabela 2)6,7. A urticária pode surgir associada ao próprio exercício ou induzida pelo frio ou calor (urticária colinérgica). Ambos os tipos podem aparecer durante a prática de atividade física em contacto com ambiente frio ou pela elevação da temperatura corporal de forma passiva (contacto com água quente) ou ativa (na prática de atividade física)5,11. Pode surgir associada ou não a angioedema, mas em geral não cursa com reações graves, podendo ocorrer no caso da urticária crónica em outras circunstâncias não relacionadas com o exercício. Sendo mais prevalente que a EIA, a urticária induzida pelo exercício deve ser reconhecida, podendo ser causada também por outros estímulos: físicos (urticária física, dermografismo ou compressão), contacto com radiações ultravioletas (urticária solar), vibração ou contacto com a água (urticária aquagénica). Estas situações podem colocar os atletas, como nadadores e esquiadores em risco aumentado, encontrando-se descrita a anafilaxia aquagénica, em que ocorre afogamento após reação em contacto com água gelada4. A confirmação diagnóstica pode ocorrer, no caso da urticária pelo frio, pelo teste do cubo do gelo, em que o doente é submetido ao contacto com um cubo de gelo na pele durante 20 minutos que induz urticária no reaquecimento4. Na urticária colinérgica, através de uma prova de exercício, as lesões surgem em geral minutos após início do exercício da corrida, com início predominante na porção superior do tronco que acabam por generalizar. Estas pápulas são tipicamente de pequenas dimensões, menos coalescentes e extensas do que acontece nos sintomas cutâneos da EIA2. A mastocitose entra também na abordagem diferencial. Sendo uma doença rara, hereditária, carateriza-se pela proliferação e acumulação de mastócitos na pele apresenta-se sob a forma de urticária pigmentada ou em mais órgãos (mastocitose generalizada) com sintomas variáveis de acordo com os órgãos envolvidos e pode surgir com sintomas gastrointestinais e hipotensão. Estes doentes, por apresentarem um aumento dos mastócitos e da tríptase, têm maior risco de reações anafiláticas que podem ser despoletadas pelo exercício. Todas as patologias que cursem com exantema eritematoso e flushing podem agravar-se com o exercício e, portanto, entrar no diagnóstico diferencial da EIA. Na asma induzida pelo exercício há predomínio de sintomas respiratórios, ausência de lesões cutâneas ou sintomas cardiovasculares, sendo que a introdução de tratamento prévio ao exercício e dirigido a esta patologia resolverá esta situação clínica4. Como se trata? O seu tratamento é semelhante ao de qualquer reação anafilática, sendo aconselhada a suspensão imediata da atividade física aos primeiros sintomas de reação (Figura 1). Se esta ocorrer deve ser chamada a emergência médica e administrada o mais precocemente possível adrenalina intramuscular na face antero-lateral da coxa, colocando o doente em decúbito e com elevação dos membros inferiores (na dose de 0,3 mg criança e 0,5 mg adulto). Se disponível, pode-se ministrar oxigénio e iniciar reidratação com cloreto de sódio a 0,9%. Será necessário, naqueles previamente diagnosticados, que o próprio doente, a família, o treinador e a equipa estejam informados e treinados sobre os procedimentos a ter perante uma reação anafilática e acesso a um dispositivo de administração de adrenalina. A administração de corticoide ou anti-histamínico é apenas contemplada como terapêutica de segunda linha1. No caso particular do atleta que tenha episódio de anafilaxia induzida pelo exercício todos os regulamentos da Organização Mundial Antidopagem devem ser seguidos e cumpridos caso seja necessária uma intervenção terapêutica13. Como se previne? A abordagem profilática está dependente do conhecimento do(s) fator(es) desencadeante(s), pelo Revista de Medicina Desportiva informa Março 2013 · 23