Revista de Medicina Desportiva Informa Março 2013 | Page 24

frutos secos, cogumelos e fruta. Nos países Europeus os vegetais são os alergénios mais comuns, sendo o tomate o mais reportado numa série italiana7. No Japão o trigo é descrito por alguns autores como o alergénio alimentar mais comum a induzir FDEIA, em particular devido ao seu componente proteico a a-5-gliadina11. A descoberta e utilização de alergénios moleculares no diagnóstico possibilitou alargar o conhecimento do impacto de componentes alimentares na hipersensibilidade a múltiplos alimentos. Alguns desses componentes poderão ser identificados como o determinante alergénico comum e partilhar reatividade cruzada entre alimentos, funcionando como pan-alergénios e explicando uma hipersensibilidade a múltiplos alimentos. Romano et al numa série de 82 doentes italianos identificaram em 78% dos casos sensibilização a um componente – LTP – que está presente em diversas frutas e cereais12. Alguns destes alergénios encontram-se associados a produtos utilizados em determinados tipos de modalidades desportivas, como as bebidas de reidratação comerciais, enriquecidas de soja e gelatina; as proteínas dos frutos secos nas massagens com óleos ou o consumo de refeições enriquecidas em hidratos de carbono antes da atividade física, por conterem elevada quantidade de trigo e a-5-gliadina podem induzir uma EIA em indivíduos suscetíveis7. O uso frequente de medicação analgésica pelos atletas pode interferir numa potencial reação e sua gravidade, pois o consumo de anti-inflamatórios não esteroides (AINE) ou aspirina é um dos fatores mais associados à EIA. Podem ter um efeito cumulativo, como é o caso da associação entre a toma de aspirina e a FDEIA mediada pelo trigo2. A presença de atopia, história de eczema, asma ou rinite alérgica, bem como história familiar de alergia, apresentam uma forte associação à EIA e à FDEIA, particularmente nos jovens, antes dos 20 anos2. Nos atletas deve-se estar alerta para o papel das alergias alimentares. As mulheres, devido às variações hormonais que ocorrem durante o ciclo menstrual, podem apresentar reações de EIA durante o período pré-menstrual, que cessam na abstenção da atividade física durante este período. Perante o atleta ou quem pratica de forma regular exercício físico que venha a desenvolver EIA, todo o contexto clínico deve ser avaliado e escrutinado de forma a serem enquadrados todos os cofatores considerados. Como se diagnostica? O reconhecimento clínico de uma reação anafilática é o pilar para o diagnóstico e posterior orientação (Figura 1). Uma história clínica rigorosa permitirá discernir as causas de anafilaxia e estabelecer uma associação com a atividade física e outros fatores. Para tal será necessário obter uma descrição detalhada da sintomatologia da reação, identificar nas últimas 24 h que precederam a reação, a atividade física efetuada e sua intensidade, os alimentos ingeridos, a via e a dose de exposição ao alergénio suspeito, Fig. 1 – Abordagem integrada da anafilaxia induzida pelo exercício 22 · Março 2013 www.revdesportiva.pt nomeadamente na suspeita de uma FDEIA. Para além disso deverá averiguar-se a presença de antecedentes pessoais de alergia alimentar e potenciais alergénios que poderão ter sido responsáveis por uma reação de reatividade cruzada. Fatores de risco adicionais, como história de atopia, asma e uso de determinados fármacos (vasodilatadores, inibidores enzima de conversão da angiotensina, AINE ou salicilados) e consumo de álcool, devem ser também investigados7,11. O exame físico poderá ser útil para determinar a presença de atopia, podendo no caso de atletas serem aplicados questionários adaptados de forma a determinar a presença de sintomatologia alérgica. Da mesma forma, devem ser avaliados sinais e sintomas do foro endócrino, cardíaco e neurológico, que entram no diagnóstico diferencial da EIA (tabela 2). A avaliação respiratória e dermatológica poderá ser útil para documentar presença ou ausência de asma ou mastocitose, respetivamente. Nos exames complementares o uso de testes cutâneos e a medição de Imunoglobulina (IgE) específicas podem ser úteis na avaliação de atopia, mas principalmente na tentativa de definir o alimento em causa no caso da FDEIA2,7. Romano et al12 recomendam o uso por rotina de um painel de testes cutâneos prick, com alimentos em extrato ou frescos, bem como doseamento sérico de IgE específica sérica, devendo ser incluída, pela sua frequência, a a-5-gliadina. Atualmente poder-se-á associar as novas técnicas de diagnóstico molecular, através de sistemas microarray baseados na estrutura/componentes moleculares dos alergénios. O doseamento de triptase sérica poderá ser útil no diagnóstico de mastocitose, se persistentemente elevada. O gold standard para a confirmação diagnóstica é a prova de provocação com exercício precedida pela ingestão de um alimento, executada de forma duplamente cega e controlada com um placebo alimentar. Esta prova de provocação com exercício é efetuada de forma controlada, em ambiente hospitalar, podendo ocorrer com a prova de corrida em passadeira, na qual incrementos